Artigos
DOI: http://dx.doi.org/10.22483/2177-5796.2018v20n1p11-32
INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações
Daniel Bustamante da Rosa
José Luis Sanfelice
Resumo: O artigo intitulado INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações tem o objetivo de reconstituir a
história da instituição INATEL a partir de fontes primárias, oficiais ou não, jornalísticas, testemunhais e
bibliográficas, visando responder a seguinte indagação: de que forma o INATEL, considerando sua
dimensão e expressividade atuais, se instituiu em condições históricas e geográficas aparentemente tão
desfavoráveis? A metodologia utilizada consistiu no levantamento das fontes no arquivo do centro de
memória do INATEL, a seleção delas, com a posterior análise para a construção de uma narrativa histórica,
que se baseia em uma pesquisa de reconstrução do passado através das mais diversas bases documentais,
tais como: livros, depoimentos, atas, jornais, etc, permeadas pelo olhar circunstanciado e referenciado de
um pesquisador. Os resultados obtidos viabilizaram uma escrita historiográfica do INATEL, ou seja, a
escrita da história do Instituto, bem como a obtenção de um conjunto de indicadores que viabilizaram
aproximar respostas à questão formulada.
Palavras-Chave: Educação. Telecomunicações. Instituição escolar. INATEL.
INATEL: National Telecommunications Institute
Abstract: The article entitled INATEL: National Institute of Telecommunications, develops in order to build a
history of INATEL institution from primary sources, official or not, journalistic, testimonials and literature
in order to answer the question that appears. The methodology used was the survey of sources in the file
INATEL memory center, selecting them with the subsequent analysis for the construction of a historical
narrative, which is based on a reconstruction survey last through several possible documentary bases as
books, depositions, minutes, papers, from the research point of view. The problem that generated this
research came from the following question: considering the size and expression of INATEL today, how it
was instituted in historical and geographical conditions seemingly unfavorable? The results made possible
historiographical writing INATEL, in other words, writing the history of the Institute, as well as getting a
set of indicators that enabled approach answers the question asked.
Keywords: Education. Telecommunications. School institution. INATEL.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
11
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
1 Introdução
Considerando-se que todo conhecimento é permeado pelas condições em que são
gestados, pelas referências ou características daqueles que o elaboram e que ele reflete a base
cultural e a formação de quem o produziu, torna-se relevante destacar que a minha formação é em
engenharia elétrica, na modalidade eletrônica, com ênfase em Telecomunicações, pelo INATEL.
Sou egresso da turma de julho de 1999 e aventurei-me, por esse Brasil, trabalhando na área de
engenharia, até perceber que a minha real vocação era a docência. Tive muitas oportunidades,
mas sempre lecionei de forma temporária e nunca percebi no trabalho realizado em sala de aula, o
quanto eu me dedicava a essa arte. Quando comecei a trabalhar no INATEL, atuei na área de
Educação Continuada, ministrando treinamentos, cursos e palestras dentro e fora do Instituto e,
desde então, reconhecendo as minhas possibilidades, nunca escondi a minha intenção de chegar
até a graduação como docente. Mas, a exigência para o primeiro passo seria o título de mestre.
Existia uma pós-graduação stricto-sensu dentro do próprio INATEL, embora eu assuma que
nunca tenha me sentido atraído pelas suas linhas de pesquisa, tentei por duas vezes e abandonei o
curso ainda no primeiro semestre. Descobri o Mestrado em Educação na Univás em 2012, logo
em seu início, mas um projeto de treinamentos in company, no meu trabalho, impossibilitou meu
ingresso nessa formação de maneira imediata. Ao fim de 2013, o projeto terminou e eu fui
alocado como tutor de cursos a distância, tornando possível a minha inserção no mestrado. No
primeiro semestre de 2014, cursei uma disciplina como aluno especial para testar as minhas
aptidões e vontades. Logo percebi que trabalhar na educação era a minha vocação e que eu
deveria seguir em frente. No semestre seguinte, me matriculei como aluno regular e sem ideia
nenhuma do que poderia ser meu objeto de pesquisa, fui conversar com meu orientador, o
Professor Doutor José Luis Sanfelice. Como engenheiro de formação, pensei em falar sobre
tecnologia dentro da sala de aula e para não ampliar muito o campo de pesquisa, optei por
pesquisar sobre as tecnologias dentro das salas de aula do INATEL. Neste contexto, Sanfelice
alertou-me acerca da necessidade de aprofundar o estudo para uma análise específica do Instituto
em questão. Desse modo, contextualizar a história do INATEL consistiria em material suficiente
para uma boa dissertação. Aconselhou-me a aproveitar os festejos dos 50 anos do INATEL,
completados em março de 2015, para pesquisar exclusivamente a história do Instituto.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
12
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
A partir deste ponto, eu tinha um tema: a História do INATEL e precisava estruturar o
meu projeto de pesquisa. Ainda não aceitava a importância de pesquisar uma instituição talvez
por não entender a necessidade ou, até mesmo, a relevância da reconstituição de sua história. Isso
pode ser explicado pelo fato de que, embora eu já possuísse um tema, ainda não havia uma
problematização.
Nessa ocasião, o professor Sanfelice indicou-me o Livro “Instituições Escolares, por que e
como pesquisar”, de Paolo Nosella e Ester Buffa, para dar início à fundamentação teórica. E,
buscando responder “por que pesquisar instituições escolares”, constata-se que:
Responder a essa pergunta não foi tarefa fácil: obviamente, não se trata apenas de
desenterrar histórias e vultos significativos do passado da instituição escolar estudada.
Ainda que a busca do passado apresente sempre um sutil e instigante fascínio, tal
motivação não é suficiente para justificar tanto trabalho de pesquisa e tanto emprego de
energias; quando muito, pode alimentar, nos educadores, saudade de um passado que,
frequentemente, parece ter sido mais glorioso. De outro lado, essas pesquisas - como,
aliás, qualquer outra
- por si só, não formam educadores comprometidos com as
transformações sociais desejadas, simplesmente porque não determinam o livre-arbítrio
dos homens. Entretanto, um instrumento para uma nova compreensão da história da
escola, eleva o conhecimento de seus profissionais; portanto, aumentando a
responsabilidade de suas opções (NOSELLA; BUFFA, 2013 p. 31).
Diante de tal desafio, vieram outros e outros livros. Sanfelice apontou a data de fundação
do INATEL em 31 de março de 1965. Desse modo, a fundação do INATEL se deu exatamente
um ano depois do golpe militar. Assim, em um primeiro momento, achei que seria uma
coincidência, mas acabei descobrindo que não era. Comecei a fazer perguntas às fontes e
primeira resposta encontrada foi a de que havia ali uma forte ligação do regime militar com a
fundação do INATEL. De tal forma que, verificam-se nos registros oficiais a existência de um
corte de verba federal que viabilizou a fundação do INATEL na cidade de Santa Rita do Sapucaí
no período citado, sendo ainda o paraninfo da primeira turma de formandos o então, Presidente
da República, General Arthur da Costa e Silva (CORREIO DO SUL, 1964, 1965, 1966). Além
disso, no momento de construção do Instituto, ocorreram inúmeras visitas de militares durante a
estruturação e consolidação do projeto de implantação (LEITE, [s/d]; ROSA, 2016).
Problematizada esta questão e proposto o tema, era preciso saber se o Instituto me
autorizaria a realizar a pesquisa, possibilitando o acesso aos documentos necessários a esta
investigação. Frente a isso, recebi autorização sem maiores complicações.
A pesquisa começou com a busca e leituras incessantes de documentos, jornais e
depoimentos que se encontram no Centro de Memória do INATEL, além de alguns livros
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
13
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
orientados para complementar a minha compreensão acerca da história de criação do Instituto
(SODRE, 1977; CUNHA, 1980, 2007; GERMANO, 1990; ARANHA, 1997; etc). Mais uma vez,
pude contar com um acervo compilado pelo Instituto, em virtude da comemoração do Centenário
do Professor José Nogueira Leite, fundador do INATEL. Este acervo era constituído de um
substantivo relatório acerca da história do Instituto, além de entrevistas disponíveis para
pesquisas e outros documentos. Parti, então, deste ponto.
De acordo com as proposições teóricas de Nosella e Buffa (2013 p. 31) e lembrando que a
história não é mera repetição dos documentos, mas um processo de interpretação e
contextualização com perguntas às fontes, para tratar da história de criação do Instituto dentro do
universo comunitário da cidade, foi preciso perguntar sobre os vínculos políticos bem como, os
interesses públicos acionados para o soerguimento de importantes equipamentos existentes no
município e seus arredores, quem eram suas personalidades mais importantes e que benfeitorias
realizaram. Esse procedimento metodológico contribuiu para entender, de que forma os alicerces
da escola do INATEL se consolidaram junto aos demais elementos sociais, econômicos, políticos
e culturais que existiam em Santa Rita do Sapucaí, incluindo infraestrutura ampla e mão de obra
organizada, que viabilizaram tal conquista.
Nesse sentido, não houve como desconsiderar a influência da elite econômica local com
destaque para a Senhora Luiza Rennó Moreira, ou simplesmente, Sinhá Moreira, pois foi graças
às suas obras, que um dos principais pilares do INATEL, ou seja, a Escola Técnica em Eletrônica
Francisco Moreira da Costa - ETE, se consolidou. A ETE fundada pela Sinhá Moreira introduziu
um ânimo novo em um grupo local da cidade que, querendo alçar voos mais altos, buscou a
realização de uma escola de nível superior. O ETE foi o ponto inicial para um projeto muito mais
ousado, nos anos 60, para uma pequena cidade do sul de Minas Gerais. Mas, a partir deste fato, o
INATEL se estruturou.
2 Efervescência sociocultural em Santa Rita do Sapucaí na década de 1960
Nos anos 60, o ponto de encontro dos moradores de Santa Rita do Sapucaí era no Country
Clube, local dos eventos da cidade com festas, bailes, jogos e almoços festivos. Mas, a simples
diversão, sem compromisso com a comunidade, estava incomodando um grupo que se dizia mais
engajado com o futuro do Brasil e queria que Santa Rita participasse do desenvolvimento do país.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
14
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
Então, em outubro de 1963, surgiu, a Sociedade Amigos de Santa Rita do Sapucaí - SASRS. A
primeira ideia da Sociedade era trazer um curso superior para cidade e, com total apoio da Sinhá
Moreira, a escola de ensino superior a ser criada se voltaria para eletrônica, tal como o modelo
bem-sucedido da ETE estabelecido no município. Seria como dar continuidade ao incipiente
projeto da benemérita, que se mostrou viável.
Em 1963, paralelamente ao propósito da SASRS de criação de um curso superior em
Santa Rita do Sapucaí, o professor José Nogueira Leite1, em Itajubá, afirmava que as
telecomunicações seriam o futuro do país e defendia a implantação de um curso superior neste
ramo no Brasil. O professor Leite dispunha de um bem estruturado projeto de implementação de
um curso superior de telecomunicações no Instituto Eletrotécnico de Itajubá
(IEI), onde
lecionava.
Neste contexto, o Ministério da Educação propôs uma verba extra para as escolas que
ampliassem a oferta de vagas da educação superior nos cursos existentes. Foi realizado um
vestibular extraordinário para ingresso no curso que seria criado no IEI voltado para eletrônica.
Alunos foram aprovados, mas, antes que as aulas pudessem começar, o golpe civil-militar de
1964 congelou o investimento prometido. Nessa situação, “[...] havia alunos aprovados em um
vestibular para um curso que, oficialmente, não existia” (INATEL, 2002, p. 26).
A SASRS não demorou a tomar conhecimento do trabalho pioneiro do professor José
Nogueira Leite e convidou-o para uma reunião com o objetivo de analisar a possibilidade de
trazer uma escola superior para Santa Rita do Sapucaí, tomando como base a estrutura
laboratorial em eletrônica existente na ETE.
1 José Nogueira Leite nasceu na cidade de Itajubá, Minas Gerais, em 02 de março de 1912. Era diplomado pelo IEI -
Instituto Eletrotécnico de Itajubá, Atual UNIFEI, e trabalhou de
1936 a 1954 como engenheiro chefe da
Companhia Radiotelegráfica Brasileira, a Radiobrás. A partir de 54, atuou como professor do IEI, colaborou com a
Fundação da ETE, pertenceu a comissão de Especialista de Engenharia do Brasil, foi membro do 1º Conselho
Estadual de Telecomunicações, colaborou com o CONTEL no projeto de auxílio de escolas de Telecomunicações
enviados a ONU e foi membro da Sociedade dos Amigos de Santa Rita do Sapucaí. Faleceu prematuramente no dia
17 de setembro de 1966, aos 54 anos.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
15
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
Figura 1 - Fotografia de José Nogueira Leite
Fonte: Documento compilado pelo autor no Centro de Memória do INATEL (2016).
3 O INATEL
O INATEL foi criado devido a uma série de variáveis que direcionaram as pessoas para o
objetivo de fundar uma escola de ensino superior voltada para eletrônica, criando fatos e
construindo a história. A benemérita, Sinhá Moreira, o Professor José Nogueira Leite, além da
Escola Técnica Eletrônica, ETE, o IEI, a SASRS, o Clube Feminino da Amizade - CFA, no
contexto histórico do Golpe Civil-Militar de
64, exerceram influência direta na criação e
desenvolvimento do Instituto. Em vários momentos, essa influência foi positiva, considerando-se
a necessidade de implantação e evolução que exigiam investimentos diversos, sobretudo, em seus
primeiros anos. Durante o governo militar, o instituto teve apoio político do governo vigente para
a sua implantação. Isto se deu, tendo em vista o interesse particular no desenvolvimento de
tecnologia que respaldasse os planos econômicos do projeto de nação e da política vigente. O
estado ditatorial tinha em vista o interesse desenvolvimentista em voga no contexto em que as
nações deveriam sair do lugar de países subdesenvolvidos (CUNHA, 1980).
Em julho de 1964, uma comitiva de professores do IEI, chefiada pelo Professor José
Nogueira Leite e também composta pelos engenheiros Fernando José Constanti e Fredmark
Gonçalves Leão, bem como alguns outros ilustres visitantes, partiu de Itajubá para Santa Rita do
Sapucaí com o objetivo de angariar apoio do diretor da ETE para o projeto de um curso de
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
16
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
telecomunicações na cidade. A essa altura, boa parte da população local já sabia, de alguma
forma, do ocorrido e surgiram os primeiros questionamentos: para que um curso de
Telecomunicações em Santa Rita do Sapucaí? E, principalmente: por que em Santa Rita do
Sapucaí? Estas perguntas puderam ser respondidas pelo próprio Professor Nogueira Leite, na
ocasião do encontro da comitiva com os munícipes participantes da reunião aberta organizada
pelos representantes da SASRS. Tal assembleia foi registrada em ata da
“3ª reunião
extraordinária da Sociedade Amigos de Santa Rita do Sapucaí, de três de julho de 1964”
(FONTES, 2007). Nesta convenção, o professor explanou sobre o projeto de criação do Instituto
de Telecomunicações na cidade.
Contudo, sob o regime militar recém-instaurado, sob o estado imbuído do anseio de
promover segurança e desenvolvimento nacional, que veio o incentivo à modernização do ensino
superior na região. Isto se deu, sobretudo, como estratégia para desarticular os movimentos
estudantis, que não poderiam ganhar força perante o governo
(SANFELICE, 2008). Neste
sentido, o governo militar criou uma série de instrumentos legais com o intuito de controlar,
suprimir e até mesmo extinguir o movimento estudantil. Tais providências são verificadas com a
promulgação da Lei Suplicy (Lei nº 4.464/1964) de nove de novembro de 1964, que “dispõe
sobre os órgãos de representação dos estudantes e dá outras providências”. De acordo com
Sanfelice (2008), a publicação desta regulamentação no diário oficial de 11 de novembro de
1964, retrata:
Ao mesmo tempo em que ficaram vedadas aos órgãos de representação estudantil
quaisquer ações, manifestações ou propagandas de caráter político-partidário, eles agora
estavam atrelados à fiscalização dos órgãos oficiais. Caberia à congregação ou ao
Conselho Departamental fiscalizar o Diretório acadêmico; ao Conselho Universitário,
fiscalizar o Diretório Central dos Estudantes e ao Conselho Federal de Educação,
fiscalizar o Diretório Estadual de Estudantes e o Diretório Nacional de Estudantes (p.
94).
É impossível desconhecer o esforço do Estado para submeter o movimento estudantil ao
seu controle. Guardadas as proporções, entende-se que buscaram transpor para o
movimento estudantil a prática que havia se desenvolvido, anteriormente, atrelando o
sindicalismo brasileiro ao poder (p. 105).
Embora todos esses relatos remetam a formas diversas de intervenção militar no Instituto,
não há, em nenhum documento pesquisado, menção explícita de apoio financeiro, tecnológico ou
estrutural do governo militar, além das visitas, palestras e homenagens, durante os primeiros anos
de funcionamento da escola e nos anos que se seguiram. Por sua vez, também não foram
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
17
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
localizados registros de depoimentos que mencionassem formas de desarticular movimentos
estudantis locais como aqueles percebidos nos centros acadêmicos das grandes cidades no mesmo
período. Tais constatações nos levam a crer que a constante presença dos militares no Instituto foi
insistentemente articulada pelo professor Leite como uma tentativa frustrada de transformar a
escola em um Instituto Federal, para ser absorvido pelo Ministério das Telecomunicações, tal
como havia acontecido com o Instituto Técnico da Aeronáutica - ITA, em São José dos Campos.
Segundo registros analisados
(LEITE, [s/d]), este constituía o projeto maior do diretor do
INATEL, no momento de sua implantação.
3.1 Os primeiros anos do INATEL
Em seu início, o INATEL se mantinha dentro da ETE, mas buscava novas alternativas
para se instalar em algum outro lugar independente da escola de eletrônica. Uma opção era o
antigo prédio do Instituto Moderno de Educação e Ensino (IMEE), escola no formato de internato
que começou suas atividades por volta de 1906, mas foi desativada no início da década de 1960.
Conforme depoimento de Joaquim Inácio Andrade Moreira2, o prédio, que se transformara em
um pensionato das irmãs de caridade, era mantido por doações e era de propriedade do
Educandário Santarritense, que demonstrou interesse em doar o imóvel para o INATEL. Desta
forma, por intermédio do deputado federal Bilac Pinto, foi enviado um ofício direto ao governo
de Minas Gerais, pedindo a transferência da propriedade das irmãs de caridade. Dentro de alguns
dias, veio a resposta positiva, que solicitou a remoção das moradoras e a doação do prédio para
funcionamento do que foi concretizado (NATALI, 2013, p. 60). Segue abaixo, uma descrição do
processo desta transferência:
Em 1966, o INATEL se transferiu para o prédio onde havia funcionado o Instituto
Moderno de Educação e Ensino, o IMEE, que fora doado por Sinhá ao Educandário
Santarritense e estava parcialmente desativado. Com verbas cedidas pelo governo do
estado, graças à uma intervenção de Bilac Pinto, O INATEL providenciou a reforma do
prédio, acrescentando uma nova sala, depois um anfiteatro e adquirindo os primeiros
aparelhos para os laboratórios (INATEL, 2002, p. 26-27).
2 Depoimento em áudio gravado e transcrito de Joaquim Inácio Andrade Moreira. Funcionário do INATEL e um dos
principais membros da SASRS, concedido ao Centro de Memória INATEL em 31 de agosto de 2010 (INATEL,
2011, p. 7-8).
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
18
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
No contexto desta instalação, o professor José Nogueira Leite, então diretor do INATEL,
mudou-se para Santa Rita, devido às dificuldades de gerenciar as exigências do cargo, com os
problemas de saúde e a vida penosa experimentada nas estradas. Contudo, com o agravamento
recorrente de seus problemas de saúde, um ano, cinco meses e dezessete dias, após a fundação do
INATEL, foi afastado da direção do Instituto e faleceu no dia 17 se setembro de 1966.
3.2 A construção do INATEL
Antes das obras realizadas em 1975, o INATEL contava com o prédio principal e algumas
construções ao redor ligadas a ele, conforme apresentado na figura 2 exposta na sequência:
Figura 1 - Fotografia do Instituto Nacional de Telecomunicações em 1975
Fonte: Documento compilado pelo autor no Centro de Memória INATEL (2016).
Para alavancar esta construção, o Professor Luiz Gomes, que era amigo do então
governador de Minas Gerais, Aureliano Chaves, por terem estudados juntos em Itajubá, no IEI e
utilizando-se dessa relação próxima, tentou conseguir recursos para ampliar o INATEL. Contudo,
o Professor não foi bem-sucedido em seu propósito. Nessa interlocução, o governador Aureliano
Chaves sugeriu que, ao invés de receber recursos, o INATEL prestasse serviços para o Estado e
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
19
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
fosse remunerado para tanto. Dos registros da conversa do Professor Luiz Gomes com o amigo
Aureliano Chaves, destaca-se a seguinte articulação: “Então, vamos fazer o seguinte, vamos
direto, não tem como te arranjar recurso. Mas você vai arranjar uma forma lá de prestar serviço
pro Estado, nós contratamos a fundação e dali, então, vocês vão ter recurso”3.
Após este investimento, o INATEL foi sendo construído aos poucos. A maioria das salas
de aulas e o setor administrativo, como estão abrigados hoje, são apresentados na
Figura 2 da foto exposta:
Figura 2 - Fotografia de construção do prédio 1 do INATEL na década de 1970
Fonte: Documento compilado pelo autor no Centro de Memória INATEL (2016)
Em um primeiro momento, as diferentes diretorias do INATEL priorizaram a
infraestrutura em prejuízo da proposta educacional. Essa, em segundo plano, seguiu os projetos
educacionais absorvidos das ideias que os professores do ITA e do IEI, ao serem contratados
como horistas, traziam para o Instituto, transformando-se em seus aplicadores. Isso resultou na
ausência de contornos próprios ou delineamentos educacionais muito claros, da parte do
INATEL.
3 Depoimento em áudio gravado e transcrito de Luis Gomes da Silva Júnior. Concedido ao Centro de Memória
INATEL em 17 de março de 2010 (INATEL, 2011, p. 8).
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
20
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
É fato que os engenheiros de operação formados pelo INATEL, nas décadas de 1960 e
1970, eram rapidamente absorvidos pelo mercado, tamanha era a oferta de trabalho. Mas, estes
profissionais começavam a observar problemas legais com o exercício da profissão. Além disso,
existia uma forte pressão do mercado para que o INATEL criasse um complemento para o curso
de Engenharia de Operação, tornando-o equivalente ao de Engenharia Plena, de quatro anos.
Como o quadro de professores do Instituto possuía docentes com formação em Engenharia de
Operação, a complementação foi aberta inicialmente para estes profissionais e depois, durante
algum tempo, ficou também disponível para a complementação curricular dos seus ex-alunos.
Em 1971, foi criado o curso de Engenharia Elétrica opção Eletrônica (BRASIL, 1975a):
um curso superior de engenharia, de 4 anos. Em 1977, o curso de engenharia de operações foi
extinto, não só pelo INATEL, mas pelo governo que também sofria uma pressão das demais
escolas de engenharia plena. Ainda em 1977, o curso de Engenharia Elétrica, opção Eletrônica,
passou a se chamar Engenharia Elétrica, modalidade Eletrônica, com duração de cinco anos
(BRASIL, 1978), oferecendo duas habilitações, dentre estas, os alunos poderiam escolher entre
Eletrônica ou Telecomunicações (BRASIL, 1975b). Essas duas opções perduraram até a década
de
1990, quando o INATEL se concentrou em sua especialização voltada para
Telecomunicações, conforme é destacado no enunciado:
A gestão do INATEL passou por um grande desafio tendo que lidar com a construção
física do campus e buscar uma identidade acadêmica com um modelo sólido de ensino.
Durante um período, o Instituto contemplava três cursos simultâneos: a complementação
da Engenharia de Operação, a Engenharia Plena de quatro anos e a Engenharia Plena de
cinco anos. Os dois primeiros seriam, aos poucos, excluídos da grade e o terceiro estava
sendo implantado, gradativamente (SOUZA, 1994, p. 34).
Apesar do desafio exposto, a década de 1970 era bastante favorável à formação em
engenharia, pois o mercado estava em franca expansão e a oferta de empregos era sempre maior
que a quantidade de formados. Tudo isso passava segurança à instituição de que o modelo
acadêmico empregado era exitoso. Assim, é depreendido da experiência verificada na instituição:
[...] professores em tempo integral e em tempo parcial envolvidos no projeto do
Instituto; relacionamento próximo entre estudantes e professores; construção permanente
de uma boa integração entre a escola e as empresas do setor de produção material,
principalmente através dos alunos e alunas egressos; além do panorama muito favorável
das telecomunicações no país, com muitos investimentos no setor (SOUZA, 2000, p.
26).
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
21
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
Tais reiterações demostravam que a direção estava no caminho certo, podendo dedicar-se
integralmente à construção da escola, pois pouco adiantava buscar novos alunos e equipamentos,
se o Instituto não dispusesse de instalações adequadas para salas de aulas e laboratórios. Então, o
INATEL construiu seu “campus” durante a dpcada de 1970 e se firmou como uma instituição de
destaque no mercado de trabalho, baseado em um modelo acadêmico que vinha sendo elaborado
enquanto as instalações da escola eram construídas. Mas, com base neste contexto, “nenhuma
liderança institucional, na época, propôs um planejamento estratégico, institucional e acadêmico,
que posicionasse a escola para a próxima década, a partir de um estudo de tendências para o setor
de atuação do instituto” (SOUZA, 1994, p. 35).
3.3 A crise do INATEL
Durante os anos 1970, o INATEL obteve reconhecimento do mercado de trabalho, devido
ao papel exercido de formar excelentes profissionais especializados em eletrônica e em
telecomunicações. Fator decisivo para a sua consolidação consistiu, além do esforço de seu
corpus profissional interno, o panorama favorável do país, com muitos investimentos na área e
uma demanda de vagas sempre maior do que a de profissionais formados. Contudo, na década
seguinte, o desenvolvimento das telecomunicações desacelerou e impactou diretamente na
administração do INATEL, causando forte desgaste na gestão acadêmica, que estava no poder
desde
1970. Neste contexto, a reputação gloriosa dos primeiros anos do INATEL estava
ameaçada, pois a harmonia do grupo constituído se diluía frente à uma gestão considerada
arbitrária e que foi instaurada no instituto, desde seus primórdios.
Segundo depoimento do ex-diretor Luis Gomes4, o corpo discente e a comunidade
Santarritense também não deixaram de se manifestar contra a direção do INATEL pelos
procedimentos pouco claros da administração vigente. No caso dos alunos, as reclamações
incluíam uma maior transparência com relação ao aumento das mensalidades e a aplicação
correta dos recursos. Vale destacar que essas manifestações eram contra o diretor do INATEL e
sempre a favor da Instituição. Assim, apesar do período turbulento em que o INATEL se
encontrava no cenário nacional, era reconhecido o desenvolvimento significativo observado pela
administração, até então.
4 Depoimento em áudio gravado e transcrito de Luis Gomes da Silva Júnior. Concedido ao Centro de Memória
INATEL em 17 mar. 2010. p. 9.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
22
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
3.4 A consolidação do INATEL
Em 1985, a direção do INATEL passou às mãos dos seus ex-alunos. Assim, tanto o
professor Navantino, que assumiu a presidência, quanto seu vice, o Professor Mário Augusto de
Souza Nunes, eram engenheiros formados pelo INATEL. A categoria dos estudantes também
chegou até a presidência da Fundação. O professor Adonias Costa da Silveira, que assumiu a
Fundação, era ex-aluno formado pelo instituto. Tal mudança “veio a ter influência decisiva nos
caminhos trilhados a partir daí pelo Instituto, transformando-o naquilo que ele é hoje” (INATEL,
2002, p. 65).
Com essa nova gestão, os ânimos se acalmaram e foi instaurada uma conciliação com a
comunidade acadêmica. Uma horizontalidade também se observou entre o instituto e a sociedade
santarritense. A nova diretoria e, principalmente, a nova postura do diretor inspiravam muita
confiança, além da experiência administrativa adquirida e, principalmente, sua flexibilidade em
termos de prática educativa desenvolvida. “Novas parcerias externas foram buscadas, a escola
abriu-se, francamente, às influências externas, expondo-se corajosamente à crítica de empresas,
empresários e ex-alunos” (SOUZA, 1994, p. 37).
Foi na gestão do professor Navantino, em 1987, que o INATEL desenvolveu uma
pesquisa formal para sondar o mercado de trabalho acerca da formação do alunado com o intuito
de referenciar e testar seu modelo de ensino. A pesquisa aconteceu entre alunos e ex-alunos do
instituto e foi responsável por grandes mudanças no processo de formação dos estudantes.
Neste período, o investimento do governo na indústria local era baixíssimo e forçava os
ex-alunos a buscarem novos horizontes em outras praças ou a desenvolverem seus próprios
negócios. A criação da estrutura educacional local impulsionou o desenvolvimento nesta área,
embora o retorno deste processo tenha sido lento. Nesta circunstância, o INATEL, em parceria
com outras instituições de ensino da cidade e com o apoio da prefeitura local, participou
ativamente do projeto intitulado “Vale da Eletrônica”. O projeto consistiu na “criação de um
parque industrial com pequenas e microempresas de tecnologia eletrônica, que mudou
completamente o perfil socioeconômico do município” (SOUZA, 1994, p. 38).
A partir deste fato, o INATEL se constituiu como um dos responsáveis diretos pelo
avanço tecnológico e o surgimento do Vale da Eletrônica. Além de educar, treinar e especializar
mão de obra capaz de atender à demanda local, incentivava diretamente seus alunos a tornarem-
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
23
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
se empreendedores. Um exemplo desse incentivo é a FETIN, que consiste em uma feira na qual
os alunos têm a oportunidade de expor seus projetos e, como em muitos casos, esses projetos
acabam virando produtos reais comercializados em todo mundo. O INATEL também criou, na
segunda metade da década de 1980, o Programa Incubadora de Empresas e Produtos. Este
programa, aberto à comunidade, “possibilita aos alunos e ex-alunos experimentarem a gerência
de seus próprios empreendimentos (INATEL, 2002, p. 72).
No final do mandato do professor Navantino, o INATEL já era conhecido no cenário
nacional, principalmente no meio industrial. Os professores e alunos se mantinham cheios de
esperança, pois eram inúmeros os planos e promessas do governo federal de voltar a investir em
telecomunicações, apesar de boa parte, dos planos, ficar somente na promessa. Desta forma, os
recursos disponíveis ao Instituto eram limitados e tiveram que ser administrados com cautela,
conforme mencionado a seguir:
O Ambiente interno voltou a ser saudável e estimulante, com a comunidade participando
da discussão e da solução dos problemas da instituição. A atividade acadêmica de
educação e formação dos alunos recuperou sua base de seriedade e comprometimento
(SOUZA, 1994, p. 39).
Em 1990, teve início um novo ciclo. Desta vez com o professor Mário Augusto de Souza
Nunes no cargo de diretor, escolhido em uma eleição sem oposição. Mário Augusto era vice-
presidente do professor Navantino e não mudou muito as medidas tomadas na gestão anterior.
Sem descuidar do excelente ambiente que havia sido recuperado, novos conceitos foram
empregados, segundo destacado:
a qualidade total na gerência do processo educativo e na administração escolar, a criação
de cursos de pós-graduação em áreas de interesse da instituição, incentivo de um
ambiente favorável à pesquisa e o desenvolvimento de parcerias para prestação de
serviços (SOUZA, 1994, p. 39).
Muito antes de se cogitar a ideia de incubadora no Instituto, Santa Rita do Sapucaí já
contava com algumas empresas de estruturas sólidas, oriundas do Vale da Eletrônica, que
surgiram ainda na década de 1970. Porém, muitos empreendedores abriam suas empresas com
estruturas precárias, sem muito apoio, utilizando os laboratórios da ETE e do INATEL em
períodos noturnos ou, de maneira autorizada pela instituição, quando não havia aulas, no período
diurno. A direção acreditava que sem o apoio adequado, muitas boas ideias poderiam naufragar.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
24
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
Então, em 1990, o professor Mario Augusto decidiu organizar o processo de incubação de
empresas5 e, em 1995, a incubadora de empresas do INATEL começou a contar com instalações
próprias e regulamentação específica para funcionar. O projeto prosperou de tal forma que, a
prefeitura de Santa Rita do Sapucaí, solicitou ao INATEL, a implementação do projeto da
Incubadora Municipal de Empresas, que constituiu em outro ponto de apoio para o
empreendedorismo do Vale da Eletrônica.
4 O INATEL de hoje
A proposta educacional existente hoje no INATEL pressupõe um ensino sólido em
engenharia, visando uma sociedade em constante transformação. Mas, essa perspectiva de
trabalho requer quebras de paradigmas e uma flexibilidade além da usual. Assim, é enunciado:
O modelo atual de educação para a Engenharia de Telecomunicações, bem como para
outras modalidades de engenharia e para outras áreas profissionais, tem sido alterado,
profundamente, nos conceitos, nos métodos e na organização acadêmico-curricular. Não
interessa à sociedade, e nem serve ao país, o engenheiro alienado em relação aos
problemas sociais, políticos, econômicos e ambientais que o cercam. A sua competência
profissional tem que ir muito além da simples competência técnica (SOUZA, 2000, p.
91).
Por sua vez, o mercado de trabalho aponta que a educação dentro de uma instituição que
forma engenheiros não pode reduzir-se ao ensino técnico ou profissional. A grade curricular deve
ser muito mais ampla do que as disciplinas específicas voltadas para a formação estrita do
engenheiro (BRASIL, 2002). Considera-se que é preciso englobar assuntos comuns da sociedade
de um modo geral, problemas políticos, econômicos, ambientais e sociais nesta formação
(CHAVES, 2012). Desta forma, tem-se uma preparação sólida e abrangente, tornando o recém-
formado apto a uma maior resiliência aos aspectos gerais e globalizados da atualidade, com
capacidade de atender com maior flexibilidade às necessidades do mercado atual de trabalho,
além de melhor inserir-se na sociedade como um todo (REGO, 2011).
Nesse cenário, a década de 80 delineou-se como muito positiva para o INATEL, tendo em
vista que o Instituto conseguiu se firmar com modelos de gestão e negócios que não envolviam
diretamente a academia (INATEL, 2002, 2011, 2015). Assim, a prestação de serviços surgiu, não
5 Depoimento em áudio gravado e transcrito de Pedro Sérgio Monti. Concedido ao Centro de Memória INATEL em
18 mar. 2010. p. 8
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
25
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
só como um modelo bem sucedido de negócio capaz de cobrir um período de crise, com a
absorção de novas fontes de receitas, com o intuito de gerir e amparar a estrutura educacional
como também possibilitou e desdobrou uma proposta de formação curricular ampla do
engenheiro, razão e objetivo desta instituição.
4.1 INATEL serviços e pesquisa
No contexto da reordenação da economia mundial, o relacionamento entre as instituições
acadêmicas e o setor industrial insere-se na pauta da integração e das parcerias para o
desenvolvimento local e regional.
Esse relacionamento vai impor transformações radicais na vida acadêmica, enquanto
exige adaptações e flexibilização do setor industrial (SOUZA, 2000, p. 38).
Na década de 1980, a prestação de serviços e a pós-graduação surgiram no INATEL,
como uma possibilidade de cobrir um período de crise financeira, mas também como demanda de
inserção do Instituto em contexto social amplo. Nessa conjuntura, verifica-se que a academia
experimenta uma necessidade constante de adaptação no que se relaciona a formação de seus
alunos com o mercado de trabalho. Enquanto desdobramento desse processo, existe também a
necessidade de a instituição adequar as disciplinas, principalmente as práticas, com o que o
mercado demanda de mão de obra. Neste sentido, a interação entre academia e empresa
constituiu um caminho capaz de responder aos desafios postos ao INATEL, de uma maneira
prática e direta.
Um conceito esclarecedor no que concerne a experiência bem-sucedida do INATEL, com
relação aos ajustes de ordem financeira e relativos à formação, consiste no modelo proposto pela
chamada Tríplice Hélice
(TH)6. Este modelo propõe um conceito, que agrega Academia-
Indústria-Governo, resguardando receitas para instituições escolares buscarem soluções para a
sua saúde financeira junto à empresa. A partir deste modelo, a empresa, produtora de bens de
consumo atua em parceria com o governo, regulador da economia, visando inovação e
desenvolvimento, conforme realizado pelo Instituto.
6 A abordagem da Hélice Tríplice, desenvolvida por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, é baseada na perspectiva
da Universidade como indutora das relações com as Empresas (setor produtivo de bens e serviços) e o Governo
(setor regulador e fomentador da atividade econômica), visando à produção de novos conhecimentos, a inovação
tecnológica e ao desenvolvimento econômico. A inovação é compreendida como resultante de um processo
complexo e dinâmico de experiências nas relações entre ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas
universidades, nas empresas e nos governos, em uma espiral de “transições sem fim” (TRIPLE..., 2016).
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
26
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
4.2 Expansões para outros cursos
Embora seja de conhecimento público que, por quase 40 anos de vida, o INATEL possuía
apenas um curso, o de Engenharia Elétrica
- Modalidade Eletrônica, nunca foi segredo a
pretensão de o Instituto à abertura de novas formações. Contudo, para alavancar este objetivo, era
preciso manter a coerência em relação ao nome e prestígio que o INATEL conquistou no
mercado. Para isso, era preciso manter os cursos dentro da experiência já adquirida. Portanto, a
ampliação não poderia ser realizada de outra forma que não fosse através da oferta de outras
engenharias. Desta maneira, o INATEL ampliaria o campo de atuação e o número de alunos,
mantendo uma base de disciplinas comuns em todas as habilitações de engenharia. O currículo
seria distinto em apenas uma parte do núcleo técnico e profissionalizante. De forma que,
[...] a crise no ensino privado superior brasileiro, desencadeada pela proliferação de
escolas com ofertas de cursos de baixo custo e discutível qualidade, somada ao
desaquecimento dos contratos de prestação de serviços, adiou a realização daquelas
metas nos prazos pré-estabelecidos, mas não impediu a instituição de avançar na busca
do desenvolvimento e da melhoria do seu projeto educativo (INATEL, 2015, p.27).
Os novos cursos surgiram no início dos anos 2000. Neste momento, o INATEL já tinha
incorporado a questão sociocultural em sua grade curricular com o projeto Casa Viva e o
programa INATEL Cultural. Além disso, incorporou o lado do empreendedorismo e a obra física
mais significativa: o Teatro INATEL, visando à ampliação de seus projetos e da formação
desenvolvida. Por sua vez, todo esse processo não foi por acaso. Ele se originou de uma conduta
pré-estabelecida e traçada pelo Instituto que seguiu a lógica do desenvolvimento da tecnologia e
do empreendedorismo.
O desenvolvimento de tecnologia decorreu do fato de a escola de engenharia voltar-se
para o desenvolvimento tecnológico e o empreendedorismo devido à demanda do mercado na
sociedade contemporânea pautar-se em inovação tecnológica voltada para o consumo. Nos dias
de hoje, dentro da competitividade tecnológica, é preciso inovar constantemente pra manter
consumo. De tal forma que, inovação, produto e consumo resultam em empreendedorismo. Esse
modelo constituído de empreendedorismo representa a contribuição social dada por elementos
relevantes que tomam a cultura como fator da humanização e a conscientização geral na
formação do engenheiro. O lema “Formar o homem para a engenharia”, a rigor, direcionou o
INATEL para dar os primeiros passos na questão da humanização com os projetos culturais,
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
27
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
tendo em vista que a valorização da cultura é um fator importante para humanização na formação
realizada.
Hoje o INATEL tem, em sua grade curricular, seis cursos de formação superior, sendo
quatro de engenharia, todos com cinco anos de duração e período integral e dois cursos
tecnólogos de três anos, no período noturno. Os cursos existentes são: Engenharia da
Computação; Engenharia Biomédica; Engenharia de Controle e Automação; Engenharia de
Telecomunicações; Tecnologia em Automação; Tecnologia em Gestão.
5 Considerações finais
A presente pesquisa intitulada “Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL): 50
anos de história”, teve a oportunidade de analisar o contexto social, cultural e econômico,
costurando-os dentro de um mesmo propósito que é a fundação e trajetória do INATEL na cidade
de Santa Rita do Sapucaí. A pesquisa buscou aproximar a história do Instituto com uma cidade de
origem agrícola, que se tornou, em apenas 50 anos, referência nacional - quiçá mundial - em
eletrônica e telecomunicações. A implantação de escolas do ramo no município de Santa Rita do
Sapucaí, tendo a Escola técnica em Eletrônica como pioneira, fundada em 1959, possibilitou uma
evolução tecnológica local jamais vislumbrada pelos seus moradores. Inicialmente a implantação
do INATEL; em seguida, a emergência do Vale da Eletrônica e tantas outras empresas e
iniciativas que em seus primórdios não davam indícios do que iria acontecer e muito menos de
que a cidade ganharia a proporção alcançada em desenvolvimento tecnológico que tem hoje, nas
décadas seguintes.
Voltando ao Instituto, para tentar delinear algo realmente conclusivo dentro das questões
levantadas, é preciso enumerar uma série de fatores que contribuíram direta ou indiretamente
para a criação do INATEL. Primeiramente, a questão primordial: “Por que Santa Rita do
Sapucaí?” Para responder a esta pergunta foi preciso voltar ao século XIX para entender um
pouco da cidade, sua construção e seus alicerces culturais, geográficos e de subsistência.
A evidência mais notável deste questionamento consiste na certeza de que nas décadas de
1940 e 1950 era impossível dimensionar em que o Instituto poderia resultar. Aconteceu uma série
de fatores sucessivos e interligados, fruto de ações específicas de seus idealizadores, beneméritos
e do projeto do professor José Nogueira Leite, que favoreceram a implantação do INATEL em
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
28
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
Santa Rita do Sapucaí. Assim, se não fosse a infraestrutura da ETE disponível em Santa Rita do
Sapucaí, a forte influência do assíduo ativista em prol do Instituto - o deputado federal Bilac
Pinto - no governo, além da expectativa e a motivação já implantada na população, Santa Rita do
Sapucaí não teria como concorrer com outras escolas de grande porte da região, tais como: o IEI
em Itajubá e o ITA, em São José dos Campos. Nas demais cidades, todas de maior população e já
com escolas de nível superior, as influências políticas das autoridades locais também eram
preponderantes. Contudo, muito do que foi feito resultou do empenho e das ações dos
idealizadores para implantar a escola de ensino superior no município.
O Golpe Civil-Militar de 1964 se constituiu na circunstância histórica específica, ao
desencadear mudanças de cunho político, social e econômico no Brasil, que foi de fundamental
importância para o Instituto. Este fato histórico foi crucial e determinante, de certa forma, porque
tirou o recurso do Instituto de Itajubá e direcionou-o para Santa Rita do Sapucaí, propiciando a
implantação do INATEL. Com o corte de investimentos que o IEI iria receber do Governo de
João Goulart, Itajubá que já tinha estrutura, tinha alunos, tinha professores ficou sem a verba
prometida. Santa Rita tinha um sonho de instalar uma escola de nível superior na cidade, uma
escola técnica em eletrônica bem estruturada e um grupo de pessoas dispostas a realizá-lo. Mas,
interceptações sucederam e convergiram no tempo para que houvesse a fusão do projeto
ambicioso do professor José Nogueira Leite e da cidade de Santa Rita do Sapucaí, cujo resultado
é a fundação do INATEL em 31 de março de 1965, exatamente um ano após o golpe militar. Esta
pode ser entendida com a primeira interferência do regime civil-Militar no Instituto. Primeira e
fundamental. Outro fator do período do governo militar que contribuiu fortemente para o
INATEL, mesmo que pontualmente foi o apadrinhamento da primeira turma de formados pelo
então Presidente da República - General Arthur da Costa e Silva, conforme mencionado.
A influência política da cidade que, com seus ilustres representantes, também se destacou
em momentos importantes da história do INATEL. O conjunto de decisões políticas e de ações,
tais como: o aceite da ETE em compartilhar sua infraestrutura; a doação do terreno do antigo
IMEE para o funcionamento do campus; a prestação de serviços para o governo de Minas; entre
outras ações, contribuíram diretamente para a concretização do Instituto que, sem as devidas
articulações e influências políticas não teria se estabelecido enquanto tal. Estas foram medidas
práticas que garantiram a fluidez e desenvoltura necessárias para a consolidação do Instituto na
cidade.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
29
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
Já na década de 1980, a abertura do INATEL para a comunidade promovida pela diretoria
e a criação do Vale da Eletrônica em parceria com a prefeitura da cidade contribuíram também
para ascender o que eles chamam de espírito empreendedor na cidade. Desse modo, estimulando
o desenvolvimento de novos produtos e novas empresas - pequenas, médias e grandes - garantiu
um crescimento na geração de empregos diretos e indiretos, principalmente de mão de obra
especializada, além de um desenvolvimento socioeconômico da região. Mais uma vez, uma
iniciativa que começou isolada dentro do Instituto, que ocasionou a transformação econômica da
comunidade local com seus projetos de empreendedorismo associados às empresas.
A movimentação da cidade em prol do Instituto é notória, embora exista um entrave para
que o acesso e as oportunidades disponibilizadas estejam ao alcance de todos. Não há como negar
que, pelo fato de ser uma escola particular, mesmo com a oferta de bolsas de estudos e créditos
educativos, as articulações em busca de melhorias para a cidade com o Instituto tinham como
objetivo atender aos interesses de uma elite da cidade, excluindo as classes menos favorecidas.
Neste sentido, reconhece-se que muito há o que se fazer no âmbito social para uma maior
expressividade e alcance do Instituto.
De posse dessas várias linhas de acontecimentos, que se entrecruzam e se chocam nos
últimos 50 anos, é possível ponderar que a realidade do Instituto se deu exatamente por essa
articulação e inserção com diferentes estruturas da sociedade. Essa série de fatos contribuíram, de
forma direta ou indireta, para a fundação, construção, evolução e consolidação do INATEL nos
moldes em que ele se apresenta aqui, hoje, 50 anos depois. Essa pesquisa buscou alinhar esses
acontecimentos no contexto de Santa Rita do Sapucaí e que foram o trampolim para a
consolidação do Instituto.
Os resultados alcançados, portanto, apresentam um pouco da história de Santa Rita do
Sapucaí e do INATEL. A intenção aqui nada mais é do que trilhar o caminho percorrido pelo
Instituto nestes 50 anos, apresentar os resultados e contribuir com o debate ao redor do Instituto e
da cidade de Santa Rita do Sapucaí, além de servir de estímulo para que outras pesquisas possam
ampliar cada vez mais o horizonte daqueles que buscam respostas ao redor do INATEL:
Instituto Nacional de Telecomunicações.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
30
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1997.
BRASIL. Decreto 76.415. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Seção 1, página 13557, 13 out. 1975a.
BRASIL. Decreto 70.169. Parecer 2.144/78. Diário Oficial da União, Brasília, DF, documento 212, p.
209, 5 jul. 1978.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei 5.194/66. Referenciais Nacionais dos Cursos de
Engenharia. Decisão Normativa Confea 57/1995. Resolução CNE/CES 11/2002. Brasília, DF: MEC,
2002.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parecer do Conselho Federal de Educação nº 2.970 de
1975, 11.309 de 1974 - CFE e 248.632 de 1975. Brasília, DF: MEC, 1975b.
CHAVES, Wander Wilson. Formar o homem para a engenharia: um lema, uma necessidade. 2012.
TCC (Pós-Graduação) - Escola Superior Aberta do Brasil - ESAB. Vila Velha, ES: ESAB, 2012.
CORREIO DO SUL. Santa Rita do Sapucaí, ano 51, n. 2.217, p.1, 01 nov. 1964.
CORREIO DO SUL. Santa Rita do Sapucaí, ano 52, n. 2.234, p.1, 4, 04 jul. 1965.
CORREIO DO SUL. Santa Rita do Sapucaí, ano 53, n. 2.266, p.1, 02 out. 1966.
CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica: o ensino superior na república populista. 3. ed. São
Paulo: UNESP, 2007.
CUNHA, Luiz Antônio. Educação e desenvolvimento social no Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1980.
FONTES, Lílian. Sinhá Moreira: uma mulher a frente de seu tempo. Rio de Janeiro: Gryphus, 2007.
GERMANO, José Willinton. Estado Militar e educação no Brasil: 1964/1985 - um estudo sobre a
política educacional. Campinas, SP: UNICAMP, 1990.
INATEL. Regimento do INATEL. Santa Rita do Sapucaí, MG: INATEL, 26 jun. 2015.
INATEL. Relatório de Gestão 2002-2010. Santa Rita do Sapucaí, MG: INATEL, 2011.
INATEL. Sonho e realidade. Santa Rita do Sapucaí, MG: INATEL, 2002.
LEITE, José Nogueira. Projeto de Criação do INATEL. (mimeo).
NATALI, D. M. Memória, cultura e poder: a cidade de Santa Rita do Sapucaí entre os anos de 1959 e
1985. São Paulo: Novas Edições Acadêmicas, 2013.
NOSELLA, Paolo; BUFFA, Ester. Instituições escolares: por que e como pesquisar. 2. ed. Campinas:
Alinea, 2013.
REGO, T. C. Educar para a diversidade: desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Moderna, 2011.
ROSA, D. B. da. Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL): 50 anos de história. 2016.
Dissertação (Mestrado) - Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, MG, 2016.
SANFELICE, José Luís. Movimento estudantil: a UNE na resistência ao golpe de 1964. Campinas:
Alínea, 2008.
SODRE, Nelson Werneck. Síntese de história da cultura brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1977.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
31
ROSA, Daniel Bustamante da; SANFELICE, José Luis. INATEL: Instituto Nacional de Telecomunicações.
SOUZA, J. G. de. Análise Crítica de uma proposta educacional: o Instituto Nacional de
Telecomunicações de Santa Rita do Sapucaí - INATEL (um estudo de caso). 1994. Dissertação
(Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, 1994.
SOUZA, J. G. de. Educação e desenvolvimento: uma abordagem crítico-analítica a partir do polo
tecnológico de Santa Rita do Sapucaí. Campinas, SP: [s.n.], 2000.
TRIPLE Helix Research Group - THERG-Brazil. Disponível em: <http://www.triple-helix.uff.br/sobre.
html>. Acesso em: 3 maio 2016.
Daniel Bustamante da Rosa
Instituto Nacional de Telecomunicações - INATEL |ICC-Inatel
Competence Center
Santa Rita do Sapucaí | MG | Brasil.
Contato: danielpedralva@yahoo.com.br
ORCID 0000-0001-6582-2513
José Luis Sanfelice
Universidade do Vale do Sapucaí - UNIVÁS | Pró-Reitoria de Pós-
Graduação e Pesquisa Mestrado em Educação
Pouso Alegre
| MG | Brasil. Contato: sanfelice00@gmail.com
ORCID 0000-0003-4667-2710
Artigo recebido em: 17 maio 2016 e
aprovado em: 29 mar. 2017.
Quaestio, Sorocaba, SP, v. 20, n. 1, p. 11-32, abr. 2018
32