Artigo
Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto
quer parecer
Research in Education and training by research: nothing is as simple as it wants to look
Investigación en educación y formación por investigación: nada es tan simple como parece
Luiz Percival Leme Britto - Universidade Federal do Oeste do Pará | Instituto de Ciências da Educação - ICED |
Santarém | PA | Brasil. E-mail: luizpercival@hotmail.com
Resumo: O artigo, de caráter ensaístico, examina as exigências da pesquisa em Educação e suas dimensões da for-
mação pela pesquisa. Explora, especialmente, aspectos da pesquisa em educação que têm se mostrado par-
ticularmente afetados por uma tendência epistemológica subjetivista, presa ao empirismo, ao relativismo e
ao pragmatismo. Destaca quatro aspectos fulcrais no desenvolvimento da pesquisa - o problema de pes-
quisa; seu corpo teórico; o estado da questão; e as decisões metodológicas -, identificando fragilidades e
suas causas prováveis. Conclui reafirmando a necessidade de pesquisa orgânica, de caráter sistemático e
integrado em oposição às perspectivas dispersivas fortemente enviesadas pelo senso comum.
Palavras-chave: Educação. Pesquisa. Formação.
Abstract: This essay examines the demands of research in Education and its formative dimensions through research.
It especially explores aspects of education research that have been particularly affected by an subjectivist
epistemological perspective, tied to empiricism, relativism and pragmatism. It highlights four nuclear as-
pects in research development: the research problem itself; its theoretical body; the state of the issue; and
the methodological decisions -, identifying weaknesses and their probable causes. We conclude reaffirm-
ing the need for systematic and integrated organic research, as opposed to the dispersive perspectives,
strongly skewed by common sense.
Keywords: Education. Research. Training.
Resumen: Este ensayo examina los requisitos de investigación en educación y sus dimensiones de formación por la
investigación. Explora, especialmente, aspectos de la investigación en educación que han sido particular-
mente afectados por una tendencia epistemológica subjetivista, vinculada al empirismo, al relativismo y al
pragmatismo. Destaca cuatro aspectos claves en el desarrollo de la investigación - el problema de investi-
gación; su cuerpo teórico; el estado de la cuestión; y las decisiones metodológicas-, identificando debili-
dades y sus causas probables. Concluye reafirmando la necesidad de una investigación orgánica de carác-
ter sistemático e integrado en lugar de las perspectivas dispersivas fuertemente sesgadas por el sentido
común.
Palabras clave: educación. Investigación. Formación.
• Recebido em 16 de outubro de 2019 • Aprovado em 16 de outubro 2019 • e-ISSN: 2177-5796
DOI: http://dx.doi.org/10.22483/2177-5796.2019v21n3p807-827
Copyright @ 2019. Conteúdo de acesso aberto, distribuído sob os termos da Licença Internaonal da CreativeCommons - CC BY-NC-SA - Atri-
buição Não Comercial (https://br.creativecommons.org/licencas/) - Permite distribuição e reprodução, desde que atribuam os devido créditos à
publicação, ao autor(es) e que licenciem as novas criações sob termos idênticos.
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
1 Introdução
A Educação Superior, de um modo geral, e a pós-graduação em especial, tem como fun-
damento investir nas capacidades e conhecimentos dos campos de saber e na formação pessoal. A
formação pela pesquisa supõe relação com o conhecimento, atual e potencial, que ultrapasse o
pragmático e as demandas imediatas, implicando dinâmica formativa que se espraia para além do
objeto sobre o qual incide. No caso da pós-graduação estrito senso, isso é ainda mais categórico,
razão por que a atividade de pesquisa é compreendida como integrante da pós-graduação.
Este artigo retoma tema que vem sendo tratado há pelo menos 40 anos no cenário da pós-
graduação em Educação no Brasil e que prevalece tenso e necessário: quais seriam as exigências
e as balizas para a formação e para a pesquisa pela neste campo de conhecimento? Explora aspec-
tos da pesquisa em educação que têm se mostrado particularmente afetados por uma perspectiva
dispersiva e de senso comum de educação e de pesquisa, presa ao empirismo, ao relativismo e ao
pragmatismo, quando não limitada à reprodução de protocolos genéricos. Como tese de fundo,
assume que a formação, assim como a atividade de pesquisa que a permite, exige compreensão
objetiva do que significa produzir conhecimento em Educação e inequívoco compromisso políti-
co-epistemológico.
2 Problemas com a pesquisa em educação
O debate sistemático em torno da pesquisa em Educação e da formação por meio dela re-
monta aos anos de 1970, quando se adensa a pós-graduação no Brasil, correspondendo ao que
Sánchez Gamboa (2007), dando continuidade à análise de Gouveia (1971), que observara a exis-
tência de três períodos de organização da pesquisa em Educação no Brasil, identificou como sen-
do um quarto período, quando se buscava estabelecer as bases de realização sistemática de estu-
dos em educação, o que, por sua vez, demandava alcançar suficiente consenso do que seria pro-
priamente pesquisa em educação e fixar balizas que permitissem definir a "boa" e a "má" pesqui-
sa - questão difícil, que permanece em aberto (ANDRÉ, 2007).
Já bem antes, porém, em 1957, Anísio Teixeira, em artigo seminal sobre ciência e educa-
ção, chama a atenção para o fato de que, “uma ‘ciência da educação’, no sentido restrito do
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
808
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
termo, como ciência autônoma, não existe nem poderá existir” (TEIXEIRA, 1957). A Educação
se inclui nas “artes”, isto p, práticas que aplicam o conhecimento:
A educação não é uma ciência autônoma, pois não existe um conhecimento autônomo de
educação, mas é autônoma ela própria, como autônomas são as artes e, sobretudo, as be-
las-artes, uma delas podendo ser, ouso dizer e mesmo pretender - a educação. [...] A
"prática" é um sistema concreto e limitado, em que aqueles conhecimentos se aplicam
com as modificações, alterações e transformações necessárias à sua adaptação à situação.
Por isto mesmo, não produz a ciência, não produz o conhecimento científico, por si
mesmo, uma regra de arte, ou seja, uma regra de prática (TEIXEIRA, 1957)1.
Tal entendimento, para esse educador, não diminuía a Educação nem lhe eximia da exi-
gência de rigor e densidade em seus estudos e nas proposições de que-fazer nem da necessidade
de considerar a ciência que se faz com base nela e a aplicação de seus achados científicos. Mais
ainda, entendendo a atividade reflexiva e sistemática como ciência em sentido lato, observa que
o método geral de ação de uns e outros [cientistas e educadores] será o mesmo, isto é, o
"método científico" e, nesse sentido, é que todos se podem considerar homens de ciên-
cia. O educador, com efeito, estudando e resolvendo os problemas da prática educacio-
nal, obedecerá às regras do método científico, do mesmo modo que o médico resolve,
com disciplina científica, os problemas práticos da medicina: observando com inteligên-
cia e precisão, registrando essas observações, descrevendo os procedimentos seguidos e
os resultados obtidos, para que possam ser apreciados por outrem e repetidos, confirma-
dos ou negados, de modo que a sua própria prática da medicina se faça também pesquisa
e os resultados se acumulem e multipliquem (TEIXEIRA, 1957).
O alerta de Anísio Teixeira perdeu-se, não sem problemas, nos desdobramentos epistemo-
lógicos e teórico-metodológicos que advieram nas décadas subsequentes, especialmente em fun-
ção do alargamento do conceito de ciência e da emergência de paradigmas que valorizavam a
chamada pesquisa qualitativa e legitimavam modelos de estudo e investigação voltados para os
casos particulares e experiências pessoais, culminando em significativa dispersão temática
(SÁNCHEZ GAMBOA, 2007; ANDRÉ, 2007).
Particularmente relevante no desenvolvimento da pesquisa em Educação no Brasil foi o
estabelecimento, nos anos de 1980, do que se convencionou chamar de pesquisa qualitativa, per-
cebida como abordagem de “visão holística dos fenômenos”, que considera “todos os componen-
tes de uma situação em suas interações e influências recíprocas” (ANDRÉ; GATTI, 2014, p. 2).
Tais pesquisas:
1 A versão consultada encontra-se disponível no formato HTML em http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/
ciencia.html.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
809
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
vieram a se constituir em uma modalidade investigativa que se consolidou para respon-
der ao desafio da compreensão dos aspectos formadores/formantes do humano, de suas
relações e construções culturais, em suas dimensões grupais, comunitárias ou pessoais.
[...] Encontram-se, assim, nos fundamentos da abordagem qualitativa os princípios da
fenomenologia, que se desdobra em várias correntes: o interacionismo simbólico, a et-
nometodologia, os estudos culturais e a etnografia. Em todas essas correntes é dada es-
pecial atenção ao mundo do sujeito e aos significados por ele atribuídos às suas experi-
ências cotidianas, às interações sociais que possibilitam compreender e interpretar a rea-
lidade, aos conhecimentos tácitos e às práticas cotidianas que forjam as condutas dos a-
tores sociais (ANDRÉ; GATTI, 2014, p. 3-4).
Tal abertura de temas, aproximações conceituais e desenhos investigativos, equivocada-
mente entendida como questão metodológica (os “mptodos qualitativos”), parece ter contribuído
(ainda que não seja a causa única) com o esgarçamento do conceito de pesquisa em educação e a
valorização de vieses em que prevalecem o senso-comum e o primarismo teórico, quando não
uma tendência ao formalismo aparente, em que interessa parecer conforme a partir de cumpri-
mento de tarefas.
Numa mirada bastante simpática a esse movimento, ainda que com visão crítica, André
(2005) considera que essas novas modalidades de investigação, articuladas js “abordagens críti-
cas” suscitavam o questionamento dos instrumentais teórico-metodológicos e dos parâmetros
para julgamento da qualidade do trabalho científico e, extrapolando o campo da educação, enco-
rajavam o diálogo entre especialistas de diferentes áreas, com diferentes bagagens de experiência
e diferentes graus de inserção na prática profissional.
Contudo, em trabalho em que avalia a pesquisa em educação nos programas de pós-
graduação nos anos de 1980, Mirian Warde tem percepção bastante negativa da dinâmica de pes-
quisa que se constituía naquela época e que permanece nos dias atuais:
Estamos ampliando tanto o conceito de pesquisa que nele tudo cabe. Parecem-me duvi-
dosos os argumentos que confundem razões políticas, epistemológicas e psicológicas pa-
ra justificarem a abertura do conceito a ponto de permitir que nele caibam os folclores,
os sensos-comuns, os relatos de experiência (de preferência a própria), para não compu-
tar os desabafos emocionais e os cabotinismos (WARDE, 1990, p. 70).
Chama a atenção nesta observação a forte recusa à aproximação da pesquisa à ideia de
que, em ciências humanas, qualquer assunto pode ser de interesse científico. Alves-Mazzotti
(2006), no mesmo diapasão, duas décadas mais tarde, refaz a mesma advertência, chamando a
atenção para o problema de ‘estudos de caso’, que, por se não se situarem na discussão acadêmi-
ca ampla, limitam-se ao recorte da própria pesquisa, não possibilitando a aplicação de suas con-
clusões a outros contextos, pouco contribuindo com o avanço do conhecimento (inclusive, consi-
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
810
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
derando em sua análise o artigo de Warde, o qual, aliás, tem sido repetidamente referido em estu-
dos sobre pesquisa em educação). Para a pesquisadora, há que considerar, no trabalho de pesqui-
sa, as condições de produção e validação de conhecimento científico pela comunidade acadêmi-
ca, o que implica rigor metodológico, familiaridade com o estado do conhecimento, clareza do
discurso, interlocução contínua entre pesquisadores e divulgação da produção científica.
Sánchez Gamboa (2007), por sua vez, ao tratar de problemas de se manifestam na prática
da pesquisa em Educação, em artigo contemporâneo ao já referido trabalho de Alves-Mazzotti,
apontava dois focos de tensão: de um lado, verifica-se o predomínio do “colonialismo epistemo-
lógico”, entendido como submissão da Educação a outras áreas do conhecimento; de outro, es-
praia-se o “pragmatismo”.
O primeiro dizia respeito à forte presença de outras disciplinas de conhecimento na Edu-
cação (Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia), numa dinâmica em que,
na busca de um estatuto próprio, [a Educação] recebe o socorro dessas ciências, sofrendo
as flutuações do denominado “colonialismo epistemológico” dessas “ciências-mães”.
[...] Elas expressam o circuito simples dos saberes científicos, organizados em discipli-
nas que tomam como ponto de partida e ponto de chegada, as teorias sociológicas, psico-
lógicas, administrativas, e não a Educação, que funciona como campo de passagem ou
faz o papel de pretexto (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007, p. 10).
O segundo resultava do desenvolvimento de pesquisas ancoradas nos estudos da prática,
admitida como
ponto de partida e de chegada, e a teoria perde importância (ponto de passagem) quando
tomada apenas como um arrazoado de justificativas da prática. Aparecem os levanta-
mentos “surveys”, estudos de caso, “os olhares para a prática”. Ou na forma contempo-
rânea do neopragmatismo, quando a prática ganha destaque, mas sem considerar a medi-
ação da teoria (recuo da teoria), e se manifesta em estratpgias como a do “professor re-
flexivo” e as “aventuras dos mptodos” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2007, p. 11).
Em trabalho já desta década sobre o problema da cientificidade da educação, Gildemarks
Costa Silva (2011), repercutindo as observações de André (2005) entende que o campo pedagó-
gico experimentou extraordinário desenvolvimento, com expressiva expansão quantitativa das
investigações, no tocante tanto aos modelos conceituais como aos modos de trabalho, com a
emergência de “novos mptodos e paradigmas”. Prevalece-se, contudo, a relação imprecisa, muitas
vezes de submissão, com as diferentes áreas de áreas do conhecimento e um forte viés aplicado.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
811
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
O que se observa é que, no atual nível de tecnicidade, a ideia de uma ciência aplicada,
implicando nisso posicionar a educação como arte, e os educadores como os aplicadores
de conhecimentos das ciências-fonte, aproximando-os da condição de técnico, talvez se
corra o risco de, em vez de desenvolver os estudos da educação, corrompê-los cada vez
mais e, assim, deixar a educação, mais uma vez, refém dos interesses político-
ideológicos e dos modismos, justamente alguns dos problemas fundamentais da episte-
mologia da pedagogia que Anísio Teixeira intentava combater (SILVA, 2011, p. 335).
A solução, na perspectiva desse autor, estaria em buscar clareza epistemológica do campo
pedagógico, incluindo-se a formação de cultura geral científica para os educadores. Ademais, o
estatuto epistemológico da educação implica reconhecer que: 1 há um fenômeno (ou processo) ao
qual se dá o nome de educação; 2 o processo é eminentemente humano, requerendo intervenção
consciente dos agentes humanos, que agem em função de certos objetivos; e 3 as teorizações com
que se quer compreender e intervir no processo educativo devem ser de natureza científica (SIL-
VA, 2011). Tal perspectiva tem guarida na percepção de Saviani (1990, p. 8) sobre a forma de
perceber e pensar a Educação.
Quando a reflexão filosófica se volta deliberada, metódica e sistematicamente para a
questão educacional, explicitando os seus fundamentos e elaborando as suas diversas
dimensões num todo articulado, a concepção de mundo se manifesta, aí, na forma de
uma concepção filosófica de educação. Considerando que as diversas concepções de fi-
losofia da educação constituem diferentes maneiras de articular os pressupostos filosófi-
cos com a teoria da educação e a prática pedagógica, o estudo crítico dessas concepções
constitui um componente essencial da formação do educador.
Com efeito, através desse estudo o educador irá compreender com maior clareza a razão
da existência de teorias da educação contrastantes e de práticas pedagógicas que se con-
trapõem. E, contrariamente à opinião corrente que tende a autonomizar a prática da teo-
ria e vice-versa, entenderá que a prática pedagógica é sempre tributária de determinada
teoria que, por sua vez, pressupõe determinada concepção filosófica ainda que em gran-
de parte dos casos essa relação não esteja explicitada.
O fato é que, não obstante as repetidas constatações do que ocorria e das admoestações
sobre seus efeitos, bem como as muitas e diversificadas proposições de ajustes e correções, prati-
camente vinte anos depois dessas considerações, a pesquisa e a formação em educação - na gra-
duação e na pós-graduação - permanecem reféns dos mesmos problemas, talvez de forma ainda
mais intensa, com enormes dificuldades no posicionamento científico, na relação com as demais
ciências e na proposição e no desenvolvimento da pesquisa e da formação pela pesquisa.
Vejamos mais de perto quatro deles, constitutivos do processo investigativo: o problema
de pesquisa; o corpo conceitual (referencial teórico); o estado da questão (revisão bibliográfica);
e a produção e análise de dados (metodologia).
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
812
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
2.1 O problema de pesquisa
Pode-se dizer que se tem como consensual que o primeiro movimento de uma pesquisa é
a definição do problema de investigação. Sánchez Gamboa (2003) ensina que o cerne de qualquer
pesquisa - seu ponto de partida e de chegada - é a formulação apropriada do problema. Trata-se,
assim, de encontrar, na área de conhecimento e do tema com que se pretende trabalhar, dentro de
um campo conceitual e epistemológico consistente, um aspecto circunscrito, científica e politi-
camente interessante e passível de investigação nas condições em que se encontra o pesquisador
-, isto é, algo que apresente resultado pertinente e que possa ser efetivamente desenvolvido.
Isso, contudo, só tem como ocorrer se o que se pretende como problema de investigação
resultar, não da curiosidade ou da opinião individual, mas da reflexão oriunda de uma linha de
pesquisa em que os problemas se põem e se investigam. Em termos claros, toda questão relevante
tem de se originar do enquadramento do projeto de pesquisa em um campo de investigação já
aberto e com balizas epistemológicas e metodológicas bem estabelecidas - esse é o princípio da
pesquisa como ação solidária. Observa Sánchez Gamboa (2003) que a qualidade dos trabalhos se
consolida quando se aprofundam as reflexões sobre as questões epistemológicas e se articulam as
técnicas e métodos com as teorias, tendo essas teorias critérios de rigor e de verdade científicos.
E, se isso é válido para pesquisadores maduros, mais significativo o é para os trabalhos desenvol-
vidos por pesquisadores em formação, como é o caso de estudantes de graduação, especialização,
mestrado e doutorado.
Pequenas questões têm maior poder de contribuir com o avanço do conhecimento que
questões imponentes aparentemente capazes de explicar mundo e fundos - as grandes questões
são resolvidas pela colaboração de várias pequenas pesquisas, como um quebra-cabeça. A exis-
tência de trabalhos sobre o tema elegido ou temas semelhantes, especialmente para pesquisas que
se conduzam por estudantes, não é impedimento a seu desenvolvimento ou razão de descrédito;
ao contrário, o leque de hipóteses amplia a possibilidade de diálogo, oferecendo referência e con-
texto. Essa percepção, aliada à ideia de que a formação do pesquisador se faz por sua inserção em
projetos abrangentes, está na gênese do modelo de programas de pós-graduação organizados em
torno de linhas de pesquisa (abandonando o modelo propedêutico de formação geral) e na postu-
lação da indissociabilidade de ensino e pesquisa já no âmbito da graduação.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
813
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
O entendimento mesmo de que é pesquisa parece confuso, em parte devido aos sentidos
diversos que a palavra adquire em seu uso comum. Para clarear pesquisa acadêmico-científica, há
que entender o sentido de pesquisa enquanto atividade constitutiva da ciência.
Vejamos o que traz o verbete pesquisa do dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São
três acepções (desconsiderando as locuções), das quais as duas primeiras interessam diretamente.
Pesquisa: s.f. 1. conjunto de atividades que têm por finalidade a descoberta de novos
conhecimentos no domínio científico, literário, artístico etc. 2. investigação ou indaga-
ção minuciosa 3. exame de laboratório (HOUAISS, 2019).
O fundamento da primeira acepção é o de que pesquisar relaciona-se com produção de
conhecimento novo - científico, filosófico, artístico. Para tanto, o pesquisador lança mão de dife-
rentes tpcnicas, mptodos, recursos, teorias (“conjunto de atividades”). Em linhas gerais, essa ideia
coincide com o conceito de Minayo (1992, p. 23), para quem pesquisa corresponde à
atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e
uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacaba-
do e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se
esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados.
Já “investigação ou indagação minuciosa” (acepção 2) não implica necessariamente des-
coberta ou criação de conhecimento; o que se busca pode ser já conhecido, ainda que desconhe-
cido do sujeito que procura. A ideia de investigar minuciosamente é coerente com atividade de
estudo, quando, em função de um tema do qual se necessita saber mais, procuram-se e organi-
zam-se informações já existentes.
O viés voluntarista e subjetivista, contudo, tem feito com que prevaleça com força a con-
cepção de pesquisa individual, nascida de motivação particular, da curiosidade ou da vontade de
estudar, resultando em projeto sem antecedentes, que se limitam ao local ou ao trivial, “sem arti-
culação e continuidade para o estabelecimento de linhas de investigação que favoreçam a produ-
ção de um corpo sólido e integrado de conhecimento” (ALVES-MAZZOTTI, 2001, p. 40), fre-
quentemente fundando-se no desconhecimento do pesquisador e na alegação de que tal questão
não se investigou na situação específica que seu “problema” identifica. De fato, o problema de
pesquisa consequente do interesse pessoal ou local é resultado da desconsideração da ciência co-
mo atividade histórica, coletiva e solidária, com prevalência do senso comum e da opinião.
É esse equívoco que permite, repetindo o alerta de Warde (1990), a disseminação de uma
noção de fazer pesquisa em educação em que “tudo cabe”. No caso de programas de Educação
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
814
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
pós-graduação periféricos, situados em instituições com poucos programas específicos e muitos
desejos de estudar, o problema se agrava, com a afluência de todo tipo de profissional e de pesso-
as que, não atuando nem estudando Educação (mesmo em sentido lato) e, portanto, sem vínculo
direto ou indireto com grupos de pesquisa na área, propõem estudos de aproximação, reproduzin-
do as “flutuações” teórico-metodológicas em que a Educação é apenas porto de passagem (SÁN-
CHEZ GAMBOA, 2007).
O erro não pode ser reputado aos estudantes ou aos postulantes à pós-graduação. Ele nas-
ce, no caso da pós-graduação, já nos processos seletivos, quando se solicita dos candidatos um
projeto de pesquisa, sem determinar claramente que se deve considerar o que os grupos de pes-
quisas e os docentes daquele programa estão investigando. E prevalece quando se orientam dis-
sertações e teses que não são continuação de trabalhos anteriores (mesmo quando se toma tema
semelhante), numa espécie de eterno recomeçar ou, ainda, quando se admitem projetos que tan-
genciam a educação sob o argumento da interdisciplinaridade. Na graduação, se isso não ocorre
com tanta ênfase na iniciação científica - em função de o projeto ser do docente - é a tônica nas
propostas de trabalho de conclusão de curso (TCC), em que os estudantes parecem autorizados a
fazer quase o que quiserem com orientações dispersas e muitas vezes com pouco ou nenhum vín-
culo com projetos de pesquisa docente.
A solução não está na simples mudança de comportamento dos estudantes ou no perfil dos
candidatos, ainda que certamente passe por isso. Ela está também, e primordialmente, nas propo-
sições dos cursos e programas - de graduação e pós-graduação - e nas decisões e atitudes dos
docentes, estabelecendo critérios que determinam as possibilidades de pesquisa e de seleção, com
divulgação de suas produções e proposições e exigindo que os orientadores sejam pesquisadores.
2.2 O corpo conceitual
Um problema não existe sem teoria. A pesquisa científica (lato senso) só se realiza apro-
priadamente com base em um corpo conceitual consistente - o que se tem frequentemente cha-
mado nos manuais de referencial teórico. É do corpo conceitual que podem nascer bons proble-
mas de pesquisa, e não o contrário:
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
815
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
O projeto também não pode ser reduzido à localização e descrição de um problema, à
previsão de fontes, instrumentos e técnicas e à delimitação de um campo disciplinar que
forneça conceitos para interpretar os resultados, implica também explicitar uma maneira
de priorizar e abordar o mundo da necessidade onde se localizam os problemas que in-
centivam a produção do conhecimento e, de igual maneira implica clarear as motivações
e os objetivos que nos permitem construir uma perspectiva científica condicente com os
compromissos histórico-sociais e com a visão de mundo que estamos construindo.
(SÁNCHEZ GAMBOA, 2003, p. 398).
A inespecificação ou imprecisão do corpo conceitual - isto é, da teoria que permite a
emergência do problema e a possibilidade de sua investigação - é expressão direta da sobreposi-
ção da opinião e do senso comum à atividade de pesquisa, impedindo inclusive a proposição ade-
quada do próprio problema e a explicitação da razão de ser do trabalho. Em função disso, é co-
mum encontrar pesquisas em educação que tendem a “desconsiderar que a produção do conheci-
mento científico constitui um processo de construção coletiva”, não inserindo o problema no con-
texto mais amplo,
“configurando uma esppcie de
‘narcisismo investigativo’”
(ALVES-
MAZZOTTI, 2001, p. 42).
É recorrente o equívoco de propor um problema qualquer de pesquisa - fruto do “interes-
se” - e, somente após isso, considerar constituir o que o tal referencial, confundido com um con-
junto mais ou menos desequilibrado de citações mais ou menos vinculadas ao problema (“o que
dizem os teóricos?”), pouco repercutindo na discussão objetiva e no desenvolvimento da pesqui-
sa.
Muitas vezes, encontram-se trabalhos (TCCs, dissertações e teses) que, na suposição de se
cumprir o que seria a exigência formal do trabalho acadêmico (equívoco muitas vezes repercutido
pelos manuais de metodologia da pesquisa), apresentam um capítulo ou seção em que reprodu-
zem um “referencial teórico” mais ou menos coerente que não implica síntese sincera da teoria
que se pretende adotar nem repercute no desenvolvimento objetivo da pesquisa, de tal modo que
a análise efetivamente se faz em outros moldes (sem falar nos casos em que a adesão à teoria se
faz como mera profissão de fé). Também é comum a aproximação, sem mediação ou explicita-
ção, de modelos teóricos distantes, às vezes em franca concorrência.
O pesquisador deve entender que o problema de pesquisa, dentro de seu campo, supõe in-
serção científica e interesse social, contribuindo com a compreensão do fenômeno geral em que
ele se põe. Focalizar a pesquisa em um objeto específico - uma escola ou uma comunidade, por
exemplo - sem estabelecer a devida relação entre esse estudo com outros anteriores e de natureza
similar torna o estudo irrelevante; por isso mesmo, mais que de uma questão individual, a pesqui-
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
816
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
sa deve emergir de trabalho integrado em uma unidade maior de investigação; é comum encon-
trar como justificativa de uma proposta de pesquisa a afirmação de que se trata de tema pouco
estudado como se isso fosse algo positivo, quando efetivamente deveria ser, principalmente em
trabalhos de mestrado, razão para questionar a pertinência e adequação do tema.
A conduta de primeiro pensar um problema e depois buscar a teoria que o conforma não
tem sustentação científica nem justificativa formativa, uma vez que o problema emerge da teoria
(mesmo que a problematizando). Efetivamente,
quando os pressupostos teóricos e os fundamentos filosóficos da prática ficam implíci-
tos, isto significa que o educador, via de regra, está se guiando por uma concepção que
se situa ao nível do senso comum. Entende-se por senso comum uma concepção não ela-
borada, constituída por aspectos heterogêneos de diferentes concepções filosóficas e por
elementos sedimentados pela tradição e acolhidos sem crítica. Em consequência, a práti-
ca orientada pelo senso comum tende a se caracterizar pela inconsistência e incoerência
(SAVIANI, 1990, p. 8-9).
A atividade investigativa, toda ela, está em produzir boas teorias independentes das per-
cepções pessoais e circunstanciais, com maior ou menor abrangência. Em função da produção
científica, a pesquisa nasce da teoria e produz mais teoria - ampliando ou refutando teorias ante-
riores. Isso não quer dizer nem que as teorias estejam certas por princípio nem que percepções
particulares sejam desprovidas de valor ou fundamento.
2. 3 O estado da questão
O princípio de que a pesquisa pressupõe anterioridade, na medida em que se tem por base
estudos já realizados sobre o tema, implica reconhecer que não há como desenvolver um trabalho
consistente que desconheça o que já se investigou - das várias perspectivas conceituais. A isso a
tradição acadêmica (e os manuais de metodologia científica) tem denominado genericamente
revisão bibliográfica (que não se confunde com referencial teórico). É mais que isso, contudo,
relacionando-se diretamente com a própria noção de conhecimento.
De modo abrangente e reconhecendo que o termo comporta várias acepções no uso co-
mum da língua, conhecimento corresponde às formas de percepção, compreensão, representação
e experiência da existência (material e psíquica) que se realizam no fazer histórico. À medida que
o humano não apenas vive, mas percebe que vive, simboliza e projeta essa percepção de seu viver
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
817
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
em suas formas de ser e fazer. Tudo aquilo que se realiza como percepção, valoração e tentativa
de explicação do vivido é conhecimento.
Em termos diretos: conhecimento são as formas de compreender, explicar os fatos do
mundo físico (a matéria) e da vida (a história, o psiquismo), com base na experiência (toda, qual-
quer). E, ainda que se manifeste de formas distintas em cada pessoa e que cada uma tenha sua
singularidade (historicamente sobredeterminada), o conhecimento não é, mesmo que aparente ser,
expressão ou propriedade de alguém em particular - indivíduo ou classe social. É, ética, moral,
histórica e politicamente, um bem universal. Observa Saviani (2004, p.48), ao tratar da constitui-
ção da subjetividade sob a ótica do método materialista-histórico, que “os homens determinam as
circunstâncias ao mesmo que são determinados por elas”. Em lugar do pensar formal, esta p a
forma dialética de pensar.
Contudo, na dinâmica de indagação e de solução de problemas, que absorve as formas
como os indivíduos, em sua concretude existencial, realizam seu viver, produzem-se diferentes
ordens de conhecimento. E boa parte delas é conhecimento partilhado, que se divulga e se adqui-
re na vida cotidiana.
O homem nasce já inserido em sua cotidianidade. O amadurecimento do homem signifi-
ca, em qualquer sociedade, que o indivíduo adquire todas as habilidades imprescindí-
veis para a vida cotidiana na sociedade (camada social) em questão. É adulto quem é
capaz de viver por si mesmo a sua cotidianidade (HELLER, 1982, p. 18, grifos no origi-
nal).
Este tipo de conhecimento, fundamental ao funcionamento equilibrado da vida prática,
chama-se senso comum. Trata-se de uma forma de percepção que se relaciona com os valores, as
normas e as representações do viver imediato, os quais se transmitem consuetudinariamente ou
por mecanismo de instrução massiva e de formação de opinião. Em parte, principalmente nos
primeiros anos de vida e nos assuntos triviais, o senso comum se faz dos valores e formas de
compreensão da realidade imediata que informam o modo prático de cultura.
Essa forma de perceber o mundo e as coisas que nele acontecem e que informa a vida co-
tidiana cumpre importante papel organizador dos indivíduos. Agnes Heller, ao examinar a estru-
tura da vida cotidiana, verificando seus aspectos fundamentais, observa que
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
818
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
Todos esses momentos característicos do comportamento e do pensamento cotidianos
formam uma conexão necessária, apesar do caráter aparentemente casual da ‘seleção’
em que se apresentam. Todos têm em comum o fato de serem necessários para que o
homem seja capaz de viver na cotidianidade. Não há vida cotidiana sem espontaneidade,
pragmatismo, economicismo, analogia, precedentes, juízos provisórios, mimese e ento-
nação (HELLER, 1982, p. 37, grifos no original).
A filósofa húngara considera essa estrutura necessária à vida comum, mas é positiva
quando deixa “uma margem de movimento e possibilidades de explicitação”, ou seja, não impede
o pensamento desimpedido e reflexivo, em que se considere o mundo e as coisas sob prisma in-
dependente, em que a análise se sustenta em sistemas orgânicos de indagar e explicar os fenôme-
nos que se apresentam como desafios à razão ou à vida.
Há, assim, que distinguir opinião (apoiada na vida cotidiana e na percepção fragmentária
e particular da realidade) de teoria, modelos de explicação resultantes da observação sistemática
e de postulados racionais, que sustentam a ordenação e a classificação dos fatos e das realidades
da natureza.
A ciência, tanto por sua necessidade de coroamento como por princípio, opõe-se absolu-
tamente à opinião. Se, em determinada questão, ela legitimar a opinião, é por motivos
diversos daqueles que dão origem à opinião; de modo que a opinião está, de direito,
sempre errada. A opinião pensa mal; não pensa: traduz necessidades em conhecimentos.
Ao designar os objetos pela utilidade, ela se impede de conhecê-los. Não se pode basear
nada na opinião: antes de tudo, é preciso destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a ser su-
perado. Não basta, por exemplo, corrigi-la em determinados pontos, mantendo, como
uma espécie de moral provisória, um conhecimento vulgar provisório. O espírito cientí-
fico proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre
questões que não sabemos formular com clareza (BACHELARD, 1996, p. 18)2.
Bernadete Gatti (2012, p. 16), ao problematizar o trabalho de pesquisa em educação,
chama a atenção para os riscos da obviedade na atividade investigativa, destacando a necessidade
de “um certo grau de superação do senso comum quando se trata de pesquisa”. Observa a autora
que “as expressões carregam significados cuja consciência e escolha de emprego de outra expres-
são a partir dela representaria um passo na superação da alienação (ou cooptação) com que ex-
pressamos, pela linguagem, nosso pensamento”.
A questão ganha relevância quando se percebe a existência de um senso comum acadêmi-
co, correspondente ao conjunto de valores, hábitos e atitudes partilhados pela comunidade aca-
dêmica. Trata-se de uma forma especial de senso comum, a qual não coincide com o senso
2 A ideia dessa citação nasce de conferência de Silvio Gamboa no Seminário de Dissertações do PPGE-Ufopa em 30
de setembro de 2019.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
819
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
comum genérico, mesmo que atravessado por ele. A vivência acadêmica ou profissional gera um
jargão semitécnico e um conjunto de referências e protocolos de ação assimiláveis por processos
horizontais em que se desprezam as fontes originais de sua produção. Tais produções passam a
firmar o argumento e prática da pesquisa como já-dados, sem a necessidade do exame acurado ou
da demonstração objetiva de seus pressupostos e implicações. Pode-se argumentar que isso é ine-
vitável, mais ainda, é próprio da atividade organizada. O problema está quando o jargão e os pro-
tocolos que os acompanham inibem, ou até anulam, a atividade reflexiva, a consciência da regra e
da origem dos conceitos.
Qualquer problema de pesquisa relevante, mesmo que tenha vínculo com a experiência ou
a curiosidade pessoal ou com a forma particular de perceber o que passa com um processo ou
pessoa em dada circunstância, nasce de e se fundamenta em uma teoria, e só nesta condição en-
contra legitimidade. Daí a necessidade de maior cuidado com a proposição do problema de pes-
quisa, não o confundindo com interesse ou curiosidade pessoal - algo que a pessoa gostaria de
saber ou dizer ou dizer e que de certa forma está estabelecido - e com o estudo sobre o que já se
pesquisou e se propôs como explicação para o problema levantado.
Tal procedimento se realiza, não como etapa circunstancial do trabalho, com que se pres-
tam contas a exigências formais, mas como condição de produção consistente com efeitos na
própria delimitação temática e caracterização do problema (o problema se consubstancia na ten-
são com as decisões e achados de trabalhos relacionados). Nóbrega-Therrien e Therrien (2004, p.
7) chamam a esse processo de “estado da questão”, cuja finalidade seria
levar o pesquisador a registrar, a partir de um rigoroso levantamento bibliográfico, como
se encontra o tema ou o objeto de sua investigação no estado atual da ciência ao seu al-
cance. Trata-se do momento por excelência que resulta na definição do objeto específico
da investigação, dos objetivos da pesquisa, em suma, da delimitação do problema especí-
fico de pesquisa.
Desta forma, estabelecer o estado da questão, mais que fazer uma simples revisão biblio-
gráfica, supõe “delimitar e caracterizar o objeto (específico) de investigação de interesse do pes-
quisador e a consequente identificação e definição das categorias centrais da abordagem teórico-
metodológica” (NÓBREGA-THERRIEN; THERRIEN, 2004, p. 8). Mais que um simples levan-
tamento, trata-se de, por meio do conhecimento do já-conhecido, por a questão no cerne da pro-
dução social.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
820
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
Quando enfatizo a importância desta contextualização, por meio do diálogo com os estu-
dos anteriores, não me refiro j ‘revisão bibliográfica’, que arrola autores e mais autores,
usando a fórmula burocrática ‘segundo fulano’, ‘para beltrano’, deixando de fora o autor
da pesquisa e não evidenciando sua funcionalidade na discussão dos resultados. Quando
falo em diálogo, refiro-me à comparação e à crítica que explicitam inicialmente a neces-
sidade e a pertinência do estudo proposto e, ao seu final, apontam corroborações e dis-
cordâncias entre os resultados obtidos e os estudos anteriores. Tais procedimentos não
são formalismos acadêmicos, são condições necessárias à cumulatividade e transferibili-
dade do conhecimento, assim como à formulação de teorias (ALVES-MAZZOTTI,
2001, p 42).
A pesquisa exige a humildade de buscar o que já se estudou, o que demanda contextuali-
zação do problema em diálogo com a produção relevante a ele associada. A dificuldade de levan-
tamento adequado de estudos afins e da construção de um retrato consistente de como a questão
se põe no momento atual da investigação - isto é, a constituição adequada do estado da questão -
repercute severamente na própria atividade de pesquisa, implicando problemas já identificados
por Alves-Mazotti (2001). A pesquisadora chamava a atenção, naquele momento, para cinco
grandes deficiências da pesquisa em Educação, a saber: pobreza teórico-metodológica, com estu-
dos puramente descritivos e/ou exploratórios; pulverização e irrelevância dos temas; modismos
na seleção de quadros teórico-metodológicos; preocupação com a aplicabilidade imediata; e di-
vulgação restrita dos resultados. Desta, a pulverização e irrelevância dos temas e a divulgação
restritas de resultados estão diretamente implicadas pela não realização ou precariedade da elabo-
ração do estado da questão.
A diferença entre estudar e pesquisar está exatamente em que se estuda o conhecido e se
pesquisa o que está por conhecer. Mas, se é possível estudar sem pesquisar, é impossível pesqui-
sar sem estudar: sem o domínio do já-conhecido, o pesquisador pode investigar coisas que lhe
pareçam novas, quando, de fato, já se sabe muito sobre elas - são hipóteses e descobertas desco-
nhecidas pela pessoa, não pela ciência. O levantamento do que se tem estudado sobre o problema,
as formas de aproximação dele e os achados anunciados são condição inicial da pesquisa e objeto
de constante de referência e cotejamento, seja como forma de corroboração do que se está fazen-
do, seja como contraponto e até invalidação do que tais estudos propõem, evidenciando seus
equívocos como forma de avançar o conhecimento. E esse esforço tem a mesma relevância que a
própria afirmação do referencial teórico, sendo condição da pesquisa sincera, que não se encerra
em um universo conceitual fechado, para o qual só interessaria referir aquilo que a legitima.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
821
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
2.4 As estratégias de investigação
Estabelecido o problema de pesquisa e esboçado o estado da questão (cuja necessidade,
reafirme-se, prevalece por todo o tempo da pesquisa), trata-se de eleger as estratégias de investi-
gação que permitirão tanto produzir dados relevantes como garantir validade aos achados, dentro
do alcance e condições de validação estabelecidas.
De forma geral, o próprio problema sugere as possibilidades investigativas, de modo que,
rigorosamente falando, já se enunciam no início do trabalho investigativo, muitas vezes são de-
terminantes nas escolhas, já que não há como postular problemas que não condições de realização
objetiva. Sem a delimitação apropriada da problemática, sem a elaboração das questões e pergun-
tas e sem fontes adequadas e consistentes, não há instrumentos e técnicas que sirvam para a in-
vestigação (SÁNCHEZ GAMBOA, 2003).
Em texto em que discute os as formas e possibilidades de fazer pesquisa participante, Jus-
ta Ezpeleta apresenta importante reflexão que se aplica a todo tipo de pesquisa em Educação,
especialmente no que tange à relação entre teoria e método. Entende a autora que
As técnicas não constroem a teoria, não determinam o pensar. Mesmo que a observação
participante pudesse modificar preconceitos do pesquisador e até mesmo fazer com que
ele mudasse suas questões, não há derivação automática ou passagem natural da infor-
mação de campo para a teoria. A articulação entre ambas produz-se por uma construção
categorial que depende das questões iniciais, da teoria que se maneja, e da posição histó-
rica a partir da qual o teórico - consciente ou inconscientemente - enxerga a sociedade
(EZPELETA, 1984, p. 41).
O senso-comum, especialmente quando não percebido, traz grave risco à atividade de
pesquisa e à produção de conhecimento novo. Por isso, adverte a autora sobre os problemas con-
sequentes de a observação e a análise da realidade empírica não serem tratadas como partes fun-
damentais do trabalho investigativo. Nesse caso,
o pesquisador corre o risco de abrir caminho ao senso comum como organizador da teo-
ria resultante. Entre a informação empírica e a construção final, os dados se articulam
sempre com algum sentido. Se, nessa passagem, não medeia uma cuidadosa vigilância e
uma cuidadosa reflexão, então essa articulação é realizada pelo senso comum (EZPE-
LETA, 1984, p. 44).
É de estranhar, portanto, que se considere a assim denominada pesquisa qualitativa - es-
tratégia mais frequente nos estudos em educação - um “mptodo de pesquisa”, independentemente
da concepção teórica que se adote, e que se admitam estratégias metodológicas (entrevista,
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
822
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
depoimentos, observação direta, registros iconográficos), das quais com frequência o próprio
pesquisador tem pouco domínio, como elementos bastantes para a produção de dados relevantes.
Aliás, a absoluta maioria de projetos de pesquisa em educação lança mão da entrevista como re-
curso de produção de dados sem considerar que tipo de informação pode emergir dela, quem é o
informante, qual o motivo da escola, que perguntas seriam relevantes e o que as motiva; mais que
tudo, tem-se a impressão de que o que dizem os entrevistados é, por si, a expressão do real, quan-
do quase sempre não passa de opinião ou percepção subjetiva do que se passa com ele.
A escolha metodológica, quando não sustentada por teoria consistente, camufla a fragili-
dade do problema. Adverte Martins (2006, p. 8) que, no caso das metodologias qualitativas, a
propalada superação da lógica positivista p apenas aparente, uma vez que “atendem um de seus
princípios basilares, qual seja, o princípio da exclusão”. A produção do conhecimento implica “a
apreensão do conteúdo do fenômeno”, cujas mediações históricas que se reconhecem pelas das
“abstrações do pensamento” e a busca pelo dado que possa contribuir com a compreensão do
fenômeno que se estuda exige “a superação da aparência em direção j essência”, o que, por sua
vez, se realiza pela identificação das “tensões imanentes na intervinculação e interdependência
entre forma e conteúdo”.
Se queremos descobrir a essência oculta de um dado objeto, isto é, superar sua apreensão
com o real empírico, não nos bastam descrições acuradas (escritas, filmadas, fotografa-
das etc.!!!) , não nos bastam relações íntimas com o contexto da investigação, isto é, não
nos basta fazer a fenomenologia da realidade naturalizada e particularizada na s signifi-
cações individuais que lhes são atribuídas. É preciso caminhar das representações primá-
rias e das significações consensuais em sua imediatez sensível em direção à descoberta
das múltiplas determinações ontológicas do real. Assim sendo, não pode nos bastar ape-
nas o que é visível aos olhos, pois o conhecimento da realidade, em sua objetividade, re-
quer a visibilidade da máxima inteligência dos homens (MARTINS, 2006, p. 12).
Para a autora, é impossível o conhecimento objetivo, quer sobre indivíduos quer sobre a
totalidade social, tomando-se qualquer um deles separadamente. Para tomar a particularidade
como referência na produção de dados - como é o caso da pesquisa de observação ou de inter-
venção -, realizada em ambiente localizado e com poucos informantes, há que buscar a “análise
dialptica da relação entre o singular e o universal”, a qual se torna possível o conhecimento con-
creto, de modo que “a ênfase conferida ao particular não se converte no abandono da construção
de um saber na perspectiva da totalidade” (MARTINS, 2006, p. 12).
Nessa mesma direção, Alceu Ferraro, pesquisador reconhecido por seus estudos em alfa-
betização com dados censitários, destaca o falso dualismo que se estabeleceu em torno da oposi-
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
823
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
ção quantitativo x qualitativo, especialmente no que tange à associação do dado quantitativo ao
positivismo e a análise qualitativa a abordagens críticas, observando que “p na construção do ob-
jeto ou do problema de pesquisa que se poderá definir o método ou a combinação de métodos e
tpcnicas a empregar na investigação” (FERRARO, 2012, p. 143). Entende esse pesquisador que,
na perspectiva dialética, não há quantidade sem qualidade, tampouco qualidade sem quantidade,
de modo que a unidade entre essas dimensões do real está na inseparabilidade ou exigência recí-
proca, e não em alguma identidade imaginária que houvesse entre elas.
Há, assim, que indagar, quando se estabelecem as estratégias de produção de dados, como
estes se produzem, por que e para quê; há que ter clara noção do referencial teórico que institui a
estratégia de geração de dados e as categorias de análise que os tornam significativos; e há que
definir as condições de validação dos dados. Nenhum dado está disponível para ser coletado no
real aparente nem correspondente a qualquer mimetismo entre realidade e teoria. Nenhuma res-
posta de um informante, mesmo quando devidamente selecionado, é por si fato interessante ou
expressão do verdadeiro (reafirme-se: mais frequentemente perguntas e respostas elaboradas por
essa estratégia semelham à simples opinião). A admissão de que haja dados prontos para serem
colhidos representa uma forma de empirismo vulgar e de naturalização do real concreto.
3 Para além do simples
Hebert Marcuse, em texto sobre a responsabilidade da ciência, produzido nos idos de
1960, adverte que é o cientista é responsável pelo uso que se faz da ciência, por suas consequên-
cias sociais da ciência, em função da estrutura interna e do telos da ciência, de seu lugar e de sua
função na realidade social.
A ciência livre de valores promove cegamente certos valores políticos e sociais e, sem
abandonar a teoria pura, a ciência sanciona uma prática estabelecida. O puritanismo da
ciência transforma-se em impureza. E essa dialética levou à situação na qual a ciência (e
não apenas a ciência aplicada) colabora na construção da mais eficiente maquinaria de
aniquilamento da história (MARCUSE, 2009, p. 162).
Deste modo, pondo-se francamente contra a acomodação pragmática e ideológica aos in-
teresses políticos e econômicos, o filósofo enuncia o desejo de uma ciência comprometida com o
desenvolvimento e o bem-estar coletivo.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
824
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
A transformação da ciência é imaginável apenas em um ambiente transformado; uma
nova ciência exigirá um novo clima, em que novos experimentos e projetos serão suge-
ridos ao intelecto por novas necessidades sociais. Em seu sentido mais geral, essa trans-
formação implicaria o desaparecimento das necessidades sociais de produção e produtos
parasitários e desperdiçadores, de defesa agressiva, de competição por status e confor-
mismo, e exigiria a correspondente liberação das necessidades individuais de paz, alegria
e tranquilidade. Em vez de promover a conquista da natureza, a restauração da natureza;
em vez da lua, a terra; em vez da ocupação do espaço extraterrestre, a criação do espaço
interno; em vez da coexistência não-tão-tranquila da afluência e da pobreza, a abolição
da afluência até que a miséria tenha desaparecido; em vez de armas e manteiga nas na-
ções superdesenvolvidas, margarina suficiente e para todas as nações (MARCUSE,
2009, p. 163).
Essa perspectiva de ciência exige de cada pesquisador um compromisso que implica, mais
que fazer um bom trabalho, responsabilidade ética com a ciência e a sociedade.
Muito se fala sobre ética no mundo moderno. No caso da atividade científica, trata-se de
questão central, em que importa, por um lado, a atitude do pesquisador perante o objeto que se
investiga, das pessoas envolvidas e da divulgação dos resultados e, por outro, da razão mesma de
ser da ciência. É preciso distinguir a ética de qualquer código normativo ou protocolos de com-
portamento. O princípio da ética é o bem-comum, a justiça, o respeito à vida em condições obje-
tivas de existência, o que implica reconhecer que há contradição in re quando se advoga um “có-
digo de ptica”: códigos são conjuntos fechados de proibições e imperativos de que fazer e que
não fazer. Como afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro (2003, 152), “p triste pensar que a ptica
ficou reduzida à abstenção da conduta antiética e não se consubstancia, geralmente, no empenho
por uma conduta ptica”.
Assim, a ética implica antes de tudo compromisso com a verdade e com as consequências
de nossos atos e das coisas que se passam em função deles ou que os causam, tendo por princípio
o justo. Mais que determinar como fazer direito, a ética pressupõe a indagação contínua do que é
direito e de por que se faz tal coisa de tal modo e quais os desdobramentos das decisões objetivas.
Ao tratar da pesquisa em ciências humanas, mais especialmente as de cunho antropológico, Mi-
nayo e Guerriero (2014, p. 1110) fazem observação que bem se aplica a muitos outros casos:
Projetos de estudos qualitativos, por mais bem fundamentados que sejam e mesmo dan-
do conta de todas as demandas de um Comitê, não correspondem a todos os desafios éti-
cos que um investigador encontra no trabalho de campo, na relação com seus interlocu-
tores, nos interesses muitas vezes conflitantes que emergem, na forma de produzir uma
análise e apresentar um relatório, como tivemos oportunidade de discorrer. É preciso ter
sempre claro que o sentido abrangente da ética inclui a responsabilidade do pesquisador
como estudioso, como cidadão, e como membro da comunidade científica.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
825
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
A pesquisa que se faz fundada no achismo e no senso comum, em predominam simula-
cros e opinião, bem como pesquisas em que imperam o formalismo aparente e o protocolorismo,
cuja finalidade limita-se de cumprimento de exigências metodológicas e acadêmicas, não é ape-
nas fraca, é eticamente inaceitável. Acima de tudo, espera-se do pesquisador, em formação ou já
estabelecido, suficientes sinceridade, responsabilidade e tenacidade científicas.
Referências
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. Relevância e aplicabilidade da pesquisa em educação. Cadernos de
Pesquisa, São Paulo, n. 113, p. 39-50, jul. 2001.
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa, São Paulo,
v. 36, n. 129, p. 637-651, set./dez. 2006.
ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: questões de teoria e de método. Educação e Tecnologia, Belo
Horizonte, v. 10, n. 1, p. 29-35, jan./jun. 2005.
ANDRÉ, Marli. Questões sobre os fins e sobre os métodos de pesquisa em educação. Revista Eletrônica
de Educação, São Carlos, v. 1, n. 1, p. 119-131, set. 2007.
ANDRÉ, Marli; GATTI, Bernardete A. Métodos qualitativos de pesquisa em educação no Brasil: origens
e evolução. In: PROGRAMA DE FORMAÇÃO EM PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO. Módulo
VII. Pesquisa Qualitativa, parte II, 26 ago. 2014. Chapecó, SC: Universidade Federal da Fronteira Sul,
2014. Disponível em: https://www.uffs.edu.br/pastas-ocultas/bd/pro-reitoria-de-pesquisa-e-pos-
graducao/repositorio-de-arquivos/arquivos-do-programa-de-formacao/modulo-vii-pesquisa-qualitativa-
parte-ii. Acesso em: 7 fev. 2019.
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhe-
cimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
EZPELETA, Justa. Notas sobre pesquisa participante e construção teórica. Em Aberto, Brasília, v. 3, n.
20, p. 37-45, abr. 1984.
FERRARO, Alceu Ravanello. Quantidade e qualidade na pesquisa em educação, na perspectiva da dialéti-
ca marxista. Pro-Posições, Campinas, v. 23, n. 1, p. 129-146, jan./abr. 2012.
GATTI, Bernardete A. A construção metodológica da pesquisa em educação - desafios. RBPAE, Porto
Alegre, v. 28, n. 1, p. 13-34, jan./abr. 2012.
GOUVEIA, Aparecida Joly. A pesquisa educacional no Brasil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 1, p.
1-48, jul. 1971.
HELLER, Agnes. Estrutura da vida cotidiana. In: HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. São Paulo:
Paz e Terra, 1982. p. 17-41
HOUAISS, Antonio. Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa on-line. Disponível em:
https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-3/html/index.php#0. Acesso em: 7 fev. 2019.
MARTINS, Lígia Márcia. As aparências enganam: divergências entre o materialismo histórico dialético e
as abordagens qualitativas em pesquisa. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED. Educação, Cultura e Co-
nhecimento: desafios e compromissos, 29., 2006, Caxambu. Caxambu, Minas Gerais. Anais [...]. Caxam-
bu. Caxambu, Minas Gerais, ANPEd, 2006. p.1-17.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
826
BRITTO, Luiz Percival Leme. Pesquisa em Educação e formação pela pesquisa: nada é tão simples quanto quer parecer.
MARCUSE, Hebert. A responsabilidade da ciência. Cientiæ Zudia, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 159-64,
2009.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Pau-
lo/Rio de Janeiro: Hucitec/ABRASCO, 1992.
MINAYO, Maria Cecília de Souza; GUERRIERO, Iara Coelho Zito. Reflexividade como éthos da pesqui-
sa qualitativa. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 1103-1112, 2014.
NÓBREGA-THERRIEN, Sílvia Maria; THERRIEN, Jacques. O estado da questão: sua compreensão na
construção de trabalhos científicos: reflexões teórico-metodológicas. Estudos em Avaliação Educacio-
nal, São Paulo, v. 15, n. 30, p. 5-16, jul./dez. 2004.
RIBEIRO, Renato Janine. Ética e direitos humanos. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botu-
catu, v. 7, n. 12, p. 149-66, fev. 2003.
SÁNCHEZ GAMBOA, Silvio Ancisar Sánchez. Pesquisa qualitativa: superando tecnicismos e falsos dua-
lismos. Contrapontos, Itajaí, n. 3, p. 393-405, set./dez. 2003.
SÁNCHEZ GAMBOA, Silvio Ancisar Sánchez. Práticas de pesquisa em educação no Brasil: lugares,
dinâmicas e conflitos. Pesquisa em Educação Ambiental, São Carlos, v. 2, n. 1, p. 9-32, 2007.
SAVIANI, Dermeval. Contribuições da filosofia para a educação. Em Aberto, Brasília, v. 9, n. 45, p. 3-9,
jan./mar. 1990.
SAVIANI, Dermeval. Perspectiva marxiana do problema subjetividade-intersubjetividade. In: DUARTE,
Newton. (org.). Crítica ao fetichismo da individualidade. Campinas: Autores Associados, 2004. p. 21-
52.
SILVA, Gildemarks Costa. Epistemologia e educação: o problema da noção de ciência aplicada da educa-
ção. Atos de pesquisa em Educação, Blumenau, v. 6, n. 2, p. 322-337, maio/ago. 2011.
TEIXEIRA, Anísio. Ciência e arte de educar. Educação e Ciências Sociais, Salvador, v. 2, n. 5, p. 5-22,
ago. 1957. Disponível em: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/ciencia.html. Acesso em: 7 fev.
2019.
WARDE, Mirian. O papel da pesquisa na pós-graduação em educação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo,
n. 73, p. 67-75, maio 1990.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 21, n. 3, p. 807-827, set./dez. 2019.
827