Artigo
Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais escolares
Domestic economy: a perspective from school textbooks
Economía doméstica: una perspectiva a partir de manuales escolares
Eva Maria Siqueira Alves - Universidade Federal de Sergipe | Programa de Pós-Graduação em Educação | São
Cristóvão | SE | Brasil. Contato: evasa@uol.com.br
Sayonara do Espírito Santo Almeida - Universidade Federal de Sergipe | Programa de Pós-Graduação em
Educação | São Cristóvão | SE | Brasil. Contato: sayonaralmeida@hotmail.com
Resumo: Analisar os conhecimentos propostos pela disciplina escolar Economia Doméstica por meio das obras Noções de
Economia Doméstica (1946), de Isabel Serrano, e Economia Doméstica (1957), de Marina Souza, constitui o objetivo
do artigo. Para tanto, utilizou-se como fontes, as obras mencionadas, as legislações e o programa oficial de ensino
secundário, norteando a pesquisa pelos conceitos de disciplina escolar e livro didático. Verificou-se que os saberes da
Economia Doméstica não incluíam exclusivamente orientações e regras para a boa mãe, dona de casa e esposa, mas
geravam conhecimentos científicos, principalmente ligados à área da Biologia, Psicologia e Sociologia.
Palavras-chave: Disciplina escolar. Educação feminina. Ensino secundário.
Abstract: The goal of the article is to analyze the knowledge proposed by the school discipline Domestic Economy through the
works of Notions of Domestic Economy (1946) by Isabel Serrano and Domestic Economy (1957) by Marina Souza. In
order to do so, the mentioned works, the legislations and the official secondary education program were used as
sources, guiding the research by the concepts of school discipline and textbook. It was verified that the knowledge of
the Domestic Economy did not exclusively include guidelines and rules for the good mother, housewife and wife, but
generated scientific knowledge, mainly related to the area of Biology, Psychology and Sociology.
Keywords: School discipline. Women's education. High school.
Resumen: Analizar los conocimientos propuestos por la disciplina escolar Economía Doméstica a partir de las obras
de
Nociones de Economía Doméstica (1946), de Isabel Serrano, y Economía Doméstica (1957), de Marina Souza,
constituye el objetivo del artículo. Para eso, se utilizó como fuentes, las obras mencionadas, las leyes y el programa
oficial de enseñanza secundaria, orientando la investigación por los conceptos de disciplina escolar y libro didáctico.
Se verificó que los saberes de la Economía Doméstica no incluían exclusivamente orientaciones y reglas para la buena
madre, dueña de casa y esposa, pero generaban conocimientos científicos, principalmente relacionados al área de
Biología, Psicología y Sociología.
Palabras clave: Disciplina escolar. Educación femenina. Enseñanza secundaria.
• Recebido em 23 de setembro de 2018 • Aprovado em 02 de maio 2019 • e-ISSN: 2177-5796
DOI: http://dx.doi.org/10.22483/2177-5796.2019v21n2p481-502
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
1 Introdução
Para ouvir suas vozes - as palavras das mulheres -, é preciso abrir não somente os
livros que falam delas, os romances que contam sobre elas, que as imaginam e as
perscrutam - fonte incomparável, mas também aqueles que elas escreveram (PERROT,
2015, p. 31).
O discurso de Perrot (2015) sugere novas possibilidades de pesquisa quando se trata sobre
a História das Mulheres Perrot (1988, 2005). Os argumentos que constroem tal fala conduzem o
objetivo principal deste artigo, ao passo que, na pesquisa, debruçamo-nos sobre a escrita de
autoras de livros didáticos de Economia Doméstica com a finalidade de expor os principais
conhecimentos relativos ao citado saber educacional.
Estudos
(BITTENCOURT,
1993; MUNAKATA,
1997; GATTI JUNIOR,
1998,
FREITAS, 2009, dentre outros) demonstram que, o uso dos manuais escolares ou livros didáticos
como fonte histórica tem adquirido espaço nas pesquisas brasileiras, dentre outros motivos, “pela
multiplicidade de olhares que ele pode impelir sobre eles” (CHOPPIN, 2001, p. 14). Esses
materiais portam crenças, valores e comportamentos que circulam ou circularam em determinado
tempo, colaborando na difusão de discursos que estejam em conformidade ao imaginário de uma
época. Ao analisar os manuais escolares é possível ter noção, de forma mais detalhada, do tipo de
conhecimento que se pretendia instruir em uma dada disciplina escolar, facilitando a
compreensão dos conteúdos, que são elencados em programas curriculares oficiais.
Entende-se “disciplina escolar”, neste escrito, sob a perspectiva do francês André Chervel
(1990), o qual compreende que o termo se aplica tão somente às idades de formação, seja ela
primária ou secundária, sua especificidade se encontra nos ensinos da “idade escolar”, quando as
crianças e os adolescentes estão imersos nos processos disciplinadores e evoluem aos
ensinamentos cada vez menos disciplinares e cada vez mais científicos. A fim de compreender
uma disciplina escolar, o autor sugere a análise a partir de suas finalidades, conteúdos e do
aparelho docimológico que a constitui.
Sob esse prisma, o artigo examinou duas obras (ambas escritas por mulheres) referentes à
disciplina Economia Doméstica no secundário ginasial: Noções de Economia Doméstica (1946),
de Isabel de Almeida Serrano, e Economia Doméstica - terceira e quarta série do curso ginasial
(1957), de Marina G. Sampaio de Souza.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
Sobre a Economia Doméstica, a mesma foi inserida nos currículos escolares brasileiros a
partir do Decreto-Lei nº 4.244 de 9 de abril de 1942, Título III, Art. 25:
Incluir-se-á, na terceira e na quarta série do curso ginasial e em todas as séries dos cursos
clássico e científico, a disciplina de economia doméstica. A orientação metodológica dos
programas terá em mira a natureza da personalidade feminina e bem assim a missão da
mulher dentro do lar (BRASIL, 1942, p. 5).
Muito embora, inicialmente, a disciplina tenha sido obrigatória para as 3ª e 4ª séries dos
cursos Ginasial, Clássico e Científico da Reforma Gustavo Capanema1 , em 1945, o artigo
mencionado recebeu nova redação e restringiu a determinação, apenas, para o curso Ginasial,
por meio do Decreto-Lei 8.347, de 10 de dezembro 1945 (BRASIL, 1945).
Economia Doméstica, conforme programa oficial de ensino publicado em
1946
(SERRANO, 1946), visava ensinar às estudantes da época, entre outras ocorrências, o modo
como essas deviam se portar em determinados lugares; maneiras de escolher, arrumar e manter
a casa, da qual, mais tarde, viessem a ser donas; os cuidados com os filhos e o marido, desde a
alimentação à maneira de educar a prole (Noções de Puericultura e Nutrologia); contabilidade
doméstica e trabalhos manuais, como corte e costura, que seria útil já na confecção do enxoval
das moças.
Com o objetivo de compreender, de forma minuciosa, os principais conhecimentos que a
disciplina deveria assegurar às jovens alunas secundaristas daquela época, este estudo buscou
delinear os conteúdos presentes nos livros, os exercícios propostos e a maneira como a
disciplina poderia ser ensinada.
Para tanto, além de uma revisão da literatura, realizou-se uma análise de legislações, do
programa de ensino da disciplina Economia Doméstica e das obras Noções de Economia
Doméstica (SERRANO, 1946) e Economia Doméstica - terceira e quarta série (SOUZA,
1957).
Ressalta-se que as obras supracitadas foram analisadas a partir da perspectiva de que as
mesmas constituíram um objeto responsáveis por transmitir a uma dada geração, os saberes
julgados necessários para serem perpetuados em um determinado momento histórico. Elas
propagam “[...] de maneira mais ou menos sutil, um sistema de valores morais, religiosos,
1 Representou um conjunto de leis implementadas no período de 1942 até 1946: Lei Orgânica do Ensino Industrial
(Decreto-Lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942); Lei Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-Lei 64.244, de 9 de
abril de 1942) e Lei Orgânica do Ensino Comercial (Decreto-Lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943).
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escolares.
políticos, uma ideologia que conduz ao grupo social de que ele p a emanação” (CHOPPIN,
2002. p. 14).
Mas, o que caracterizaria um livro didático? Alain Choppin, pesquisador francês
dedicado ao estudo do livro escolar, distingue quatro grandes tipos de livros escolares,
organizados de acordo com sua função no processo de ensino-aprendizagem (CHOPPIN, 2002,
p. 16): Aqueles “utilitários da sala de aula”, isto p, obras produzidas com a finalidade de auxiliar
no ensino de uma determinada disciplina por meio da apresentação de um conjunto extenso de
conteúdos do currículo, de acordo com uma progressão, sob a forma de unidades ou lições,
favorecendo tanto um uso coletivo (em sala de aula), quanto individual (em casa ou em sala de
aula); os paradidáticos (obras complementares); os livros de referência (dicionários, gramáticas,
atlas e etc.); as edições escolares de clássicos (obras clássicas).
As obras Noções de Economia Doméstica e Economia Doméstica - terceira e quarta
séries são tomadas, neste escrito, como possíveis leituras individuais realizadas por
professores(as), inserindo-se na primeira categoria mencionada, uma vez que, os(as) docentes,
na ausência de uma formação superior em Economia Doméstica, recorriam a leituras, que os(as)
subsidiassem em suas aulas. Somente em 1951 foi criado o primeiro curso para formação do
magistério em Economia Rural Doméstica, o qual passou a funcionar apenas em 1954, na
cidade de Uberaba, Minas Gerais. Tal curso era mantido pela União e destinava-se à formação
de mulheres para a atuação nas escolas agrícolas profissionalizantes ou para ministrar aulas nas
disciplinas de educação doméstica, no nível secundário, conforme esclarece Ferreira (2012).
Outro ponto a ressaltar é que há indícios de que a obra de Marina G. Sampaio de Souza
(1957) pode ter sido utilizada por docentes de algumas instituições escolares, como é o caso do
Atheneu Sergipense (ALMEIDA, 2017), conforme constam nos registros escolares localizados
na instituição. De igual forma, David e Orlando (2015) identificaram os possíveis usos, tanto do
livro de Souza (1957) quanto da obra de Isabel de Almeida Serrano (1946), no Instituto de
Educação do Paraná Erasmo Pilotto.
Dessa forma, o presente texto apresenta-se dividido em dois momentos, intitulados
conforme as obras analisadas: Noções de Economia Doméstica e Economia Doméstica -
terceira e quarta séries. Cada seção compreendeu a análise de um livro e os trâmites que
envolvem a Economia Doméstica, a qual, como disciplina escolar, constituiu-se de avaliações,
carga horária e conteúdos.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
2 “Noções de economia doméstica”
Antes de adentrar na análise dos conteúdos expressos no livro Noções de Economia
Doméstica, é de igual importância tecer uma breve biografia da literata aqui retratada - Isabel de
Almeida Serrano -, de modo a apreender seu perfil e o seu papel na sociedade em que esteve
inserida.
Levando em consideração o período histórico vivido por Isabel Serrano, tempo no qual a
mulher, ainda, era bastante reclusa aos cuidados do lar e da família, parece razoável afirmar, que
a autora possuiu uma carreira notória como profissional. Por meio de sua narrativa, é possível
perceber o traquejo da escritora com conhecimentos de outras áreas, como Filosofia e História, o
que torna seu texto eloquente.
Normalista, lecionou Economia Doméstica em vários colégios do Rio de Janeiro, além de
ter ensinado em escola municipal e para filhos de militares da Fundação Osório. Ademais, dirigiu
o Jardim de Infância de Cachoeiro de Itapemirim (ES), de 1956 a 1959, publicou outras obras:
Quando Você Casar (1963), Rainha do Lar (1953), O Natal (1963) e Armadilha para Pássaros
Vermelhos - Contos Folclóricos de Guarapari (s.d.). Escreveu crônicas sobre lendas, fatos e
curiosidades em jornais como Correio do Sul, Jornal do Brasil, Correio da Manhã e A Gazeta, e
artigos em revistas como O Cruzeiro (Rio de Janeiro) e O Lar (São Paulo)2.
Seu esposo, Mário Serrano, ocupou o cargo de Secretário de Governo no Espírito Santo,
quando da interventoria de Jones dos Santos Neves
(21/01/1943 a
27/10/1945). Exerceu
atividades de escritor, professor e autor de vários livros, com destaque para os de literatura
infantil. Naquele período, Isabel foi nomeada a primeira presidente da Legião Brasileira de
Assistência (LBA), que ajudou a fundar. Faleceu em 1994, aos 93 anos, quando residia em
Guarapari, no estado do Espírito Santo (SERRANO, 2009).
Observa-se que, Isabel de Almeida Serrano teve sua vida entrelaçada com a política, por
meio de seu esposo, inclusive, ocupando funções de destaque. Além disso, a sua formação de
normalista e experiência como professora completaram a bagagem como escritora de livros e
artigos dedicados ao público feminino.
2 O livro Memórias da Fazenda da Serra (1857/1987), escrito pela própria Isabel de Almeida Serrano (fruto, em
grande parte, de artigos publicados em jornais e revistas das cidades Rio de Janeiro, Vitória e Cachoeiro de
Itapemirim) foi republicado pelo pesquisador José Eugênio Vieira, juntamente com a colaboração da família da
escritora.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
O livro Noções de Economia Doméstica, que alcançou doze edições, foi publicado pela
Companhia Editora Nacional a partir de 1945, três anos após a implantação da Lei Orgânica de
1942, que instituía a disciplina Economia Doméstica nos currículos escolares. Mas, somente em
1946, na segunda tiragem, a obra adaptou-se ao programa oficial de Economia Doméstica,
mesmo ano da expedição do programa da disciplina por meio da Portaria Ministerial nº 14, de 7
de janeiro 1946 (VECHIA; LORENZ, 1998, p. 378).
A Companhia Editora Nacional foi considerada por Toledo (2001) como uma editora de
destaque no mercado brasileiro no século XX, entre outros motivos, por ter produzido um vasto
leque editorial, incluindo diversas coleções de livros importantes para cultura brasileira, como a
Biblioteca Pedagógica Brasileira e a Biblioteca das Moças. A Companhia Editora Nacional
também foi responsável por publicar autores renomados como Fernando de Azevedo, Celso
Furtado, Gilberto Freyre e Anízio Teixeira.
A editora supracitada especializou-se no mercado de livros escolares durante toda sua
existência. No entender de Toledo (2001), a articulação entre a Companhia Editora Nacional e a
própria história da educação no Brasil aconteceu também pelo envolvimento dos intelectuais que
debatiam sobre questões atinentes à educação. De acordo com Toledo,
Essa participação de intelectuais como autores, tradutores, editores ou mesmo
consultores, fez com que muitos títulos - livros didáticos para alunos, ou para formação
de professores, livros teóricos da Pedagogia ou Psicologia, por exemplo
- que a
Nacional fez circular carregassem em seu bojo os debates e as inovações do campo da
educação (2001, p. 6).
Dentro dessa dimensão, é razoável perceber que o livro de Isabel Serrano foi publicado
em uma editora que, naquele período histórico, esteve envolvida diretamente com as mudanças
que passavam na educação brasileira. Isto é, a editora possuía uma grande relevância na
circulação de livros escolares.
Uma análise de aspectos da anatomia do livro, sem pretender aprofundar ou esgotar o
tema, torna-se um ponto importante a ser mencionado, uma vez que, tais aspectos fornecem
indícios importantes sobre as propostas curriculares. Assim, sob a perspectiva materialista
proposta por Menezes (2011), o livro possui 239 páginas, em formato “retrato”, medindo 19,5 x
14,5 cm, com encadernação “em costura”. Por ser um livro pequeno e leve, p de fácil manuseio.
A capa (Figura 1) contém recursos simples de composição, sendo constituída de cores suaves,
com a imagem de um cômodo da casa desenhado em branco. Nota-se que a capa já revela a
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escolares.
intenção da autora e dos editores de fornecer pistas do conteúdo, que será abordado no livro, não
constituindo, portanto, um mero ornamento visual. Já na contracapa há propaganda de um livro
de receitas, o que corrobora a intencionalidade apresentada, inicialmente, na capa da obra.
O nome da autora aparece em caixa alta (sem serifa), na parte superior, em negrito. Com a
mesma cor, o título do livro está disposto na parte inferior direita, também em caixa alta, mas em
tamanho maior.
Os assuntos são enunciados por numeração e título em caixa alta. O texto é bem legível,
com um tamanho de fonte compreensível, na cor preta. A obra possui poucas imagens (13 no
total), todas em preto e branco, sem legenda e, geralmente, com uma função motivadora:
representa uma passagem concreta daquilo que foi dito (MENEZES, 2011).
Figura 1 - Capa e Contracapa do livro Noções de Economia Doméstica
Nota: Acervo pessoal das autoras.
Fonte: SERRANO, Isabel de Almeida. Noções de economia doméstica. São Paulo: Editora Nacional, 1946.
No que tange ao seu conte~do, o exemplar da “Nova Edição” de Noções de Economia
Doméstica possui uma conformidade com o programa oficial da disciplina Economia Doméstica
das 3ª e 4ª séries. Mas, também, foram preservados alguns pequenos textos complementares e
sugestões da primeira edição, conforme esclarece a autora nas páginas iniciais. As leituras
dispostas no livro estão organizadas no Quadro 1.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
Quadro 1- Leituras contidas na obra Noções de Economia Doméstica para as turmas de 3ª série e 4ª séries
Título do texto
Autoria
Referência
3ª Série
A Poesia da Vida
Júlia Lopes de Almeida
Livro das Noivas (1896)
Conselhos a uma noiva
Júlia Lopes de Almeida
Livro das Noivas (1896)
Um Jardim
Maria Eugênia Celso
Artigo do Jornal do Brasil
Rui Barbosa e as roseiras
Francisco de Assis Barbosa
Artigo intitulado “Rui Barbosa na
Intimidade”, do jornal Correio da
Manhã, 1944.
A mesa
Júlia Lopes de Almeida
Livro das Noivas (1896)
As Princesas também trabalham
Isabel de Almeida Serrano3
4ª Série
Pequenas indústrias domésticas
Isabel de Almeida Serrano
I, II e III
Cumprimentos
Carmem D’Ávila
Livro de Boas Maneiras (s/d)
O apêrto de mão
Carmem D’Ávila
Livro de Boas Maneiras
A cortesia fora de casa
Carmem D’Ávila
Livro de Boas Maneiras
O doente
Júlia Lopes de Almeida
Livro das Noivas (1896)
A dona de casa Enfermeira
Isabel de Almeida Serrano
Oswaldo Cruz
Isabel de Almeida Serrano
O clube dos 4 HH
Isabel de Almeida Serrano
Fonte: SERRANO, Isabel de Almeida. Noções de economia doméstica. São Paulo: Editora Nacional, 1946.
Nota: Dados trabalhados pelas autoras.
Alguns dos textos elencados no referido quadro são passagens retiradas do Livro das
Noivas, de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), ou D. Júlia, como ficou conhecida. Ela foi uma
das articuladoras das reuniões literárias que culminaram com a fundação da Academia Brasileira
de Letras. Produziu algumas obras dirigidas e centradas em mulheres brancas, escolarizadas e
burguesas do Rio de Janeiro de sua época e, ainda, teve relevante participação política no
movimento feminista brasileiro (COSTRUBA, 2009).
O Livro das Noivas (ALMEIDA, 1896) é destinado às mulheres, sobretudo àquelas que
estão a caminho do altar. Porém, sua obra perpassa também as funções maternais e as lides
3 Provavelmente, os textos de autoria de Serrano foram redigidos especialmente para o livro, por isso não há
referência de publicação.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
domésticas. Embora escrito para as moças da época dos oitocentos, o livro e seus ensinamentos
ainda permaneceram em circulação nas décadas seguintes. O papel de destaque em sua obra
encontra-se na intimidade com que a autora conduziu sua escrita, de modo a se incluir como
mulher, que também vivenciava aquilo que escrevia. Com uma narrativa reflexiva, o livro traz em
sua primeira parte alguns ensaios, como: “O dia do casamento”, “Saber ser pobre”, “A roupa
branca”, “A poesia da vida”, “Os doentes”, “Os livros”, “Belas artes”, “Concessões para a
felicidade”, “Os bailes”, “As jóias”, “Os pobres”, “Falta de tempo”, “Carta a uma noiva”, entre
outros temas.
O livro Boas Maneiras, de Carmem D’Ávila, aborda normas de comportamento e
regras de bom tom, com intuito de moldar determinadas atitudes. É o caso do texto “O aperto
de mão”, no qual a autora busca convencer os leitores de que, mesmo com as campanhas de
alguns higienistas, é preciso que o aperto de mão seja dado, pois indicava um gesto de
elementar delicadeza. Além disso, com suavidade, ironizava alguns dos princípios higienistas,
como o beijo, considerado no discurso higienista como transmissor de doenças: “O beijo de
saudação foi sempre usado em todos os ritos; e os cumprimentos beijocativos, que perduraram até
o século XVII, só desapareceram quando a Sr.ª D. Higiene começou a imiscuir-se nos tratados de
civilidade” (D’ÁVILA apud SERRANO, 1946, p. 171).
Decerto, a obra Noções de Economia Doméstica congrega em um único livro, não apenas,
os conteúdos concernentes à disciplina escolar Economia Doméstica, mas também inclui algumas
leituras voltadas para as mulheres daquela época. Isto é, apresenta outras literaturas e seus
respectivos autores nos textos complementares, permitindo apreender o que se tinha como
“hábitos adequados” para o p~blico feminino.
Quanto aos exercícios, considerados por Chervel como
“[...] a contrapartida quase
indispensável” (CHERVEL, 1990, p. 204) aos conte~dos explícitos, eles executam uma função
de controle. Segundo o autor, sem o exercício e seu controle, não há fixação possível de uma
disciplina. Isto p, “O sucesso de uma disciplina depende fundamentalmente da qualidade dos
exercícios aos quais ela pode se prestar” (CHERVEL, 1990, p. 204).
Sendo assim, as atividades que constam no livro de Serrano são de ordem prática. Além
disso, ao final de alguns conteúdos, são propostas atividades de revisão, a fim de fixar o assunto
dado, essas, geralmente, eram subjetivos, conforme se apresentam no livro:
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escolares.
EXERCÍCIOS PRÁTICOS
1- Preparar alguns sachês para um armário de roupa. Podem ser feitos em organdi com a
forma de almofadinhas ou de bonecos.
2- Organizar um inventário de objetos de uso pessoal. Deve ser feito primeiramente a
lápis, junto ao móvel que os contém, e, depois, transcrito em uma caderneta especial. A
utilidade dêsse inventário é despertar o espírito de método. Com o inventário pode
qualquer pessoa verificar, a qualquer momento, o que possui, o que lhe falta, e o que lhe
cumpre consertar ou adquirir (SERRANO, 1946, p. 92).
EXERCÍCIO
1- Como devem ser guardados: a carne, o peixe e os cereais?
2- Como se reconhece o peixe fresco?
3- Quais são os principais cuidados que o leite exige?
4- Por que não se deve cozinhar os alimentos em demasia?
5- Como podem ser esterilizadas as verduras? (SERRANO, 1946, p. 113).
Há de salientar, nos exercícios de culinária, não só o aprendizado prático da disciplina,
mas a preocupação da mulher em cozinhar bem. Como afirma o historiador Iranilson Buriti
Oliveira, em seu trabalho voltado para escritos femininos, “O paladar se mostra um aliado na
economia doméstica, na saúde das finanças, na prosperidade do corpo” (OLIVEIRA, 2011, p.
37). Igualmente, são enfatizados os cuidados higiênicos na preparação e conservação dos
alimentos, por isso, aprendia o valor nutritivo destes, o modo de conservação e o cuidado com as
vasilhas, o ambiente e os horários das refeições, visando também à saúde.
Em relação aos exercícios práticos, o programa oficial da disciplina atribui ao professor a
função de realizar demonstrações práticas nas aulas e orientar as alunas a fazerem exercícios em
classe e em casa:
3ª Série
Caberão os seguintes exercícios, especialmente: Trabalhos de agulha
- pontos,
remendos, bainhas; execução de pequenas peças de utilidade prática; trabalhos de
crochê, tricô e bordado simples.
Trabalho relativos à alimentação
- sopas simples e mingaus; processos triviais de
preparação de verduras, frutas, legumes e outros vegetais; preparo de sobremesas
(VECHIA; LORENZ, 1998, p. 379).
As práticas de incitação e motivação desempenham um papel relevante nas disciplinas em
geral, pois elas possibilitam que os alunos se interessem pelo que está sendo transmitido. Chervel
afirma que “Não se trata tão somente preparar o aluno para a nova disciplina, mas de selecionar,
aliás, com igual peso, os conteúdos, os textos, as narrações mais estimulantes, na verdade de
levar-lhe a se engajar espontaneamente nos exercícios nos quais ele poderá expressar sua
personalidade” (CHERVEL, 1990, p. 205).
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
Na 4ª série, os exercícios práticos indicados pelo programa da disciplina eram coletivos,
realizados por grupos de alunas, e anuais, voltados para práticas de puericultura com a confecção
de enxovais para crianças recém-nascidas, destinados a maternidades e creches. Além disso,
sugeria visitas a centros de puericultura, creches, jardins de infância, preventórios e hospitais
infantis. Vechia e Lorenz mostram que,
A feitura dêsses pequenos enxovais permitirá prolongar os exercícios dos trabalhos de
agulhas constantes do programa da série anterior, e oferecerá ensejo para exercícios de
cálculo de despesas e de seu registro. Os problemas de alimentação da criança permitirão
prolongar os exercícios de culinária, que deverão servir, nesta série, como temas para
discussão sôbre o valor dietético dos alimentos e sua classificação (1998, p. 380).
O programa oficial de Economia Doméstica transcrito em Vechia e Lorenz (1998) ainda
sugere pequenos exercícios que oportunizem exemplos reais do arranjo da mesa, redação de
convites, modo de receber os convidados e apuro das maneiras sociais por meio da organização
de merendas ou de um chá.
Sobre a importância de aprender o conhecimento da ciência doméstica, Serrano menciona
nas páginas iniciais do seu livro:
[...] ciência de tamanho relevo e tão grande complexidade. Cada profissão possui a sua
técnica especializada. Por que somente a mãe de família, a dona de casa, não se
especializará na técnica e na ciência de uma das mais elevadas e complexas funções
sociais, qual a de formar e dirigir o seu lar, ser mãe e ser esposa, estruturando o caráter
dos homens e das mulheres que irão constituir a sociedade de amanhã? (SERRANO,
1946, p. 13).
Contempla com aplausos a inclusão do estudo da economia doméstica nos programas
oficiais. Tal disciplina, a seu ver, levaria as mulheres a se conhecerem melhor e executarem as
funções para as quais foram designadas desde a infância. Serrano diz, ainda, que
Um dia, por certo, teremos que preparar a mesa com pratos e talheres de tamanho
normal, servindo almoços e jantares “de verdade”. Muito provavelmente teremos que
vestir e cuidar de bonecas de carne e osso, bonecas que terão almas pelas quais seremos
responsáveis (1946, p. 15).
Defende a autora que, a harmonia e a felicidade do lar relacionam-se aos cuidados
femininos. Afirma, com veemência, a importância que as mulheres possuem como colaboradoras
da família e da sociedade. De nada adiantariam as árduas pesquisas científicas para o
conhecimento do valor nutritivo dos alimentos, por exemplo, se a rotina e a ignorância das mães
de família prejudicassem a execução prática, resultante dos métodos do conhecimento científico.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
É por meio desse discurso, de uma mulher cuidadosa com a higiene da habitação, do vestuário, da
alimentação, com a gerência das finanças e do patrimônio familiar, bem como com a estética da
casa em prol da formação de “homens de bem”, fisicamente fortes, cultos, educados e de boa
fibra moral, que a autora traça sua narrativa sobre a Economia Doméstica. Organizada da mesma
maneira que a ordem estabelecida pelo programa oficial da disciplina escolar, a obra de Serrano
(1946) separa os conteúdos pertinentes às 3ª e 4ª séries, ambas divididas em dez unidades. Desse
modo, na 3ª série, as estudantes deveriam aprender sobre o objeto da economia doméstica,
conhecendo sobre a importância da família e os papéis bem definidos, que cabiam à mulher e ao
homem na formação dos indivíduos e na constituição de um lar harmônico.
Economia Doméstica é definida por Serrano (1946) como a maneira de administrar uma
casa de forma a obter o máximo de aproveitamento dos bens adquiridos com o mínimo de gastos.
Seu estudo compreende um conjunto de conhecimentos sistematizado de regras adquiridas pela
tpcnica e pela razão. Isto p: “Resulta de conhecimentos científicos, do emprêgo dos mptodos
peculiares a cada uma das ciências que para ela contribuem, da determinação das leis e da sua
aplicação aos casos concretos” (SERRANO, 1946, p. 23).
Quanto à higiene e à habitação da família, as alunas deveriam compreender que, para os
membros da família sentirem-se bem em casa era necessário mantê-la em ordem, com higiene e
estética. Por isso, aprendiam sobre cada compartimento da casa, como ornamentá-la e higienizá-
la. Serrano afirma que,
A arrumação obedecerá a um critério lógico, separando-se os objetos por espécie. Por
exemplo, roupa em um determinado móvel, livros e papéis em outros, louça, talheres,
etc, em seus lugares respectivos, e assim com tudo quanto existia na casa, de modo que,
a qualquer momento, qualquer objeto possa imediatamente ser localizado (1946, p. 34).
Conhecimentos sobre pisos, paredes, tetos e seus respectivos modos de limpeza, bem
como iluminação, combate aos bolores e insetos na casa também compunham o aprendizado na
disciplina de Economia Dompstica. Dessa forma, “o olhar começa a ser educado para procurar a
pele suja, a poeira dos móveis, a cardina das roupas, os cabelos despenteados, o mau hálito, as
atrofias higiênicas” (OLIVEIRA, 2011, p. 39).
Seguindo o programa da disciplina, na 4ª série, o livro apresenta conteúdos que abrangem
a contabilidade doméstica, visando ensinar o equilíbrio financeiro entre receitas e despesas, a fim
de alcançar boa harmonia nas relações entre os membros da família. Para tanto, as alunas
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
deveriam, entre outras noções, aprender a registrar as despesas “com absoluta pontualidade e
exatidão” (SERRANO, 1946, p. 150) no livro caixa (Figura 2). Essas ações demonstrariam
princípios de praticidade e organização.
Figura 2 - Modelo de Livro Caixa utilizado em Economia Doméstica
Fonte: SERRANO, Isabel de Almeida. Noções de economia doméstica. São Paulo: Editora Nacional, 1946. p. 150.
Além disso, as alunas deveriam saber distinguir as despesas obrigatórias do lar, as
necessárias e as supérfluas, conforme apresenta Serrano “há, naturalmente, despesas obrigatórias:
aluguel de casa, alimentação, roupa, condução, iluminação, etc. Porém há outras que não são
necessárias: perfumes caros, excesso de mesa e de indumentária, certas diversões, joias, objetos
de arte, viagens de recreio, espetáculos, etc.” (1946, p. 154).
Ademais, as alunas deveriam ser ensinadas a cuidar das crianças, conhecendo os direitos
das mesmas e a obrigação dos pais. O conteúdo abrangia desde os cuidados com o recém-
nascido, a alimentação (aleitamento, horário das refeições, etc.) até o primeiro ano de vida do
infante. Esses tópicos consistiam na maior parte dos conhecimentos destinados à 4ª série.
Os preceitos higiênicos são os elementos mais enfatizados durante todo o conteúdo, para
evitar uma situação em que a criança pudesse adoecer e vir a morrer, uma vez que, “[...] a criança
na primeira infância é extremamente frágil. A mortalidade infantil o prova” (SERRANO, 1946, p.
185). Alpm disso, “o que se estabelecer como higiene para infkncia servirá para mais tarde,
quando adulto” (SERRANO, 1946, p.185). Dentre os conte~dos abordados, há o destaque para
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
higiene individual, explicando-se, minuciosamente, como devem ser tratados a pele, os cabelos,
os dentes, as mãos, as unhas e os pés.
Nas cidades, essas regras devem ser observadas com rigor ainda maior que no campo.
Com efeito, na cidade há uma grande aglomeração humana. Fala-se com muita gente.
Usam-se a cada momento notas e moedas de dinheiro. A poeira sobrecarrega a
atmosfera; enche-se de bactérias. No campo o ar é incomparàvelmente mais puro e o
contato com as outras pessoas é muito menos frequente (SERRANO, 1946, p. 220).
A maneira correta de amamentar a prole, os horários adequados de sono e das refeições,
bem como a atenção à quantidade e à qualidade da alimentação infantil representavam um
conjunto de cuidados metodicamente organizados em prol do desenvolvimento de indivíduos
sadios.
Portanto, para que a mulher pudesse cuidar dos filhos, deveria conhecer também noções
básicas do valor nutritivo dos alimentos, os principais sintomas e tratamentos de algumas
doenças, primeiros socorros e vacinação, mas os cuidados iam além do físico, adentrando
tambpm a preocupação psicológica: “[...] tôdas as circunstkncias e fatos relativos aos primeiros
anos de vida influenciam poderosamente na formação do caráter e do tipo psicológico do
indivíduo” (SERRANO, 1946, p. 198). Para a autora, tudo que ocorria desde a arrumação da casa
até os hábitos dos membros da família constituía fatores que influenciariam a formação da
personalidade do infante.
Cabia, ainda, à disciplina orientar a mulher sobre o seu papel social, o qual não deveria se
limitar à atividade doméstica, mas também a outros setores, como o magistério e o serviço social,
de forma a estabelecer a paz e a concórdia entre os seres humanos. Para tanto, era destinada uma
unidade sobre a assistência social, enfatizando-se meios e formas de desempenhar o serviço
social, além de apresentar instituições de assistência à infância e à maternidade.
Cabeça, coração, mãos e saúde são palavras que sintetizam perfeitamente, segundo
Serrano (1946), o que deveria ser a dona de casa, local ao qual ela deveria prestar o máximo de
atenção. Em outras palavras, um pensar claro e mais reto, um coração leal, mãos que trabalhem
mais e saúde pessoal perfeita contribuem para que a vida da comunidade e da pátria seja cada vez
melhor. Nas palavras da autora é aceitável perceber as contribuições das ideias dos Clubes
Agrícolas Escolares inspirados nos norte americanos e
“vulgarizados como
4-H Clubs:
“health” (sa~de), “hand” (exercitar a mão), “head” (cultivar a inteligência), “hearth” (formar o
coração)” (MONARCHA, 2016, p. 256).
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
Esses Clubes Agrícolas Escolares (CAEs) “funcionavam num sistema de agremiações
com alunos de escolas primárias e cursos normais” (BARBOSA, 2017, p. 73). Foram fundados e
apoiados pela Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, juntamente com agências e agentes
públicos e privados nos níveis federal e estaduais, nos anos 1930. Em 1940, estiveram mantidos
pelo Ministério da Agricultura, através do Serviço de Informação Agrícola (SIA), que era
responsável pela divulgação, fundação, registro e o apoio técnico e material a esses clubes.
Muito embora os objetivos dos clubes estivessem ligados às políticas estadonovistas
HORTA (2012)4 de conter o êxodo rural e evitar aglomerações nas cidades, pesquisas apontam,
que suas finalidades perpassaram pelas intenções iniciais e adentraram as dimensões cívicas,
patrióticas, pedagógicas e formativas. Inclusive, foram responsáveis também por desenvolver o
senso de economia, da “formação tpcnica e moral para o trabalho e da vida em coletividade”
(BARBOSA, 2017, p. 79).
A obra de Isabel de Almeida Serrano, ainda que se assemelhasse com os manuais de boas
maneiras, presentes no século XIX, está muito mais caracterizada como um livro escolar,
destinado a veicular o conhecimento de uma disciplina. Não só sua estrutura dividida em
unidades, exercícios, textos complementares, como também a própria expressão exposta na
primeira página do livro:
“de acôrdo com os Programas para Curso Ginasial do Ensino
Secundário” (SERRANO, 1946, p. 1) confirmam essa afirmação.
3 “Economia doméstica - terceira e quarta spries”
A obra Economia Doméstica - terceira e quarta séries do curso ginasial também é
caracterizada como um livro didático, de autoria de Marina G. Sampaio de Souza, cuja biografia
não foi localizada. Para que não haja repetição desnecessária, em virtude de seus conteúdos
serem os mesmos trabalhados por Serrano (1946), considerou-se mais pertinente ater-se a
aspectos trazidos pelo livro de Souza (1957), os quais não foram observados na obra de Serrano
(1946).
Publicada pela Editora do Brasil e, em sua 5ª edição, a obra de Souza (1957) faz parte da
Coleção Didática do Brasil - Série Ginasial, constituindo o volume 118. No tocante à sua
materialidade, é caracterizado como uma brochura, em formato retrato, medindo 21cmx15cm,
4 Sobre as políticas estadonovistas consultar esse autor.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
sendo um pouco maior do que o livro de Serrano (1946). A capa (Figura 3) não apresenta
nenhuma gravura, apenas o nome da autora na parte superior, o título do livro centralizado, com
letras maiores que as do subtítulo e o nome da editora localizado na parte inferior com as cores
das letras, seguindo as cores da capa: amarelo e marrom. Na contracapa consta, apenas, o nome
da coleção à qual pertence o livro, na parte inferior com as mesmas cores da capa.
Figura 3 - Capa e Contracapa do livro Economia doméstica; terceira e quarta séries
Nota: Acervo pessoal das autoras.
Fonte: SOUZA, Marina G. Sampaio. Economia doméstica: terceira e quarta séries. 5. ed. São Paulo: Editora do
Brasil, 1957.
Sua encadernação é costurada e colada com 152 páginas, numeradas na posição superior à
direita, sendo um livro “fino” e de fácil manuseio. Na parte prp-textual há apenas uma breve
dedicatória da autora; a parte textual inicia-se, de imediato, com o índice. O livro é dividido em
10 e 11 unidades para terceira e quarta série, respectivamente, com os conteúdos constantes do
programa oficial da disciplina de Economia Doméstica. De igual modo, a obra de Serrano,
Marina Souza intitula as unidades e os subtítulos, exatamente, iguais ao programa oficial, de
modo a abarcar todos os conteúdos.
De maneira bastante objetiva e sucinta, a autora escreve os conteúdos abordados na
disciplina, utilizando muitas imagens (um total de 29), todas em preto e branco, acrescidas de
uma legenda explicativa, como uma forma de demonstrar, visualmente, aquilo que foi escrito.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
Desse modo, segundo Menezes (2011), as ilustrações (Figura 4) adquirem uma função de
“facilitação redundante”, pois representam uma mensagem já exposta com clareza suficiente pelo
texto.
Figura 4 - Imagens do Livro de Economia Doméstica
Fonte: SOUZA, Marina G. Sampaio. Economia doméstica: terceira e quarta séries. 5. ed. São Paulo: Editora do
Brasil, 1957. p. 17 e 47.
Logo nas primeiras páginas do seu livro, Marina Souza (1957), ao argumentar sobre a
necessidade da Economia Doméstica nos currículos escolares, mostra ao leitor, que algumas
mulheres da década de 1950 já não aceitavam o papel social de “rainhas do lar” e, por isso,
estavam se desvirtuando desse caminho. O perfil feminino, de uma mulher voltada
exclusivamente para cuidar da casa, dos maridos e dos filhos, havia se modificado e a inserção
da disciplina era uma forma acertada de relembrar a missão feminina na sociedade. Souza diz
que,
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
Nos dias atuais, quando notamos o desinteresse das mulheres pelo seu lar, esquecidas da
grande responsabilidade que assumiram ao constituí-lo, entregando seus filhos a uma
serviçal, em geral analfabeta, não só o próprio lar, mas os futuros lares dos filhos [...]
Nunca foi tão oportuna, portanto, a inclusão, no currículo ginasial, desta disciplina.
(1957, p. 14)
Essa realidade de não aceitação do papel de “rainha do lar” já ocorria desde o spculo XIX,
entretanto, por meio da leitura do livro de Serrano (1946), isto não é perceptível. Serrano (1946)
defende veementemente o ideal feminino de boas mães e esposas, induzindo o leitor a
compreender a importância do conhecimento, que a nova disciplina traria às mulheres de então.
Ela justificava a necessidade de Economia Doméstica nos currículos escolares como uma
maneira de tornar a função da dona de casa cada vez mais eficaz e organizada.
As mudanças sociais e econômicas em que a disciplina Economia Doméstica estava
imersa na década de 1950 são destacadas por Souza (1957), quando a autora comenta sobre a
habitação da família. Afirma: “[...] p quase certo mesmo, que a mulher atual não possa conseguir
uma casa igual àquela que sonhou para estabelecer seu lar” (SOUZA, 1957, p. 15). Ela, ainda
declara que,
Nos nossos dias, quando a tendência para diminuir os cômodos de uma casa, tanto em
dimensões quanto em número, transformando amplas e confortáveis residências em
exíguos apartamentos, é cada vez maior, é necessário que a mulher aprenda a aproveitar
com inteligência e acêrto as peças disponíveis (SOUZA, 1957, p. 15).
Ao final de algumas unidades, principalmente nos conteúdos da 3ª série, Souza (1957)
apresenta conselhos e sugestões acerca do assunto abordado. Por exemplo, nas unidades IV, V e
VI, que englobam os cuidados, a organização e a limpeza do vestuário, incluindo cama e mesa, a
autora sugere:
As fazendas de côres vivas devem ser sempre passadas pelo avesso; Se alguma peça de
roupa ficou encardida, ferva-a com rodelinhas de limão; Para evitar que o ferro grude na
roupa ao passa-la junte à goma um pouco de sabão de côco; Para limpar o cinto de couro
branco, esfregue-o com uma boneca de pano previamente embebida no leite (SOUZA,
1957, p. 59).
Em relação ao preparo dos alimentos, Souza (1957) assinala:
Se a sopa ficou muito gorda ponha algumas fôlhas de alface para retirar o excesso de
gordura. Retire-as antes de servir. Não ponha alimentos quentes em seu refrigerador, o
gasto de energia elétrica será muito maior; O cheiro de cebola das mãos sai
perfeitamente esfregando-as com sal; Ao retirar a fôrma do forno use um pano sêco, o
pano molhado em contato com o calor soltará vapor e queimará as mãos (SOUZA, 1957,
p. 74).
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
No tocante aos exercícios, eles só aparecem, como sugestão, ao final do último conteúdo
da 3ª série - “noções de bordado”. São apenas exercícios práticos sobre trabalhos que podem ser
realizados “pelas alunas (ou pelas donas de casa)” (SOUZA, 1957, p. 88). Entre as sugestões
estão o bordado, tricô e crochê, bem como realizar abafadores de chá; jogos individuais para
mesa de refeições; sacos para pão; mostruário dos pontos principais de bordado, tricô e crochê;
enfeites de lã para carrinho de bebê; capa para o livro do telefone, para o álbum de fotografias,
para livro de receitas culinárias, etc.
Em relação às noções de enfermagem ou aos primeiros socorros, o livro de Souza (1957)
aborda um número muito maior de acidentes/sintomas e maneiras de socorrer o
acidentado/doente, comparado ao de Serrano
(1946). Destaquemos: afogamento, asfixia,
insolação, choque elétrico, corte, enforcamento, fraturas, hemorragia, hemoptise, hematêmese,
luxações, picadas de insetos, queimaduras e métodos de respiração artificial. Estas noções
conferem um aspecto mais técnico e científico ao conteúdo.
Os conhecimentos de serviço social em Souza (1957) estão muito vinculados aos aspectos
religiosos: “Quando o “Criador” incubiu-a da sagrada missão da maternidade, deu-lhe, também,
uma enorme capacidade de sofrer, perdoar e, sobretudo, maior espírito de caridade e talvez mais
aguçada ainda a capacidade de descobrir, adivinhar o sofrimento alheio” (SOUZA, 1957, p. 148).
Diferente de Serrano (1946), Souza (1957) argumenta que, embora o Serviço Social fosse
praticado por pessoas que realizavam cursos especializados para exercer tal função, as atividades
atinentes a esse serviço também deveriam ser feitas por
“almas caridosas, por corações
transbordantes de piedade cristã” (SOUZA, 1957, p. 149).
Ao finalizar a obra, tanto Serrano (1946) quanto Souza (1957) assinalam como deve a
mulher concorrer para um mundo melhor. Interessante perceber que, muito embora os livros
sejam para uma disciplina de Economia Doméstica, que, a princípio, sugere uma dedicação total
ao lar, aos afazeres domésticos, filhos e marido, as duas autoras apontam para inserção da mulher
no campo profissional: o magistério e a enfermaria.
4 Considerações finais
Debruçar-se nas palavras escritas por Isabel de Almeida Serrano
(1946) e Marina
Sampaio G. de Souza (1957) permitiu a escuta das vozes dessas mulheres com a compreensão
das singularidades educacionais de uma determinada época, a partir do olhar das duas literatas.
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
Nesse sentido, a análise das obras Noções de Economia Doméstica, de Isabel de Almeida
Serrano (1946), e Economia Doméstica - terceira e quarta série do curso ginasial, de Marina
Sampaio G. de Souza (1957), demonstrou que, ambos os livros escolares trazem orientações e
conselhos que, na época em que tais livros foram publicados, pretendiam informar às suas
leitoras os cuidados que deveriam seguir nos ambientes públicos e privados. Tais livros tinham
uma finalidade de inculcar, nas leitoras, normas e regras de controle sobre comportamento social.
A necessidade se fez basilar, dentre outros motivos, provavelmente, pelo aumento de mulheres
ocupando novos espaços de sociabilidade e vivenciado mudanças significativas em seu cotidiano,
o que gerou também alterações na conjuntura sociocultural brasileira do período.
Entretanto, a leitura e interpretação das obras também propiciaram entender, que o livro
de Serrano (1946) foi escrito para um perfil de mulher, que aceitava a condição de dona de casa e
que vivenciava aquilo como algo natural e aceitável. Sendo assim, era importante ter
conhecimentos mais intensos nos afazeres domésticos de modo a contribuir com a saúde e bem-
estar da família.
Por outro lado, a narrativa de Souza (1957) faz apreender que, a mulher já não concordava
com a condição de cuidar apenas do lar. Todavia, a autora tenta convencer o leitor de que esses
princípios mais tradicionais não poderiam ser esquecidos. Para ela, adquirir o ensinamento de
Economia Doméstica representaria praticidade para manter o lar organizado e limpo, mesmo que
a mulher estivesse adentrando também o espaço público.
Sob essa perspectiva, a “mulher” de Serrano (1946) p preocupada com cada detalhe de
uma casa e dos membros que nela residem. Ela vive unicamente para isso. A “mulher” de Souza
(1957) precisa conhecer os elementos da casa, porque um dia possuirá uma, mas deve ser de
forma rápida e prática, pois, aparentemente, essa mulher não se dedica somente a cuidar de uma
casa.
Embora as duas obras forneçam informações em comum sobre o saber escolar, que
constituía a Economia Doméstica, é evidente a mudança comportamental da mulher entre as
décadas de 1940 e 1950. Isso demonstra que, a disciplina precisou adaptar-se às transformações
do próprio perfil feminino, de modo a não fugir da finalidade para qual foi constituída.
Assim, os conteúdos de Economia Doméstica explícitos nas obras de Serrano (1946) e
Souza (1957) exprimem conceitos de higiene, organização, controle financeiro, saúde, condutas,
conhecimentos científicos, psicológicos, sociais e estéticos, considerados válidos para a educação
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ALVES, Eva Maria Siqueira; ALMEIDA, Sayonara do Espírito Santo. Economia doméstica: uma perspectiva a partir de manuais
escolares.
feminina daquele dado momento histórico. Destarte, abordar a importância do livro didático
como veículo portador de cultura, assim como analisar as técnicas de aprendizagem dispostas
nesse material, o destaque dos saberes escolares das jovens secundaristas e a transformação social
feminina de outrora são elementos significativos para fomentar as discussões que permeiam a
História da Educação e das Mulheres no Brasil.
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