Artigo
A formação por competências: um estudo da matriz curricular do curso
superior de Tecnologia em Gestão Empresarial
Competency training: a study of the curricular matrix of the Business Management Technology Higher Course
La formación por competencias: un estudio de la matriz curricular del curso superior de Tecnología en Gestión
Empresarial
Rodrigo Avella Ramirez - FATEC Zona Sul | Departamento de Coordenação de pós graduação e pesquisa
CEETEPS | São Paulo | SP | Brasil. E-mail: roram1000@hotmail.com
Thiago Vieira de Matos - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - FECAP | Aluno de Pós Graduação |
São Paulo | SP | Brasil. E-mail: tvmatos@gmail.com
Resumo: Este artigo procura entender quais são as competências pessoais e profissionais demandadas pelo mercado de trabalho
para os profissionais da área de administração de empresas e também se e como essas competências são inseridas no
Curso Superior de Tecnologia em Gestão Empresarial oferecido pelas Faculdades de Tecnologia do Centro Paula
Souza, entidade pública mantida pelo Governo do Estado de São Paulo. Para tanto, fundamenta-se em pesquisa
qualitativa na qual se analisa a pertinência da matriz curricular do curso tanto na visão do gestor escolar como diante
das expectativas de algumas empresas que, por conta da sua atuação, têm amplo contato com o mercado. Os resultados
obtidos indicam que há uma relação positiva, de reciprocidade e de diálogo, entre a oferta educacional e a demanda
corporativa.
Palavras-chave: Competências. Educação. Matriz curricular.
Abstract: This article seeks to understand the personal and professional competences demanded by the labor market for
professionals in the area of business administration and also if and how these competences are inserted in the Superior
Course of Technology in Business Management offered by the Centro Paula Souza, a public entity maintained by the
Government of the State of São Paulo. Therefore, it is based on a qualitative research that analyzes the pertinence of
the curricular matrix of the course both in the vision of the school director and in light of the expectations of some
companies, which, due to their performance, have broad contact with the Marketplace. The results indicate that there is
a positive relationship, reciprocity and dialogue, between the educational offer and the corporate demand.
Keywords: Competency. Education. Curricular matrix.
Resumen: Este artículo busca entender cuáles son las competencias personales y profesionales demandadas por el mercado de
trabajo para los profesionales del área de administración de empresas y también si y cómo esas competencias se
insertan en el Curso Superior de Tecnología en Gestión Empresarial ofrecido por las Facultades de Tecnología del
Centro Paula Souza , entidad pública mantenida por el Gobierno del Estado de São Paulo. Para ello, se fundamenta en
investigación cualitativa en la que se analiza la pertinencia de la matriz curricular del curso tanto en la visión del gestor
escolar como ante las expectativas de algunas empresas que, por cuenta de su actuación, tienen amplio contacto con el
mercado. Los resultados obtenidos indican que hay una relación positiva, de reciprocidad y de diálogo entre la oferta
educativa y la demanda corporativa.
Palabras clave: Competencias. Educación. Matriz curricular.
• Recebido em 8 de fevereiro de 2018 • Aprovado em 02 de maio de 2019 • e-ISSN: 2177-5796
DOI: http://dx.doi.org/10.22483/2177-5796.2019v21n2p525-538
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RAMIREZ, Rodrigo Avella; MATOS, Thiago Vieira de. A formação por competências: um estudo da matriz curricular do curso
superior de Tecnologia em Gestão Empresarial.
Introdução
Nos últimos anos, tem-se observado uma mudança na maneira como as sociedades se
organizam, o que se reflete no modo como desenvolvem em maior ou menor escala a sua
produção industrial. Esse maior ou menor desenvolvimento está diretamente relacionado à
capacidade de inovação que esse ou aquele Estado consegue promover, através de uma
infraestrutura tecnológica que se sustenta a partir do conhecimento. Logo, sociedades
desenvolvidas acumulam alta capacidade de gerar conhecimento e inovação, despontando como
detentoras de alta tecnologia e indústria com alto valor agregado.
Esse potencial inovador que impulsiona as economias mundiais está ancorado num forte
pilar educacional, onde a universidade (e as outras faixas de escolarização) figura como um dos
principais centros de propulsão da capacidade tecnológica de uma nação.
Nesse sentido, o artigo abordará os aspectos essenciais da formação do profissional,
mapeando, desse modo as competências essenciais ao egresso de um curso de graduação no
Ensino Superior Tecnológico, observando as características estruturantes desse tipo de graduação
que, em sua essência, prescinde uma estreita relação com o mercado de trabalho, já que objetiva
ofertar mão de obra qualificada e capaz de resolver impasses, analisar cenários e apontar
caminhos no âmbito da Gestão Empresarial. Assim, ocupar-se-á de detectar se a formação do
tecnólogo é suficiente para atender às demandas do mercado, se consegue, em um tempo menor
que os cursos tradicionais de Bacharelado e Licenciatura, desenvolver as competências
necessárias para que os profissionais consigam enfrentar as rotinas da administração de empresas
no nível Tático, ou seja, na faixa hierárquica que compreende as tarefas gerenciais da
organização.
Para cumprir seus objetivos, esse artigo se ampara na pesquisa de campo e no estudo de
caso, tendo como objeto de estudo a Matriz Curricular do Curso Superior de Tecnologia em
Gestão Empresarial oferecido pela Fatec Zona Sul, São Paulo. Para tanto, o trabalho selecionou
organizações que, por conta da sua atuação, têm amplo contato com o setor empresarial e,
portanto, são capazes de contribuir no delineamento do perfil profissional desejado para o
profissional de gestão. Para a pesquisa de campo foram selecionadas o CIEE - Centro de
Integração Empresa Escola, entidade responsável por gerir estágios a estudantes de todos os
níveis e de abrangência nacional; a 99jobs, empresa de recursos humanos; o CRA - Conselho
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Regional de Administração, órgão responsável pelo credenciamento dos profissionais formados
em Administração.
Assim, o principal objetivo da pesquisa é verificar como se estabelece essa relação com os
setores produtivos, isto é, se as instituições
- empresa e escola, através de suas práticas
cotidianas, estão em consonância no que diz respeito à criação e desenvolvimento de
competências.
Desenvolvimento - Referencial teórico
É possível afirmar que o surgimento da educação tecnológica está ligado à sua capacidade
de acompanhar o desenvolvimento tecnológico e contribuir no processo de inovação de uma
sociedade, gerando fluidez no trânsito entre conhecimento tácito
(adquirido através da
experiência) e conhecimento científico (adquirido e desenvolvido nas instituições de ensino e
pesquisa. Os modelos de educação técnica aplicados no Brasil, ora pelo setor industrial, ora pelo
setor de comércio, através, respetivamente do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
e SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, foram modelos de aprendizagem
profissional que impulsionaram o desenvolvimento da educação tecnológica, que mais tarde
(meados da década de 60) se configuraram como os Institutos Federais e FATECs.
Foi, aliás, no contexto da necessidade de formação de técnicos e de trabalhadores
qualificados para atender às demandas de um país em processo de industrialização e de
modernização que o governo brasileiro promoveu, deste o início do século XX, a
expansão da rede de escolas técnico-profissionais públicas e, na década de 40, foram
criados o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), para o setor industrial,
e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), para o setor de comércio e
serviços. Posteriormente, foram criados, também, o Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural (SENAR) para o setor agrícola, o SENAT, para o setor de transportes e, ainda, o
SEBRAE, para o atendimento e o desenvolvimento das pequenas e médias empresas e
de novos empreendedores. E é interessante verificar que, ao longo de quase seis décadas
de existência, essas instituições tiveram como preocupação permanente acompanhar,
com seus cursos, os processos de expansão e de diversificação da economia nacional, e
as mudanças equivalentes em termos de tecnologias de produção (BRASIL, 2008, p.
276).
Assim, entende-se como formação, no sentido estrito desse artigo, o processo de
aprendizagem técnica de um determinado campo do conhecimento, conferindo ao
estudante/profissional a capacidade de resolver problemas inerentes ao setor produtivo, através da
apreensão de ferramentas, inovação tecnológica e formação generalista, que possam lhe conferir
competências e habilidades.
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A formação para o trabalho puramente técnica consiste na qualificação do indivíduo para
a execução de uma determinada atividade produtiva, ou seja, busca ensinar uma profissão.
Formação tecnológica, então, consiste na qualificação da pessoa para o mercado, suprindo
suas necessidades técnicas e gerenciais, isto é, conferir ao profissional um conjunto de
competências intelectuais, técnicas, organizacionais e metodológicas, contribuindo no processo
de condensação e difusão do conhecimento técnico e como afirmam Menino, Peterossi e
Fernandez (2009, p. 6):
Pode-se definir a pesquisa em cursos de tecnologia como o esforço vinculado à
capacitação dos agentes do processo de inovação, cuja função é a de acompanhar e
expandir a fronteira do conhecimento, além de treinar jovens para a atividade de
prospecção, absorção e difusão de conhecimentos.
Tecnologia, por sua vez, pode ser definida como ferramenta desenvolvida para o
suprimento e desenvolvimento de uma determinada atividade humana e compreensão de uso
dessa ferramenta, ou seja, desenvolver no profissional a capacidade de uso da tecnologia e a
compreensão da necessidade de sua existência e os impactos da sua utilização, conferindo-lhe
domínio sobre ela.
A preocupação com a formação dos trabalhadores, ou seja, a capacidade que o
profissional tem de absorver uma determinada tecnologia e aplicá-la em prol de um determinado
objetivo, deriva de uma mudança de eixo na própria estrutura da sociedade
Olhando a sociedade do ponto de vista da divisão social do trabalho, é possível pensar
que ela está organizada em termos de um conjunto de ocupações, ou profissões, cada
qual com suas necessidades específicas de formação de competências
(SCHWARTZMAN, 2005, p. 7).
Se é verdade que o mercado demanda perfis profissionais cada vez mais construídos a
partir de competências específicas, também pode-se afirmar que a educação profissional será um
dos meios mais efetivos de incuti-las em suas matrizes curriculares e, de tempos em tempos,
verificar sua pertinência. Isso pode ser observado em Schwartzman (2005, p. 8), quando ele
afirma que “os empregadores, ao contratar seus empregados, usam as credenciais educacionais
como critprio para identificar as pessoas de que necessitam”. Assim, pode-se pensar no seguinte
ciclo: as necessidades humanas demandam bens e serviços que serão ofertados por empresas que
demandam profissionais e esses, por sua vez, demandam formação capaz de lhes conferir
ferramentas e técnicas necessárias para o desenvolvimento de uma atividade profissional,
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competências. Logo, “a hipótese implícita p que uma formação mais tpcnica seria mais útil para a
sociedade, teria maior demanda, e aumentaria a produtividade da economia como um todo”
Schwartzman (2005, p. 10), explica Schwartzman (2005) ao analisar o aumento da demanda por
formação voltada para o mercado de trabalho.
As competências enquanto ações e operações mentais, articulam os conhecimentos (o
“saber”, as informações articuladas operatoriamente), as habilidades (psicomotoras, ou
seja, o “saber-fazer” elaborado cognitivamente e socioafetivamente) e os valores, as
atitudes (o “saber-ser”, as predisposições para decisões e ações, construídas a partir de
referenciais estéticos, políticos e éticos) constituídos de forma articulada e mobilizados
em realizações profissionais com padrões de qualidade requeridos, normal ou
distintivamente, das produções de uma área profissional (BRASIL, 2000, p. 10).
No texto “Referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível técnico”
(BRASIL, 2000), elaborado pelo Ministério da Educação, define-se o conceito de competência
que é adotado na formação profissional tecnológica e parâmetro aqui adotado como referencial.
Ao observar a figura 1, também extraído do documento do BRASIL (2000), pode-se
constatar, ainda, que o conceito de competência provém da capacidade de articulação de
conhecimentos, habilidades e valores gerando desempenho eficiente e eficaz.
Figura 1 - Conceito de competência
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Referenciais curriculares nacionais da educação profissional de
nível técnico. Brasília: MEC, 2000. p.11.
Logo, gerir um empreendimento no século 21 exige o que se chama de visão holística ou
visão 360º, ou seja, a capacidade de compreender a instituição em sua estrutura interna, a
sociedade na qual está inserida, o contexto econômico, histórico e cultural, o posicionamento da
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concorrência e a ampla capacidade de projetar o futuro; Isso pode ser compreendido dentro do
contexto das grandes transformações na sociedade nas últimas décadas, sobretudo quando “j
globalização econômica corresponde, pois, a globalização do mundo do trabalho e da questão
social” (DELUIZ, 1996, p. 1), afirma Deluiz no qual:
O trabalhador multiqualificado, polivalente, deve exercer, na automação, funções mais
abstratas e intelectuais, implicando cada vez menos trabalho manual e cada vez mais a
manipulação simbólica. É também exigido desse trabalhador, capacidade de diagnóstico,
de solução de problemas, capacidade de tomar decisões, de intervir no processo de
trabalho, de trabalhar em equipe, auto-organizar-se e enfrentar situações em constantes
mudanças (1996, p. 1).
É nesse ponto que o conceito de competência e capacidade empresarial se cruzam: tão
logo, no contexto que vivemos, com suas complexidades e nuances, é necessário entender que a
qualificação profissional está diretamente relacionada com a capacidade que a organização tem
de gerar riqueza e manter-se competitiva. Assim, o conjunto de competências essenciais ao
profissional contemporâneo é também o conjunto de competências da empresa contemporânea e
caracteriza-se por:
[...] competências intelectuais e técnicas (capacidade de reconhecer e definir problemas,
equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo de
trabalho, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos),
[...]
competências organizacionais ou metódicas
(capacidade de auto planejar-se, auto
organizar-se, estabelecer métodos próprios, gerenciar seu tempo e espaço de trabalho),
as competências comunicativas (capacidade de expressão e comunicação com seu grupo,
superiores hierárquicos ou subordinados, de cooperação, trabalho em equipe, diálogo,
exercício da negociação e de comunicação interpessoal), as competências sociais
(capacidade de utilizar todos os seus conhecimentos - obtidos através de fontes, meios e
recursos diferenciados - nas diversas situações encontradas no mundo do trabalho, isto
é, da capacidade de transferir conhecimentos da vida cotidiana para o ambiente de
trabalho e vice-versa) e as competências comportamentais
(iniciativa, criatividade,
vontade de aprender, abertura à mudanças, consciência da qualidade e das implicações
éticas do seu trabalho, implicando no envolvimento da subjetividade do indivíduo na
organização do trabalho) (DELUIZ, 1996, p. 2-3).
Ou seja, se esse conjunto de competências são inerentes ao profissional, tão logo são
essenciais à organização como um todo, relacionando-se com outras organizações, sociedade,
governo e órgãos internacionais.
É a educação para o trabalho responsável pela formação de profissionais com sólido
aparato técnico e ampla capacidade de tomada de decisões baseada na concatenação entre
qualificação técnica e gerencial, alicerces da formação tecnológica; assim, pode-se conferir ao
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tecnólogo a capacidade de acompanhar as mudanças de tecnologia em tempo hábil de aplicá-las
ao setor produtivo e, daí sua importância estratégica nas organizações do futuro.
No âmbito, então, da gestão de negócios, compreendida aqui como a capacidade de
articular fatores de produção [escassos] em prol do suprimento de uma determinada necessidade
humana [inesgotável], a capacidade empresarial é diretamente proporcional ao conjunto de
competências de seus profissionais que suscitam uma produção eficiente e eficaz.
Este conceito de competência profissional não se limita apenas ao conhecimento.
Envolve ação em dado momento e determinada circunstância, implica em um fazer
intencional, sabendo por que se faz de uma maneira e não de outra. Implica, ainda, em
saber que existem múltiplas formas ou modos de fazer. Para agir competentemente é
preciso acertar no julgamento da pertinência e saber posicionar-se autonomamente
diante de uma situação, tornar-se capaz de ver corretamente, julgar e orientar sua ação
profissional de uma forma eficiente e eficaz. A competência inclui, também, além do
conhecer, o julgar, o decidir e o agir em situações previstas e imprevistas, rotineiras e
inusitadas. Inclui, também, intuir, pressentir e arriscar, com base em experiências
anteriores e conhecimentos, habilidades e valores articulados e mobilizados para resolver
os desafios da vida profissional, que exigem respostas sempre novas, originais, criativas
e empreendedoras. Sem capacidade de julgar, considerar, discernir e prever resultados
distintos para distintas alternativas, de eleger e de tomar decisões autônomas, não há
como se falar em competência profissional (BRASIL, 2008, p. 285).
A partir da citação acima, pode-se inferir que a maior racionalidade no trabalho
[eficiência] com o objetivo de suprir uma demanda real da sociedade [eficácia] são reflexos de
desempenho obtidos a partir da formação baseada em competências desejada no ensino
tecnológico.
Método
Após o estudo da formação do gestor ter sido referenciado a partir da formação por
competências, e, essas competências terem sido apresentadas a partir de um recorte teórico, fez-
se necessário fazer contato com agentes de mercado que pudessem sinalizar o que vem sendo
destacado pelo setor produtivo, ou seja, o conjunto de empresas e organizações que geram
empregos. Foram escolhidos referenciais no mercado que, por conta da natureza de sua atuação,
pudessem colaborar com as afirmações aqui presentes, afirmando-as ou contradizendo-as,
corroborando para a reflexão da temática.
Tendo por base a matriz curricular do curso de Gestão Empresarial da Fatec , elaborou-se
um questionário qualitativo focalizado, com temas chave de perguntas, seguindo um roteiro
preestabelecido.
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Foram entrevistados: o CIEE - Centro de Integração Empresa- Escola, responsável pela
colocação de estagiários no mercado de trabalho e disponibilizar formação complementar aos
estudantes para potencializar suas competências; a 99Jobs, empresa de recursos humanos e
hunting sediada em São Paulo e com abrangência nacional e, portanto, amplo canal de
comunicação com o mercado; e o CRASP - Conselho Regional de Administração de São Paulo,
órgão representativo da classe de administradores. Todos esses agentes do mercado estão no raio
de cobertura da FATEC Zona Sul e que mantém alto nível de contato com o mercado de forma
geral, sendo, então, concentradores de informações comuns às muitas empresas que atendem.
Vale ressaltar que os entrevistados não obtiveram acesso à matriz curricular e não foram
informados sobre o nome da instituição.
Em contrapartida, além das organizações ligadas ao mercado, foi entrevistada a FATEC
Zona Sul, por meio da sua Diretoria, de modo que se pudesse conciliar um universo comum das
competências necessárias ao profissional sob a ótica da instituição formadora.
Resultados e discussão - Análise da matriz curricular
O mercado, de modo geral, demanda competências específicas de acordo com as
necessidades de cada empresa, dependendo do seu foco estratégico e suas definições de missão,
visão e valores. Essas “vontades” chegam ao cenário acadêmico por diversas fontes e entre elas
os próprios professores da instituição que, em grande parte, atuam no mercado como
profissionais, consultores ou empresários. Desse modo, a inovação dos processos que acontece
nas organizações chega à faculdade na velocidade em que elas acontecem, proporcionando um
cenário mais factual aos estudantes.
Pode-se observar na matriz curricular do curso, quadro 1, as diversas competências
apontadas até aqui, seja no referencial teórico, seja na pesquisa de campo com as empresas. Isso
pode ser constatado pela distribuição de disciplinas técnicas, generalistas, de comunicação e
idiomas, conferindo aos alunos conhecimentos gerais e específicos, necessários ao seu
desenvolvimento profissional. As disciplinas estudadas ao longo do curso são organizadas por
eixos formativos como ilustra o quadro 2, a seguir, e confirmam o discurso do diretor da unidade
quando diz que “de maneira bem ampla, se pegarmos as disciplinas para cada curso de gestão
empresarial que trabalha a gestão dentro das empresas e suas atividades, nosso curso tem
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disciplinas bastantes trançadas diferentes dos cursos de administração (bacharelado) onde
poucas disciplinas conversam entre si”.
Fonte: SÃO PAULO. Centro Paula Souza. Faculdade de Tecnologia da Zona Sul. São Paulo, 2017. Disponível
em:http://fateczonasuledubr.revistaref.dominiotemporario.com/wp-content/uploads/2014/01/pp_gestao.pdf.
Acesso em: 10 jan. 2017. p. 3.
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Quadro 2 - Distribuição das aulas por eixo formativo
Fonte: SÃO PAULO. Centro Paula Souza. Faculdade de Tecnologia da Zona Sul. São Paulo, 2017. Disponível
em: http://fateczonasuledubr.revistaref.dominiotemporario.com/wp-content/uploads/2014/01/pp_gestao.pdf.
Acesso em: 10 jan. 2017. p. 3.
Resultados e discussão - Análise das entrevistas
Entre outubro e novembro de 2016, os participantes foram ouvidos e entrevistados
seguindo um roteiro semiestruturado de perguntas que buscou mapear as competências
necessárias ao gestor contemporâneo e, a partir de suas falas pôde-se perceber que:
Apesar de ser essencial que o gestor seja dotado de habilidades técnicas, sua formação
humanística e sua bagagem de experiências pessoais são tão importantes quanto na hora de
conduzir equipes e, para tanto, a formação desse profissional deve contemplar esse tipo de
discussão;
[...] as empresas têm valorizado um pouco mais a competência pessoal do que técnica. Por exemplo,
nunca houve de um gestor me questionar o porquê de um candidato não possuir certa habilidade técnica,
e sim questionar sobre mimos e insuficiência. Ou seja, competências como: iniciativa, pró-atividade,
energia para realizar, resiliência. Isso é muito mais valorizado em um profissional no início de carreira,
porque as empresas estão dispostas a ensinar o técnico, já que, é mais fácil ensinar o técnico do que o
comportamental. (LIVIA PARRA, 99Jobs)
As competências técnicas estão atreladas às necessidades de cada organização, cargo ou
tarefa, e variam caso a caso;
O gestor deve ser alguém capaz de lidar com conflitos e questões humanas o tempo todo e
essas demandas têm estreita relação com a capacidade de empatia do profissional;
É fundamental que a universidade esteja constantemente conectada ao setor produtivo
para não perder o caráter profissional da formação;
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É uma oportunidade de uma troca de informações muito rica tanto para o estudante, quanto para a
empresa, quanto para a escola. Dentro do ambiente empresarial ele vai trazer essas inovações para a
empresa. Dentro do ambiente escolar ele também vai poder discutir toda essa sorte de transformações que
ele vivencia e obter e trocar informações com seus professores sobre isso. (ROBERTO MATTUS, CIEE)
As organizações estão enfrentando situações cada vez mais complexas e novas, por conta
de uma profunda transformação no modo como a sociedade se organiza e, portanto, precisa de
profissionais cada vez mais capazes de adaptar-se e criar novas maneiras de manter as empresas
competitivas e capazes de suprir a sociedade em suas necessidades e desejos;
É minha opinião também como tecnólogo há 43 anos pude ver muita coisa com relação a tecnólogos, digo
então que o tecnólogo sai pronto para exercer suas atividades em qualquer área que seja dentro de sua
formação. Ele tem um pouco mais de exercícios práticos, porque o professor vem do campo do trabalho,
sendo assim um professor de contabilidade vai aplicar a disciplina com os mesmos mecanismos utilizados
no mercado. (Dr. GERALDO DA SILVA, Diretor da Fatec Zona Sul)
A profissionalização deve surgir ainda dentro das universidades de modo que os
estudantes possam assumir posturas mais competitivas. Ou seja, o cotidiano escolar deve conter
simulações de práticas do cotidiano corporativo.
Além desses fatores de ponderação, algumas competências foram evidenciadas em cada
uma das entrevistas e podem ser alocadas em blocos temáticos apresentados no quadro 3, a
seguir.
Quadro 3 - Competências do profissional/ gestor tecnólogo
Comunicação Oral e Escrita
Informática
Inglês / Espanhol
Competências Técnicas
Conhecimento de Administração
Pensamento Estratégico
Relacionamento Interpessoal
Competências Sociais
Trabalho em Equipe
Automotivação
Iniciativa / Proatividade
Competências Comportamentais
Resiliência
Comprometimento
Fonte: Elaborado pelo autor.
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É importante ressaltar que, apesar de as competências destacadas apontarem uma
formação humana mais acentuada para o gestor, em todas as entrevistas fica claro que as
competências técnicas variam de acordo com a necessidade da organização e demandam
habilidades diferentes, ou seja, o perfil para um profissional que será responsável por finanças
demandará competências relativas a cálculo e raciocínio lógico, concentração e domínio de
ferramentas correlatas à matemática; por outro lado, um perfil para um profissional da área de
marketing demanda competências relativas à criatividade e capacidade de comunicação
simbólica.
Nesse ponto fica perceptível a abrangência da matriz curricular que, essencialmente,
engloba todas as competências aqui destacadas e as insere dentro das disciplinas, distribuindo-as
por eixos formativos e possibilitando uma formação multidisciplinar e efetiva no diálogo com as
necessidades do mercado.
Conclusão
É de vital importância que o estudante e futuro profissional tenha pleno conhecimento
sobre os aspectos do mercado ao qual pretende ingressar após a conclusão de seu curso. Além de
conferir-lhe segurança no sentido de poder dotar-se das ferramentas que precisa, mantém-se
conectado às mudanças, cada dia mais presentes, no cenário profissional que pretende atuar.
Dentro dessa perspectiva, esse trabalho concentrou forças em mapear as competências
necessárias para o gestor empresarial e confirmar que estas competências estão presentes na
matriz curricular do curso Superior de Tecnologia em Gestão Empresarial oferecido pela
Faculdade de Tecnologia da Zona Sul, São Paulo, SP.
Além disso foi possível, através da entrevista com as instituições selecionadas, definir
quais são as principais competências que estão sendo demandadas pelas empresas para os
profissionais formados na área de administração (que encampa a gestão empresarial) e, pode-se
perceber que habilidades sociais como facilidade de integração em grupos, trabalho em equipe,
capacidade de comunicação e automotivação são, em muitos casos, mais valorizadas que as
habilidades puramente técnicas que, naturalmente, são de instrumental importância para
desenvolvimento de qualquer tarefa.
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No âmbito acadêmico, foi de estratégica importância, também, a entrevista com o diretor
da FATEC Zona Sul, que ajudou a entender como essas competências são distribuídas dentro das
disciplinas e o quanto é fundamental, para a concretização dos objetivos do curso, a presença de
docentes com fortes relações com o mercado já que, consequentemente, aportam à sua prática
docente as rotinas adotadas pelas empresas.
Pôde-se também verificar que todo o bojo de competências técnicas e humanas incutidos
no estudante tem, essencialmente, o propósito de construir um profissional capaz de solucionar
problemas e equacionar situações complexas nas organizações. Sobretudo, um profissional que
seja capaz de estar atento às constantes mudanças sociais e tecnológicas que vêm afetando
drasticamente o modo como as empresas organizam sua produção e a distribuição dos seus
produtos / serviços. A formação construída na instituição é sólida o suficiente para dar ao
profissional a capacidade de agir estrategicamente, coordenar ações que elevem a capacidade
competitiva da organização e a habilidade de mapear e distribuir talentos, alocando-os de modo a
atingir os desejos e metas da empresa. Dentro dos parâmetros até aqui expostos, a formação do
tecnólogo em gestão empresarial da FATEC é pertinente, atual e desafiadora; proporciona
cenário favorável à construção de um profissional plenamente capaz de atuar nos mais diferentes
meios de trabalho, apto a conduzir processos e pronto para os desafios intrínsecos à sua atuação
profissional.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Educação profissional e tecnológica: legislação básica - nível
superior. 7. ed. Brasília: MEC, 2008.
BRASIL. Ministério da Educação. Referenciais curriculares nacionais da educação profissional de
nível técnico. Brasília: MEC, 2000.
CEETEPS. Projeto Pedagógico Curso Superior de Tecnologia em Gestão Empresarial. São Paulo.
Disponível em: http://fateczonasuledubr.revistaref.dominiotemporario.com/wp-
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