DOI: http://dx.doi.org/ 10.22483/2177-5796.2017v19n3p591-605
Pesquisar o/no cotidiano na pesquisa social: reflexões sobre a noção de lugar,
território e redes de associação1
Mary Jane Paris Spink
Peter Kevin Spink
Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir a trajetória que leva da inserção do cotidiano como foco de pesquisa
às problematizações recentes sobre lugar e território. São abordados três momentos distintos de reflexão
acerca do cotidiano, trabalhados como “viradas” conceituais com implicações metodológicas. Iniciamos
abordando sucintamente a “virada para o mundo vivido” nas dpcadas de 1960-1980. A seguir, apontamos
para uma segunda virada que provém de discussões na geografia e na teoria social sobre “lugar” e, mais
tarde, sobre “território”, nas suas vertentes de “território vivido” e território de vivência”. Propomos que
estamos vivenciando uma terceira virada, que tem por foco redes heterogêneas e cadeias de associações
entre humanos e não humanos, decorrentes de aproximações com a Teoria Ator Rede e com a discussão
atual na geografia a respeito de multiterritorialidades. Finalizamos comentando a importância de se
repensarem as posturas de investigação quando localizamos a pesquisa no cotidiano.
Palavras-chave: Cotidiano. Lugar. Território. Redes de associação. Práticas discursivas.
Researching (in) everyday life in social research: reflections about the notion
of place, territories and networks of association.
Abstract: This paper discusses the path taken by social research on everyday life from its initial adoption to the
more recent problematization of place and territory. Three moments are discussed in which concern with
everyday research seems to
“turn” conceptually and also methodologically. It begins by briefly
remembering the first turn to the “lived in world” in the decades from 1960- 1980. It follows with a second
turn, stimulated by discussions in geography and social theory about place and, later, territory, especially in
relation to the territories of everyday living. It goes on to argue that there is currently a third turn in
progress, which has as its focus the everyday seen as heterogeneous networks and associations between
humans and non-humans, that result both from the arguments of Actor Network Theory and proposals in
geography about multi-territoriality. The paper finishes by discussing the importance of rethinking
approaches to investigations when research is carried out in/on everyday life.
Keywords: Everyday. Place. Territory. Networks of association. Discursive practices.
1 Versão reformulada da apresentação na Mesa Redonda sobre “Pesquisa na/com a Vida Cotidiana”, I Congresso
Internacional de Educação, Uniso, outubro de 2016.
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SPINK, Mary Jane Paris; SPINK, Peter Kevin. Pesquisar o/no cotidiano na pesquisa social: reflexões sobre a noção de
lugar, território e redes de associação.
Introdução
Estamos no campo 24 horas por dia, como propõe Peter Spink (2003), mas estamos no
cotidiano? Que cotidiano seria este? Há um local definido, ou o local deu lugar a uma rede de
associações que se conectam em distintos tempos e espaços? Estaríamos adentrando um novo
ciclo de propostas sobre pesquisa no cotidiano?
São estas questões que estimularam a escrita deste artigo, que agrega diversos de nossos
trabalhos anteriores e a experiência recente, desde 2013, com a Estação de Pesquisa Urbana
M’Boi, iniciativa do Fundo de Pesquisa Aplicada da Fundação Get~lio Vargas, que re~ne
pesquisadores de diferentes universidades e organizações de base comunitária em torno da
temática das vulnerabilidades urbanas (www.fgv.br/ceapg). M’Boi p um território vasto que
engloba dois distritos da Prefeitura Regional de mesmo nome, na zona sul do Município de São
Paulo. Juntos compreendem 60km2, onde habitam cerca de 650.000 pessoas - comparável à
população estimada de Sorocaba, o nono maior município paulista, embora sem equipamentos
equivalentes
- situados em uma zona de proteção ambiental: os mananciais da Represa
Guarapiranga. Há nesse território, pelo menos, 50 áreas classificadas pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas, IPT, como de risco, algumas com o mais alto grau: risco 4.
Iniciamos o artigo abordando resumidamente o que podemos chamar de primeira virada
para o cotidiano - a “virada para o mundo vivido” - que teve um impacto importante quanto à
pesquisa qualitativa na pesquisa social
(GOFFMAN, 1956/2006; GARFINKEL 1967; DE
CERTEAU 1996, entre muitos outros). Em seguida, apontamos para uma segunda virada que
provpm de discussões na geografia e na teoria social sobre
“lugar” e, mais tarde, sobre
“território”, nas suas vertentes de território vivido (SANTOS, 2005) e “territórios de vivência”
(KOGA; ALVES, 2010). Afinal, se somos nós que performamos o cotidiano, estas práticas não
ocorrem no ar, mas em lugares que constituem tambpm parte desse mesmo “fazer acontecer”.
Para aprofundar esta discussão, relatamos resumidamente um dos estudos de caso
abordados por Mary Jane Spink (2014) como parte da pesquisa acerca de moradias em áreas de
risco cujos múltiplos eixos, incluindo as dimensões de materialidades, apontam e dão suporte a
uma terceira virada. Esta nova virada tem por foco as redes heterogêneas e as cadeias de
associações entre humanos e não humanos decorrentes de aproximações com a Teoria Ator Rede
(LAW; HASSARD, 1999) e com a noção de versões que são performadas em locais distintos
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SPINK, Mary Jane Paris; SPINK, Peter Kevin. Pesquisar o/no cotidiano na pesquisa social: reflexões sobre a noção de
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(MOL, 2002). Destacaremos, nesse enquadre, as ligações com a discussão atual na geografia no
que se refere às multiterritorialidades (HAESBAERT, 2016).
Na parte final do artigo, comentamos a importância de se repensarem as posturas e
métodos de investigação, quando localizamos a pesquisa no cotidiano. Com esta finalidade,
descrevemos a experiência da Estação de Pesquisa Urbana M’Boi Mirim como uma alternativa às
modalidades de investigação mais ortodoxas que possam ser mais adequadas aos desafios da
terceira virada, que é a tratada neste artigo.
A virada para o mundo vivido
Hoje, é difícil imaginar uma discussão na pesquisa social que relegue o cotidiano
meramente ao terreno das rotinas diárias e, portanto, de pouca relevância diante dos grandes
eventos estruturantes e institucionais das sociedades contemporkneas. Mas a virada para “o
mundo real”, conforme a expressão usada na ppoca, somente teve início na segunda metade do
século XX e, com mais força, nas décadas de 1960-1980. Na Psicologia Social, por exemplo,
questionávamos o paradigma experimental com base em estudos laboratoriais, e a ênfase passou
a ser em pesquisas realizadas nos locais em que os fenômenos “de fato” ocorriam: nas ruas, nas
comunidades, nas feiras, nas fábricas, nas instituições de ensino, nos hospitais psiquiátricos, nas
prisões. Ou seja, pesquisar o cotidiano como lugar de vida, de competência e de ação. Algo
parecido ocorreu na América Latina, no rechaço ao que ficou chamado de psicologia social norte-
americana e no fortalecimento de modalidades de pesquisa participante nas comunidades
(MONTERO, 2006).
A “virada para o mundo vivido” não foi restrita à Psicologia Social e nem foi ela que teve
papel de liderança teórica. Muitos estudos importantes foram realizados por membros da Escola
de Chicago e provinham das discussões sobre interacionismo simbólico, em que se buscou
traduzir para as questões urbanas contemporâneas os métodos da nova antropologia. Autores
como Erving Goffman (1956/2006) e Harold Garfinkel (1967) foram chave nessa virada,
demonstrando que o cotidiano é repleto de conhecimentos, habilidades, estratégias e métodos,
influenciando outros teóricos, tais como Pierre Bourdieu (1994) e Anthony Giddens (1979). Na
Antropologia, os estudos de redes sociais foram cruciais para dar visibilidade a uma sociedade
em movimento (BOISSEVAIN, 1974) e destacar múltiplas linguagens do cotidiano (BLOCH,
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SPINK, Mary Jane Paris; SPINK, Peter Kevin. Pesquisar o/no cotidiano na pesquisa social: reflexões sobre a noção de
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1977). A despeito dos argumentos pioneiros de Antonio Gramsci (1978) sobre a competência
cotidiana (os intelectuais orgânicos), autores marxistas, como Agnes Heller (1972), e mesmo de
outras bases filosóficas, como Michel De Certeau
(1996), embora tenham reconhecido a
centralidade do cotidiano, tiveram dificuldade em conceder aos atores cotidianos algo mais do
que uma capacidade de reação tática. O importante aqui não é propor que esta ou aquela posição
seja a melhor, a mais correta ou favorável, mas de reconhecer que, tal como na virada linguística
(IBAÑEZ, 2004), o resultado desse burburinho de autores e estudos foi a concepção de um
cotidiano muito mais rico em variedade e em acontecimento, mais compatível com a discussão
acerca da sociedade vivida. Temos discutido diferentes dimensões desses processos em outros
textos, incluindo o ponto de vista metodológico (SPINK, 2007, 2016; SPINK, 2000, 2008).
Mas, afinal, o que p cotidiano? Talvez a melhor resposta seria perguntar “com que
cotidiano eu vou?” Se considerarmos a origem latina do termo, quot dies, o cotidiano é, ao
mesmo tempo, um dia e todos os dias. Engloba, assim, tanto o instantâneo como o duradouro, o
transformador e o repetitivo. Na busca de uma resposta inicial, podemos entender cotidiano como
aquilo que está dentro da gama normal de possibilidades. Rotinas são partes das possibilidades,
porém, ao contrário do que alguns continuam pensando, o cotidiano não é sinônimo de rotina.
Escovamos os dentes todas as manhãs, é uma rotina. Vamos trabalhar e dependemos de ônibus,
mas, às vezes, os ônibus estão em greve. Há dias em que chove bastante, e o córrego perto da
casa alaga e as ruas ficam intransitáveis. Há dias que fazemos coisas bem diferentes e, não raro,
coisas bem diferentes acontecem; ações e eventos que não são previsíveis, mas que estão na gama
de possibilidades e expectativas. Morando em São Paulo, em 2017, não esperamos ter que correr
para um abrigo por causa de um alerta de bombardeio. No entanto, ir dormir nas estações do
metrô de Londres (o Underground) fazia parte do cotidiano de muitas pessoas, durante a década
de 1940.
A virada para o lugar
Uma das questões cruciais na “virada para o mundo vivido” foi a noção de tempo. Talvez
não fosse esse o foco de teorizações para Erwin Goffman ou Harold Garfinkle, por estarem mais
preocupados com as interações cotidianas; mas certamente foi para os historiadores. Para a
história, refletir o cotidiano representou
“uma reformulação radical do ângulo de visão do
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lugar, território e redes de associação.
historiador comum [...] pela valorização da realidade ‘banal’, da história de todos e de cada um,
por oposição à grande História celebrativa dos grandes homens e dos grandes feitos”
(GUARINELLO, 2004, p. 23).
Uma das tentativas de abordar o cotidiano do ponto de vista da história foi feita por
Fernand Braudel (1992) - historiador das estruturas do cotidiano - embora tenha mantido a
separação clássica entre o tempo de longa duração da história e as condições de socialidade do
cotidiano. Entretanto, Norberto Guarinello considera possível superar a dicotomia entre essa
história de longa duração e o cotidiano “[...] se pensarmos cotidiano não como tipos específicos
de ação ou como uma dimensão particular, individualizada, das interações humanas, mas como
tempo plenamente histórico, no sentido de ser tanto o tempo do ‘acontecimento’ (no sentido
tradicional) quanto do ‘não acontecimento’” (p. 25).
Para Mary Jane Spink (2010/2004, p. 46-47), a presença do passado no presente foi
importante nas teorizações sobre práticas discursivas que integraram pelo menos três elementos
temporais: a noção Bakhtiniana de vozes e dialogia; os conteúdos das trocas discursivas - os
repertórios interpretativos - e a imbricação dos três tempos:
Tempo Longo: Domínio da construção social dos conteúdos culturais que formam os
discursos de uma dada época. Constitui o espaço dos conhecimentos produzidos e
reinterpretados por diferentes domínios do saber: religião, ciência, conhecimentos e
tradições do senso comum.
Tempo vivido: Tempo de ressignificação desses conteúdos históricos, a partir dos
processos de socialização. Tempo de vida de cada um de nós. Tempo da memória,
traduzida em afetos, no qual enraizamos nossas narrativas pessoais e identitárias.
Tempo curto: Tempo da interanimação dialógica e da dinâmica da produção de sentidos.
É nesse tempo que se presentificam as diferentes vozes, ativadas pela memória cultural
de tempo longo ou pela memória afetiva do tempo vivido.
O lugar é o encontro destes diferentes tempos, tanto em termos de suas materialidades
quanto de socialidades: tudo acontece em lugares. Pode-se dizer - de maneira muito simples -
que a virada para a pesquisa no lugar trouxe novas vertentes, cores e contextos para o cotidiano,
mediante a discussão de seus aspectos sociais, técnicos, físicos e humanistas. Tal como a virada
para o cotidiano, a virada para o lugar veio por meio de autores diversos - muitos provenienetes
da geografia - e de posições várias: marxista, estruturalista, quantitativa, qualitativa, humanista
ou objetivista
(para um resumo, ver HUBBARD; KITCHEN, 2011). Muito mais do que
simplesmente físico, o lugar é relacional e humano. Milton Santos, que liderou grande parte da
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discussão sobre lugar no Brasil (SANTOS, 2005), usou a noção de lugar como “território vivido”
que Dirce Koga adaptou para a discussão territorial da assistência social como “terrítórios de
vivência”, enfatizando a perspectiva de que:
o território se configura como um elemento relacional na dinâmica do cotidiano de vida
de populações. E o fato do território estar tão presente no cotidiano e na vida das pessoas
evidencia que a história não se faz fora do mesmo, mesmo porque não existe sociedade
a-espacial (KOGA; ALVES, 2010, p. 71).
Para a Psicologia Social, o lugar já estava presente nos trabalhos clássicos da psicologia
ecológica de Roger Barker e Herbert Wright, que pesquisa o dia a dia das crianças e jovens numa
cidade pequena do meio-oeste dos Estados Unidos por eles denominado de naturally occurring
behavior of ‘free-ranging persons’. Barker e Wright usavam a noção de milieu, expressão que
engloba as pessoas, as condições físicas e sociais e os eventos que fornecem o ambiente em que
alguém vive ou age; ou seja, o lugar em volta.
Fazemos compras em lojas, andamos de bicicleta nas ruas e calçadas e dançamos no
salão da Legião Americana; varremos usando vassouras, misturamos com colheres e
cortamos com facas. Quase nunca há mudança nesses acessórios; nunca andamos de
bicicleta no salão da Legião Americana, não dançamos nas lojas e não fazemos compras
nas ruas e calçadas. Não varremos com facas e nem misturamos com vassouras, ou
cortamos com colheres. Denominamos a constelação de lugar-coisa-tempo ao qual um
padrão de comportamento está associado de milieu não psicológico, ou simplesmente,
milieu (1971, p. 8).
A virada para o lugar e, consequentemente, para um olhar de médio alcance, trouxe para
os estudos sobre o cotidiano uma densidade de possibilidades e, em tempo, outras conexões. As
abordagens estruturalistas e/ou críticas posteriores complexificaram essa vertente do espaço
vivido, “lugares são portanto constituídos de múltiplas, entrecruzadas relações, sociais, políticas e
econômicas, que dão origem a uma profusão de espacialidades” (HUBBARD; KITCHIN, 2011,
p. 7). É o caso de John Urry (1995), que focaliza a maneira como o social, e sua expressão como
lugar, é composto por um incessante fluxo de pessoas e materiais, reconcebendo as relações
sociais como uma montagem densa de mobilidades. Decorre daí a abordagem da geografia
relacional.
Há também tendências recentes que provêm de autores que buscam explorar a relação
entre o local e o espaço (ou o global), seguindo, entre outras, as reflexões de Manuel Castells
(sociedade em rede) (1996), Marc Augé (não lugares) (1995) e Zigmund Bauman (lugares sem
lugar) (1998). É também aqui que podemos situar as contribuições da Teoria Ator-Rede, que
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discutiremos mais adiante, como uma terceira virada associada à multiterritorialidade. Para
ilustrar sua relevância, apresentamos uma breve síntese de um de nossos estudos de caso em
M’Boi Mirim.
Remoções no Jardim Capela
O Jardim Capela está localizado no Jardim Ângela, periferia sul do Município de São
Paulo. Em abril de 2012, a Secretaria Municipal de Habitação, SEHAB, iniciou a terceira fase do
Programa Mananciais que inclui 61 áreas de intervenção em 8 distritos do município; 28 destas
áreas estão localizadas no Jardim Ângela, incluindo aí o Jardim Capela. Com este intuito, em
2013, houve a remoção de moradias localizadas precariamente à beira de um pequeno córrego. É
um córrego sem nome, ocupado, como tantos outros na região dos mananciais da represa
Guarapiranga, de forma desordenada. É um lugar passível de ser identificado no Google Map ou
nas fotos aéreas tiradas nos sobrevoos que a Prefeitura Regional tem que fazer de modo a
monitorar a ocupação de áreas de risco ou de áreas de preservação ambiental. Neste brevíssimo
relato, três lógicas administrativas se fazem presentes.
Uma primeira lógica: a questão das áreas de risco obedece aos dispositivos da Lei 12.608
que instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. Decorre dela a obrigação de zelar
para que o risco de desabamento e inundação fique sob controle das autoridades regionais. Essa
lógica leva à óbvia necessidade de remoção de moradias situadas em locais que análises técnicas
indicam serem áreas de risco. Remoções, ainda segundo esta lei, seriam compensadas
financeiramente ou por meio de realocação dos moradores. Entra em cena, assim, a Secretaria
Municipal de Assistência Social, responsável por cadastrar os moradores para eventual obtenção
de moradia social. Mas entram em cena, também, defensores públicos que respondem à demanda
da população quanto ao respeito aos seus direitos de posse.
A segunda lógica decorre da necessidade de preservação ambiental, sobretudo em uma
região de mananciais relevante para o suprimento de água para a represa que abastece cerca de
quatro milhões de pessoas residentes na zona Sudoeste da capital paulista, incluindo as regiões de
Santo Amaro, Morumbi, Pinheiros e Butantã. O processo de ocupação desordenada das periferias
do Município de São Paulo (assim como de outras cidades do País) resultou na ocupação das
Zonas Especiais de Proteção Ambiental (ZEPAM) definidas nos planos diretores municipais.
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Obviamente, muitas dessas ocupações ocorreram por meio de loteamentos que antecedem esses
Planos Diretores. É aqui que se insere o cronograma de intervenções associadas ao Programa
Mananciais. Trata-se de intervenções que demandam obras de vários tipos, como criação de
parques lineares e projetos de urbanização, que implicam frequentemente em remoções como as
que estavam ocorrendo no Jardim Capela.
A terceira lógica está associada aos vários projetos de urbanização das regiões periféricas,
principalmente quanto às chamadas “moradias subnormais”, decorrentes de projetos da secretaria
Municipal de Habitação. São justamente aquelas moradias que estão localizadas em áreas de
risco, à beira de córregos ou em áreas de preservação invadidas. Busca-se, nesta lógica, trabalhar
a partir do pressuposto de que algumas destas áreas já estão consolidadas, e aplica-se uma espécie
de estratpgia de “redução de riscos”. Porpm, em muitos casos, essa lógica está igualmente
informada por melhorias urbanas de grande porte, como ampliação de avenidas, instalação de
corredores de ônibus ou mesmo de linhas de metrô. Mais uma vez, nos deparamos com a
necessidade de remoções.
Em todos os casos, a experiência local daqueles afetados pelas remoções é abafada pela
complexidade da rede heterogênea de atores que estão aí presentes. Basta mencionar as diversas
secretarias de governo cujas ações pouco coordenadas se fazem presentes no local das remoções
e somar a estas as outras instâncias, como o Ministério Público, a Defensoria, as ONGs que
atuam na defesa dos direitos da população. Em suma, as remoções, em casos como as do Jardim
Capela, estão sendo performadas simultaneamente em vários locais. No próximo item,
discutiremos isso em termos de multiterritorialidade.
A virada para as redes de associações: versões, redes heterogêneas e multiterritorialidade
Todas as ações referidas (ou inações) resultam de decisões e debates que ocorrem em
outros lugares: em departamentos de secretarias estaduais e municipais; no judiciário, em
organizações internacionais, como o Banco de Desenvolvimento. Cada local produz suas versões
sobre o córrego do Jardim Capela e as ações cabíveis.
A noção de versão é de difícil compreensão, pois se situa na interface de posicionamentos
epistemológicos bastante distintos. De um lado, concerne à pluralidade de versões de atores
humanos, postura que Annemarie Mol (1999) denomina de perspectivismo. Trata-se de uma
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lugar, território e redes de associação.
postura realista que parte do pressuposto de que a realidade é singular, apenas vista a partir de
distintas perspectivas. Porém, em uma postura ontológica não realista, as versões remetem à
multiplicidade de práticas, cada qual performando uma realidade distinta. Se há uma
multiplicidade de práticas, conclui-se, então, que há uma multiplicidade de realidades, e a questão
passa a ser compreender como essas diferentes realidades se conectam. Por exemplo, no hospital
onde Annemarie Mol desenvolveu sua pesquisa, a arteriosclerose era performada de modos
distintos na clínica, no departamento de patologia, no centro cirúrgico. Em cada local, as práticas
envolviam uma diversidade de actantes, humanos e não humanos: pacientes, instrumentos,
exames por imagens, dados epidemiológicos, preenchimento de formulários, e daí por diante
(MOL, 2002).
Contudo, essas versões estão conectadas de alguma maneira, pois as diversas práticas que
as performam estão inseridas em redes heterogêneas de entes humanos e não humanos. Rede,
como indica a denominação sob a qual se abrigam teóricos que compartilham algumas dessas
posturas, é uma noção central na Teoria Ator-Rede.
O termo “rede” tem significados diversos: (a) redes tecnológicas (como eletricidade e
água) onde a circulação entre nodos é tornada compulsória, por meio de caminhos rigorosos que
dão a certos nodos um caráter estratégico; (b) redes sociais, referidas às relações sociais de atores
humanos (sua distribuição, proximidade, homogeneidade). Para a Teoria Ator-Rede, a noção de
rede é mais próxima à de rizoma, na acepção de Deleuze e Guattari (1995): ao invés de pensar em
superfícies (bidimensionais) ou esferas (tridimensionais) propõe-se refletir em termos de nódulos
que podem ter tantas dimensões quanto são suas conexões. Ou seja, são definidos por sua
característica fibrosa, aramada, capilar, mais do que em termos de níveis, camadas, territórios,
estruturas ou sistemas. Desfazem-se, assim, certas dicotomias típicas de “redes”: longe/perto;
escala grande ou pequena; dento/fora. O que resta são conexões - articulações entre elementos
híbridos.
Essa capilaridade possibilita fazermos uma nova aproximação coma a geografia, desta vez
não mais com noções de espaço e lugar, mas com territórios. Cabe aqui a distinção feita por
Rogerio Haesbaert
(2016), ao tratar de territórios-zona e territórios-rede. Na lógica zonal,
permanecem critérios definidores tradicionais, sejam eles estruturais, como as fronteiras, ou
vivenciais, como propõe a geografia relacional. A noção de lugar permanece, portanto, relevante.
Contudo, os fluxos de mobilidade, intracidade e mundo afora, decorrentes das novas
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lugar, território e redes de associação.
configurações do capital globalizado, dos processos políticos extraterritoriais e das conexões
propiciadas pelas novas tecnologias de comunicação, nos situam, simultaneamente, em múltiplos
territórios. Ou seja, vivenciamos a articulação entre múltiplos territórios, cada qual com suas
versões (no sentido de multiplicidade de práticas que as performam), alguns caracterizados como
territórios-rede, outros como territórios-zona. Redes que precisam ser pensadas para além das
redes heterogêneas da TAR, uma vez que seus tentáculos extrapolam fronteiras nacionais; são,
pois, desterritorializadas.
Em suma, lugar, nessa terceira virada, é uma noção fluida. É uma malha de localidades
conectadas de forma também fluida, cada qual com sua versão sobre aquele pequeno córrego que
nos serviu como disparador para propor esta terceira virada nas pesquisas no cotidiano. Nas
palavras de Bruno Latour (2005, p. 194): “O que foi designado com o termo “interações locais” p
a montagem de todas as demais interações locais distribuídas em outros lugares no tempo e
espaço, que foram trazidas para a cena por meio de cadeias de vários atores não humanos”.
Uma palavra (quase) final sobre as posturas e métodos de investigação
A noção fluida de uma malha de localidades requer repensar muitos aspectos do urbano,
tanto em termos de conceitos, quanto em relação às práticas de investigação. Por exemplo, se
tudo são lugares, desfaz-se a imagem da relação entre escala, hierarquia e poder à semelhança de
uma matriosca onde o micro faz parte do pequeno, que faz parte do médio, e assim por diante.
Conforme comenta Latour:
Se você se der a tarefa de seguir práticas, objetos e envolvimentos, você nunca voltará a
cruzar aquele abrupto limiar que, segundo teorias anteriores, emergeria entre o nível das
interações
“face a face” e aquele da estrutura social; entre o “micro”e o “macro”.
Mundos sociais permancem planos em todos os pontos [...]. Por exemplo, a sala de
controle do tráfego de ônibus em Paris rege de fato a multiplicidade de ônibus, mas não
saberia como constituir uma estrutura “acima”das interações entre motoristas de ônibus.
É adicionada a essas interações. A antiga diferenciação entre níveis decorre somente de
ignorar as conexões materiais que possibilitam que um lugar esteja conectado a outros e
de acreditar apenas nas interações face a face (1996, p. 240).
Traduzindo para nosso território de inserções em M’Boi, não há razão para presumir que
coordenações setoriais são elementos intermediários entre a cidade “centralizada” dos gabinetes e
a cidade “descentralizada” das periferias. Há mapas pendurados nas paredes e nos computadores
desses diferentes lugares que apoiam olhares que podem se imaginar em níveis distintos. Há
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lugar, território e redes de associação.
também planos e documentos, os assim chamados instrumentos de ordenamento territorial, que
organizam os olhares do geral para o específico; porque o plano geral, “estruturante”, p sempre
feito antes dos planos específicos.
Quase sempre essas “escalas”, em vez de ajudar a identificação de diversas localidades
que se conectam diretamente ou via outros actantes (o portal de informações gerais da Prefeitura
do Município de São Paulo, o prédio da Subprefeitura, agora chamada de Prefeitura Regional, de
M’Boi, onde fica a sala de comunicações da Defesa Civil), acabam sendo separadoras verticais,
como se fossem andares de uma pirâmide onde cada andar controla seu vizinho inferior e, por sua
vez, é controlado pelo vizinho superior. Mas, pode-se perguntar qual é a lógica de escala, quais
suas consequências para a visibilidade e invisibilidade dos lugares (para uma discussão sobre
uma geografia sem escalas ver Marston, Jones e Woodward, 2005).
Como acadêmicos, somos também partes desses lugares diferentes, conectados
fluidamente por humanos e não humanos. Portanto, não causa surpresa descobrir que a maneira
como se discute e pesquisa o cotidiano também faz parte dessas versões anteriores de hierarquia,
escala e poder. Afinal, falamos de políticas p~blicas produzidas por autoridades “centrais”,
apoiadas por especialistas de gabinete, que serão implementados por “coordenações territoriais”;
e há sempre um reconhecimento da importkncia dos servidores p~blicos da “linha da frente” que
- estes sim - estão em contato com o cotidiano. Nós também, para usar o argumento de James
Scott (1998), estamos acostumados a olhar, como faz o Estado, do geral para o específico, como
se fosse uma cascata de escalas. Como pesquisadores, solicitamos autorização para conversar
com servidores, visitamos instalações “no campo”, que são diferentes de reuniões na sede da
Prefeitura ou de uma Secretaria. Assim, nós também ajudamos a consolidar versões de
institucionalidade e seus diferentes pedaços de organização, que, muitas vezes, são partes do
problema, mais do que a solução.
O trabalho do que hoje chamamos de Estação de Pesquisa Urbana M’Boi, começou
quando um pequeno grupo de pesquisadores do Centro de Estudos em Administração Pública e
Governo da FGV/SP e do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Práticas Discursivas no Cotidiano:
Direitos, Riscos e Saúde da PUC/SP, decidiram localizar suas investigações na mesma base
territorial. Eram pesquisas sobre coordenação intersetorial, sobre juventude e sobre moradias em
áreas de risco. O grupo da FGV já havia tido contatos na região, alguns anos antes, ao ajudar uma
organização de defesa de direitos, na busca de informações sobre o Programa Mananciais e os
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lugar, território e redes de associação.
recursos destinados ao fortalecimento da comunidade. Trabalhar no mesmo lugar permitiu
compartilhar informações e reativar contatos, mas também buscar ser útil em relação às questões
de base territorial. No início, retomamos contatos e chegamos ao Fórum em Defesa da Vida, que
acontece sempre pela manhã, na primeira sexta-feira do mês, no salão da Paróquia dos Santos
Mártires, no Jardim Ângela. O Fórum é um encontro suprapartidário, inter-religioso e
democrático que agrega pessoas e membros de organizações, movimentos, coletivos e
comunidades de base territorial, criado em 1996, quando o Jardim Ângela foi considerado pelo
ONU como o lugar mais perigoso do mundo (120 homicídios por 100.000 habitantes).
Em cada reunião do Fórum, o início é o mesmo. Cada um se apresenta do jeito que quer e,
no intervalo, há muita conversa. Foi assim que conhecemos missionárias que trabalham com
comunidades em áreas de risco e líderes comunitários que fizeram questão de dizer que nós
éramos bem-vindos, porque era muito importante falar sobre as dificuldades da região e tornar
mais visíveis as demandas. Contudo, “por favor, não façam como outros pesquisadores que
vieram para cá, fizeram seus estudos e foram embora e, em muitos casos, nem sequer tivemos
notícia dos resultados”. Continuamos participando do Fórum; ajudamos quando solicitados,
fornecendo dados e informações; agregamos mais pesquisadores, incluindo jovens da região, e
identificamos mais de
40 trabalhos sobre o Jardim São Luís, o Jardim Ângela e regiões
adjacentes que fazem parte agora de uma biblioteca virtual aberta, apoiada pela FGV, onde
podem ser encontradas todas as informações coletadas sobre a região: nossos trabalhos em
progresso, mapas, relatórios oficiais, teses de doutorado, de mestrado e trabalhos de conclusão de
curso. Atualmente, fazem parte da Estação de Pesquisa sete programas e projetos de pesquisa,
muito diferentes entre si, mas, em seu conjunto, apontam talvez para a importância ética,
metodológica e teórica desta localização no mesmo território de investigações distintas. Os temas
em estudo nos projetos principais são: conectividade de serviços com ênfase nas pessoas com
deficiência; economia da cultura; microfinanças; agricultura urbana; moradia digna; moradias em
áreas de risco; ações públicas culturais e socioeducativas, e mobilidade de mulheres.
A academia está acostumada a elaborar - e avaliar - programas de pesquisa, com base em
um objetivo geral, posteriormente desdobrado em projetos e subprojetos, todos articulados
coerentemente em termos acadêmicos. No nosso caso, dá-se o inverso: a coerência é territorial.
São pedaços de questões do lugar, com suas socialidades e materialidades. Cada um se conecta -
para retornar à imagem do rizoma - a um ou a outro nódulo e faz outras conexões. Sim, algumas
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vezes fazemos entrevistas com consentimento informado e hora marcada, mas, em outras
oportunidades, conversamos em fóruns, encontros, debates, na hora do café, ao andar na rua ou
em reuniões com coletivos. Ocasionalmente, a possibilidade de seguir certas questões “cai no
colo”, porque um de nós está num evento e um assunto aparece, ou acontece algo que rompe com
o esperado. O ritmo de trabalho é mais lento quando se pesquisa o/no cotidiano, pois é mais
complicado. Não é o programa de pesquisa que impõe o ritmo, é o lugar; ou melhor, a malha de
lugares e suas múltiplas conexões.
Em São Paulo, a gestão municipal discute retirar o cobrador dos ônibus. Afinal, quase todo mundo usa o
bilhete único de plástico recarregável e há leitura eletrônica nas catracas. Esta é uma discussão que
parte do lugar da Secretaria de Finanças, na área de custos, ou de licitação, ou de outro lugar,
provavelmente de um gabinete de assessores do prefeito, ou ainda, de conversas em bares e mesas de
jantar, até mesmo com usuários de ônibus de linhas mais centrais, em corredores elegantes, durante a
parte do dia mais calma. Conversas que versam sobre a irrelevância do cobrador. E há também bases de
dados em computadores, calculadores, planilhas e, provavelmente, mapas. Em M’Boi, nas discussões no
intervalo das reuniões, nas conversas eventuais, nas reuniões de grupo com mulheres sobre mobilidade e
entre alunas de faculdades - inclusive na FGV - a conversa é outra. O cobrador dá segurança; à noite,
as mulheres ficam perto do cobrador para evitar assédio; o cobrador sabe quando descer para chegar a
um lugar que você busca pela primeira vez e qual ônibus deverá tomar depois; o cobrador é bom para
conversar; dizer bom-dia, pedir para descer pela porta da frente (antes da catraca); deixar pessoas sem
recursos entrarem pela porta traseira onde há mais espaço - afinal, ajuda a negociar mil e um pequenos
aspectos do cotidiano, incluindo auxiliar pessoas com menos mobilidade, aquelas com sacolas de
compras ou com crianças, além de movimentar a catraca. Aliás, é impossível falar sobre o ônibus
paulista sem falar deste actante central - a catraca (Notas do caderno de PKS).
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Mary Jane Paris Spink - Pontifícia Universidade Católica de São
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Peter Kevin Spink - Escola de Administração de Empresas de São
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peter.spink@fgv.br
Artigo recebido em: 14 set. 2017 e
aprovado em: 20 out. 2017.
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