Artigo
A natureza entre o rural e o urbano: educação ambiental e fabricação de um
discurso nas HQs do Chico Bento
The nature between rural and urban: environmental education and manufacture of a speech in the HQS Chico Bento
La naturaleza entre lo rural y lo urbano: educación ambiental y fabricación de un discurso en las historietas de Chico
Bento
Sérgio Ronaldo Pinho Junior - Universidade Federal do Rio Grande | Doutorando do Programa de Pós-Graduação
em Educação | Rio Grande | RS | Brasil. E-mail: spinhojr@gmail.com
Paula Corrêa Henning - Universidade Federal do Rio Grande | Instituto de Educação | Rio Grande | RS | Brasil. E-
mail: paula.c.henning@gmail.com
Virgínia Tavares Vieira - Universidade Federal do Rio Grande | Pós-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação
em Educação | Rio Grande | RS | Brasil. E-mail: vi_violao@yahoo.com.br
Resumo: O presente artigo tem como objetivo estabelecer um diálogo em torno do conceito de natureza veiculado nas histórias
em quadrinhos (HQs) do personagem Chico Bento, bem como suas relações com as concepções presentes no campo de
saber da Educação Ambiental (EA). Com a intenção de problematizar a forma como as HQs, por meio do discurso de
natureza, vêm contribuindo para pensarmos sobre EA, selecionaram-se histórias do Chico Bento que fazem referência
à natureza, publicadas entre os anos de 2009 e 2013. A partir de autores como Michel Foucault, Isabel Carvalho,
Leandro Guimarães, Mônica Meyer, Keith Thomas, Raymond Williams, entre outros, foram analisadas as enunciações
de natureza presentes neste corpus de análise. Assim, este artigo problematiza um enunciado que constitui o discurso
de natureza e EA por meio das histórias em quadrinhos: a natureza constituída nos deslocamentos operados pelas
diferenças culturais entre as realidades rural e a urbana.
Palavras-chave: Educação ambiental. Análise do discurso. Natureza. Histórias em quadrinhos.
Abstract: This paper aims to establish a dialogue around the concept of Nature from the analysis of the forms of discourse
conveyed in the comic book character of Chico Bento and his relations with the concepts present in the field of
knowledge of environmental education (EE). With the intention to problematize the way in which the comics have
contributed to think about EE, through the nature discourse, Chico Bento stories published between the years of 2009
and 2013 which refer to nature. From authors such as Michel Foucault, Isabel Carvalho, Leandro Guimarães, Monica
Meyer, Keith Thomas, Raymond Williams, among others, were analyzed as enunciations of nature present in the
corpus of analysis. Thus, this article problematizes a statement that constitutes the discourse of nature and EE through
comic books. The nature constituted in the displacements operated by the cultural differences between realities the
rural and the urban.
Keywords: Environmental education. Discourse analysis. Nature. Comic books.
Resumen: El presente artículo tiene como objetivo establecer un diálogo acerca del concepto de naturaleza vehiculado en las
historietas del personaje Chico Bento y sus relaciones con las concepciones presentes en el campo de saber de la
Educación Ambiental (EA). Con la intención de problematizar la forma como las historietas, por medio del discurso de
naturaleza, contribuyen para que pensemos sobre EA, se han elegido historias de Chico Bento que hacen referencia a la
naturaleza, publicadas entre los años de 2009 y 2013. A partir de autores como Michel Foucault, Isabel Carvalho,
Leandro Guimarães, Mônica Meyer, Keith Thomas, Raymond Williams, entre otros, fueron analizadas las
enunciaciones de naturaleza presentes en este corpus de análisis. Así que, este artículo problematiza un enunciado que
constituye el discurso de naturaleza y EA por medio de las historietas: la naturaleza constituida en los desplazamientos
operados por las diferencias culturales entre las realidades rural y urbana.
Palabras clave: Educación ambiental. Análisis del discurso. Naturaleza. Historietas.
• Recebido em 12 janeiro de 2019 • Aprovado em 1 de fevereiro 2019 • e-ISSN: 2177-5796
DOI: http://dx.doi.org/10.22483/2177-5796.2019v21n1p117-136
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PINHO JUNIOR, Sérgio Ronaldo; HENNING, Paula Corrêa; VIEIRA, Virgínia Tavares. A natureza entre o rural e o urbano:
educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
Introdução
Este artigo tem como objetivo apresentar uma das formas de constituição de um discurso
de natureza apresentado na atualidade presente nas histórias em quadrinhos
(HQs) do
personagem Chico Bento, criado pelo jornalista e cartunista Maurício de Sousa. Entendemos que
tal constituição produz desdobramentos que definem a atualidade, a qual se faz/está/tem sido
marcada por dilemas e preocupações contemporâneas. Dessa maneira, o discurso fabricado nas
HQs vai ao encontro de manifestações dos educadores ambientais, ecologistas e políticos, além
de outros atores sociais que movimentam o mundo em que vivemos. Assim, a partir de
enunciações selecionadas nas HQs do Chico Bento, analisamos a constituição de um enunciado
do discurso de natureza através do dito e do visível entre o rural e o urbano apresentados por
esse personagem.
Para isso é preciso destacar que as histórias em quadrinhos (HQ), desde seu surgimento,
têm despertado o olhar de um público infantojuvenil e adulto, se destacando como um artefato
cultural capaz de capturar e constituir formas de compreender o que está posto como realidade.
Nesse sentido, tratamos essa produção literária como um artefato cultural e midiático potente na
(re) produção de saberes e verdades que nos interpelam, nos educam e nos constituem enquanto
sujeitos de um determinado tempo social. Vale destacar as histórias desse personagem circulam
em mais de 120 países, entre eles: Itália, Portugal, Rússia, China, etc., além do Brasil. Assim,
foram selecionados como fonte para esta pesquisa os gibis do Chico Bento publicados pelo grupo
Maurício de Souza Produções (MSP) e editados pela Panini Comics desde 2007. As HQs
analisadas no corpus empírico a seguir foram escolhidas entre publicações de janeiro de 2009 até
dezembro de 2013. São edições publicadas em três versões: Chico Bento (edição mensal),
Almanaque do Chico Bento (edição bimestral) e Chico Bento (Turma da Mônica coleção
Histórica - bimestral). Tratam-se de três séries de gibis com histórias em quadrinhos (HQ)
constantemente direcionadas por temas relacionados à natureza e que são visíveis de diferentes
formas.
De acordo com parâmetros de organização e classificação estabelecidos na modernidade,
é necessário educar os indivíduos para que tenham consciência, sejam cidadãos e saibam
identificar os erros, o falso, o verdadeiro, as causas e as consequências, o bem e o mal, sempre
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demonstrando as contradições e sintetizando o melhor caminho a seguir. Um dos instrumentos
potentes para efetivar essas práticas educativas é o que os Estudos Culturais denominam
Pedagogia Cultural presente nos artefatos midiáticos. Para Wortmann:
[...] todas essas produções conectadas penetram de forma cada vez mais intensa, rápida e
constante no cotidiano dos sujeitos nessas sociedades da informação. E é em função
disso, que ganha importância discutir como meios de expressão/produção cultural, tais
como a televisão, o cinema e a literatura (um tipo de produção cultural que de certa
forma nos poderia conectar a outros tipos de sociedade) valem-se dos muitos e
diferenciados discursos que circulam em tais sociedades, instituindo múltiplas
representações que passam a marcar os sujeitos e as suas visões de mundo (2004, p.
152-153).
Conforme Henning (2017) os instrumentos midiáticos podem ser considerados potentes
produtos que produzem certas verdades e com isso contribuem muito fortemente para a criação
de homens e mulheres no mundo contemporâneo. Ainda de acordo com a autora é preciso
problematizar as HQs tomadas como material midiático pela recorrente circulação e utilização
destes produtos nas escolas brasileiras. Muitos deles são indicados por professores de escolas
públicas como materiais didáticos que podem servir de ferramenta para trabalhar a Educação
Ambiental
(EA). Diante dessas considerações o presente artigo se apropria de algumas
ferramentas metodológicas a partir da análise do discurso em Michel Foucault para problematizar
sobre as verdades que são potencializadas nos discursos fabricados nessa mídia. É pertinente
afirmar que as mídias se constituem a partir da realidade dos acontecimentos e criam a realidade
do mundo contemporâneo. Para Mayra Gomes (2003, p. 77):
[...] Enquanto mostram, as mídias disciplinam pela maneira do mostrar, enquanto mostra
ela controla pelo próprio mostrar. É em relação à disciplina que se diz que se não passou
pelas mídias não há poder de reivindicação; é em relação a controle que se diz que se
não passou pelas mídias não existe.
Em consequência disso interessa-nos problematizar o discurso de natureza relacionado a
Educação Ambiental, ou seja, como vamos nos contituindo sujeitos a partir de discursos que
instituímos como verdades em tempos de crise ambiental. Assumindo a Educação Ambiental
como dispositivo
(GARRÉ; HENNING,
2015) ativo em nosso mundo contemporâneo,
questionamos ainda: Quais enunciações vêm sendo fabricadas e tomadas como verdade nas HQs
analisadas? Como a natureza é enunciável e visível nos materiais investigados? Que enunciados
podem ser criados/fabricados a partir das enunciações que propõem modos de existir e conviver
com a natureza nos gibis do Chico Bento?
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O período cronológico definido para analisar as séries dos gibis foi estabelecido a partir
de acontecimentos que desencadearam a crescente necessidade da produção de um discurso
ambiental como pauta indissociável de práticas de organismos internacionais, como a
Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência, e a Cultura (UNESCO) e a Organizaçãodas Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura
(FAO), além de Estados, governos, Organização Não-Governanentais
(ONGs),
empresas e agentes políticos vinculados a Partidos Políticos, movimentos sociais ou ao
movimento ambientalista. Além desses espaços, é recorrente circular nas mídias, de um modo
geral, formas contemporâneas de vivenciar os dilemas constituidos pela Modernidade, dentre
eles, o da urgência de uma EA (RATTO; HENNING; ANDREOLA, 2017). Com efeito, ações
sustentáveis tidas como conscientes são determinadas com o objetivo de preservar o meio
ambiente, instituir preceitos morais e justificar iniciativas que afirmam a importância de “sujeitos
verdes” no mundo contemporâneo (GUIMARÃES, 2012).
Nesse contexto, desde a 15ª conferência da ONU sobre mudanças Climáticas (COP 15)
realizada em Copenhague, na Dinamarca em
2009, notabilizada pelo grande número de
participantes depois da Eco-92 no Rio de Janeiro, os chefes de Estado e governos de 192 países
estiveram reunidos para definir uma agenda Ambiental. No Brasil, nesse mesmo ano, o governo
do presidente Luis Inácio Lula da Silva sancionou a medida provisória (MP) nº 458 que
regulariza terras na chamada Amazônia Legal. Em seguida com a realização da COP 16 em 2010,
no México em Cancum, houve a criação do fundo Verde que até 2020 deverá liberar 100 bilhões
de dólares por anos para apoiar os países em desenvolvimento. A ONU elegeu 2010 como o
“Ano internacional da Biodiversidade” e no Brasil foi sancionada a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) regulamentada pela lei 12.305. Algumas tragédias foram marcantes durante o
ano de 2010, pois o terremoto no Haiti em Porto Príncipe resultou em 326 mil mortos, 350 mil
feridos e 1,5 milhão de flagelados e no golfo do México quase 5 milhões de barris de petróleo
vazaram e 11 pessoas foram vitimadas, um dos maiores desastres ambientais do mundo. Em
2011, o tsunami que passou pelo Japão devastou o país e 27 mil mortes foram registradas. No
Brasil, as enchentes na região da serra do Estado do Rio de Janeiro produziram milhares de
mortos e desabrigados. Além desses fatos, os ministros do Brasil, África do Sul, Índia e China
reuniram-se em Belo Horizonte/MG, em um encontro preparatório para COP 17 que aconteceu
em Durham, na África do Sul, em 2011, com o objetivo de estabelecer um consenso em torno da
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prioridade do protocolo de Kyoto. Na reunião preparatória de Bonn, na Alemanha, todas as
questões ficaram suspensas. Ainda em 2011, o governo brasileiro aprovou o novo código florestal
permitindo o cultivo agrícola em áreas de preservação permanente. Já o ano de 2012 foi marcado
por dois grandes eventos relacionados a questões ambientais: a Rio+20, voltada para a reunião
das grandes líderanças mundiais em torno do comprometimento com o desenvolvimento
sustentável do planeta, e a Cúpula dos povos que se caracterizou por acontecer como um evento
paralelo e crítico às propostas de sustentabilidade discutida pelos participantes da Rio+20,
configurando um espaço promovido pelos movimentos sociais.
Considerando esses acontecimentos como indicadores de limites que determinam a
realidade do mundo contemporâneo nos últimos anos, sinalizando a iminência de uma crise
ambiental que vimos experienciando, colocamos sob suspeita visibilidades e enunciações
retiradas das HQs do Chico Bento. Localizamos no material selecionado um ponto de
convergência, onde alguns desdobramentos do discurso ambiental são produzidos. Dentre tais
desdobramentos, situamos a crescente importância que vimos dando à preservação da natureza
entendida como uma só, universal, previsível em seus movimentos.
Fabricações em torno de uma natureza: tensionanentos do discurso do rural e do urbano
nas HQs do Chico Bento
Algumas formas percebidas no discurso de natureza das HQs justificam e dão visibilidade
a discursos recorrentes no campo de saber da EA. Esse enunciado é apresentando a seguir a partir
de enunciações que o compõem e estão presentes nos ditos e nas visibilidades do material
selecionado para análise. Dessa maneira, a constituição de tal enunciado é vista nesta proposta de
análise como uma atualização do discurso moderno em seus aspectos humanista e racionalista,
cujas verdades produzem efeitos práticos no cenário cultural, politico, ambiental e educativo dos
indivíduos. Nas HQs do Chico Bento, tal partícula do discurso - como nos ensina Foucault
(2012) -, colocado aqui em envidência, é identificado na maneira de falar e agir dos personagens.
Assim nas enunciações destacadas colocamos sob suspeita a marca antropocêntrica presente nos
atos discursivos que ora apresentamos. Analisamos as formas que lhe conferem significado e
demonstram seu funcionamento nessas histórias. Com isso, tomamos a descrição da natureza
partindo de comparações entre aspectos que nas HQs materializam diferenças entre o mundo
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rural e a realidade urbana. Esses modos de dar visibilidade a problemas ambientais evidentes na
atualidade conduzem a críticas relacionadas à forma de organização da vida na
contemporaneidade, inclusive, no que diz respeito à produção da natureza como ideal. Vimos
assim a constituição desse enunciado como importante na medida em que descreve determinados
modos de ser sujeito. As posições de sujeito (FOUCAULT, 2012)1 identificadas pelos ditos
aparecem sincronicamente em relação a acontecimentos da época contemporânea provocados por
mudanças da natureza e das perspectivas nas relações políticas, econômicas e sociais que operam
nos limites da nossa cultura. Apresentam-se assim, no contexto das formações discursivas,
práticas que afirmam a necessidade da EA para despertar a consciência sobre como devemos
lidar com a Natureza.
Diante disso, é interessante destacar a fabricação desse enunciado a partir dos cuidados e
preocupações identificados nas enunciações selecionadas para sustentá-lo. Analisando os
desdobramentos a respeito da natureza nas temáticas apresentadas no conjunto de histórias, temos
percebido como são produtivos os fragmentos do discurso que definem o humano moderno,
urbanizado e civilizado diante da natureza. Vejamos, por exemplo, o espanto e a objeção do
personagem Seu Juca na HQ - “Turma da mata e seu Juca na Mata”- ao resolver deixar a cidade e
exercer sua profissão de guarda florestal no interior. Diante da necessidade de lidar com as
adversidades da natureza e enfrentar as situações preparadas pelos animais da mata, ele chega ao
limite. E, ao contrário do que expressou sobre a perspectiva idealizada de trabalhar em um
ambiente rural identificado com a natureza no início da história, contrapõe aspectos negativos
desse ambiente assumindo uma opinião positiva a respeito da cidade, mesmo destacando os
problemas existentes no espaço urbano. Assim, de acordo com o personagem do Almanaque do
Chico Bento (2011, n. 30, p. 62):
Pra mim, chega!! Estou farto deste lugar Maluco!! Tô louco pra voltar pra cidade!!
Quando é que sai o próximo ônibus?!
AH!! Cidade! Finalmente! Poluição! Trânsito! Corre-corre! Empurra-empurra! Chega de
Bichos! Isto, sim é que é vida!.
1 As posições de sujeito se definem igualmente pela situação que lhes é possível ocupar em relação aos diversos
domínios ou grupos de objetos: ele é sujeito que questiona, segundo uma certa grade de interrogações explícitas ou
não, e que ouve, segundo certo programa de informações; é sujeito que observa, segunda um quadro de traços
característicos, e que anota, segundo um tipo descritivo; está situado a uma distância perceptiva ótica cujos limites
demarcam a parcela de informação pertinente.
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A enunciação citada acima, selecionada do corpus discursivo da HQ, explicita o quanto a
natureza é constituída, dita, apresentada sempre em virtude do olhar humano, das sensações
humanas, das necessidades humanas universalizadas. Esse olhar antropocêntrico e classificatório
está implícito nas relações que fundamentam o modo de vida racional, moderno e, atualmente,
globalizado. A partir desse entendimento, Raymond Williams (1989), em seu livro “O Campo e a
Cidade: na História e na Literatura”, traz aspectos sobre esse tema que nos auxiliam a pensar a
fabricação desse discurso a partir das condições de possibilidade instauradas pela modernidade.
Para Williams (1989, p. 356):
É fácil separar o campo da cidade e, em seguida, distinguir as modalidades de literatura
correspondentes: a rural ou regional e a urbana ou metropolitana. A própria existência
dessas formas diversas, no século XX, em si já é significativa, como reação a uma
história concatenada.
De acordo com essa lógica, ao colocar o humano num lugar de destaque - seja por amar a
natureza, como muitas vezes Chico Bento é posicionado, seja degrando-a, como aparecem na
seleção de aspectos que caracterizam a cidade e os citadinos -, as HQs assumem a máxima do
Paradigma Moderno. Perguntamo-nos: esse não seria o limite do pensamento forjado nos
desdobramentos da Modernidade? Segundo Latour (1994, p. 42),
Solidamente apoiado sobre a certeza transcedental das leis da natureza, o moderno pôde
criticar e desvendar, denunciar e se indignar frente às crenças irracionais e as
dominações não justificadas. Solidamente apoiado sobre a certeza de que o homem
contrói seu próprio destino, o moderno pôde criticar e desvendar, denunciar e se indignar
frente às crenças irracionais, às ideologias científicas, à dominação não justificada dos
especialistas que pretendiam traçar limites à ação e à liberdade. A única transcendência
de uma natureza que não é obra nossa, bem como a única imanência de uma sociedade
que construímos por completo, iriam no entanto paralisar os modernos, por demais
impotentes diante das coisas e por demais potentes frente à sociedade. Que enorme
vantagem poder inverter os princípios sem que haja mesmo uma aparência de
contradição. A natureza transcendente permanece, apesar de tudo, mobilizável,
humanizável, socializável.
É importante considerarmos que as marcas modernas engendram-se, imiscuiem-se e
fabricam um determinado modo de vida, um certo modo de olhar para as coisas do mundo. Aqui,
em especial, interessa-nos o olhar potencializado pelo discurso de natureza, perspectivamente, em
seu viés produtivo, como luta para afirmar verdades. Com isso, percebemos esse olhar na
intensidade dos combates, estando tensionado pelas forças políticas, sociais e econômicas em
disputa atualmente no mundo.
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
Considerando desse modo, os cuidados com a natureza se fazem indispensáveis diante de
um mundo urbanizado e desenvolvido que avança desordenadamente. É importante notarmos,
ante isso, as principais críticas do personagem Chico Bento aos percalços vividos na cidade:
poluição sonora, destruição da flora e da fauna, ritmo de vida acelerado desconsiderando o tempo
“natural” das pessoas, individualismo acentuado etc, como demonstra o próprio dito: “come
zoiando no relógio faiz mar!” (ALMANAQUE DO CHICO BENTO, 2009, n. 17, p. 10). Nessa
história - intitulada “Chico Bento em as coisas simples... -, destaca-se o modo como Chico Bento
expõe a diferença cultural que define a perspectiva de cada um diante da natureza. O rural e o
urbano aparecem quando ele enfatiza o descompasso do ritmo marcado pelo tempo do relógio,
identificado a pressa dos citadinos em acabar a refeição e, consequentemente, prevenindo-os do
mal que isso pode causar.
Analisamos essa pequena enunciação suspeitando daquilo que ela afirma, enquanto uma
duplicação de parte do discurso humanista contemporâneo. Ao criticar o ritmo da vida cotidiana
na modernidade associada à realidade urbana, pensamos que essa relação não acontece de forma
tão lógica, sinalizando, assim, para uma falta de interação entre a cultura urbana e a natureza -
desconsiderando, inclusive, o próprio corpo como natural. O humano, nesse sentido, passa a ser
vítima da desnaturalização promovida pela cultura civilizada, urbana.
A partir disso, concordamos com Amaral (2004) quando ela entende que é preciso pensar
sobre a nossa relação de construção e descontrução - enquanto indivíduo e coletividade - com a
natureza. Atenta a esse desafio, a autora compreende que é preciso, entre outras coisas,
empreender um movimento que implica olhar com um certo estranhamento para as
“representações-verdades” assumidas como naturais em nossa sociedade e cotidianos, mas que
limitam, organizam e disciplinam o que sabemos sobre o mundo. Portanto,
“[...] essas
representações, escondendo totalmente seu processo de produção, omitindo seu caráter de
construção histórica, de contingência, passam a ser lançadas neste mesmo mundo que constroem
com a própria realidade” (AMARAL, 2004, p. 146).
De acordo com o que a autora afirma, pensamos que devemos considerar alguns dilemas
referentes à construção e à produção do que são o rural e o urbano na literatura, além de suas
relações com a natureza em que esses dois termos aparecem. Então, apresentamos algumas
formas cristalizadas nos discursos de natureza da modernidade que contribuem para educar nosso
olhar. Essas formas de discurso são importantes para esta pesquisa, pois entendemos que, nas
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
HQs analisadas, aparecem enunciações que são desdobramentos e (ao mesmo tempo) fabricação
desse discurso diante da atualidade. Conforme descreve Isabel Carvalho (2012, p. 95), a cidade,
na modernidade é contraposta à natureza selvagem como o lugar da civilidade, das boas maneiras
e do gosto refinado. Pessoas criadas na cidade eram consideradas mais educadas que aquelas que
viviam no campo. O ideal de civilidade é o outro, cuja ordem era permanentemente ameaçada
pela natureza. No entanto, Keith Thomas (1988) mostra, no livro “O Homem e o Mundo
Natural”, a relação entre o campo e a cidade pensada numa relação inversa, em que nos séculos
XVII e XVIII, diante dos efeitos da Revolução Industrial na Inglaterra, o rural - entendido como
a vida no campo - era sinônimo de simplicidade e de anonimato. A cidade era vista como o lugar
das estravagâncias, propícia às intrigas clandestinas, local da hipocrisia, dos vícios da avareza e
da opressão. Na cidade se encontrava a sociedade mais sofisticada, as últimas modas e os vícios
mais caros, era um espaço propenso a fornicações e adultério. De acordo com esse autor, “Em
parte, portanto, o apelo do campo era negativo. Ele oferecia uma fuga dos vícios e afetações
urbanos, um decanso para as tensões dos negócios e um refúgio contra a sujeira, a fumaça e o
ruído da cidade” (THOMAS, 1988, p. 294).
Ressaltamos que essas duas formas de abordar as relações entre o rural e o urbano
aparecem reinventadas nas HQs do Chico Bento. Nos quadrinhos, as histórias apresentam o
mundo rural como um refúgio onde a natureza e aqueles que vivem no mundo rural oferecem
soluções inesperadas, surpreendendo aqueles que não a conhecem. Enquanto isso, a cidade deixa
de ser percebida como o único lugar de pessoas espertas e dotadas de um saber. Há uma oposição
afirmada no discurso. Cito, como exemplo, o pensamento expresso pelo primo do Chico Bento
em uma conversa entre eles, na história: “Nem tudo p o que parece”. A seguir, o desdobramento
do discurso na enunciação selecionada: “A gente tem muito a aprender com a natureza! E eu
pensava que quem vive na cidade é que era esperto! As coisas na roça também não são sempre o
que parecem, np, Chico?” (CHICO BENTO, 2013, n. 81, p. 53).
Outra perspectiva que desenvolve traços do discurso também percebidos nesse fragmento
tomado como enunciação é aquela que apresenta problematizações em torno das questões de
desenvolvimento, progresso, evolução. Esses termos são relacionados a problemas decorrentes de
um olhar duplicado que parte de uma questão central para o pensamento humanista moderno. O
humano em ação como sujeito instituinte do real divide-se e, por vias opostas ou
complementares, retorna ao mesmo ponto de partida, encerrando-se nele mesmo. Ou seja, os
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homens e mulheres precisam utilizar a natureza a seu favor para desenvolver as conquistas da
sociedade e, ao mesmo tempo, se conscientizar, evitar disperdícios, buscar o equilíbrio ambiental
e salvar a natureza para garantir que os recursos não sejam esgotados, além de impedir o
predomínio humano sobre outras formas de vida. Os humanos devem aprender com a natureza e
ser espertos o bastante para continuar no centro executando seus projetos de forma lógica,
sistemática, linear e contínua, sem limites, brechas - enfim, desconsiderando a possibilidade de
outras histórias possíveis. Sem história viva, sem interferências, sem catástrofes, sem desafios
capazes de deslocá-los e sem outras possibilidades de pensamento que apontem para diferenças.
Analisando por esse ângulo, o rural está constantemente envolvido pelo urbano como parte
indissociável e, nesse sentido, perguntamos que espaço há no discurso para considerarmos a
produção de diferenças naturais e culturais em torno das singularidades existentes entre a cidade
e o campo. Que conjunto de ações evidencia e potencializa a afirmação desses discursos que
classificam a natureza a partir dos usos que estabelecem para ela? Qual é a história efetiva que
movimenta e atualiza o discurso de natureza nas HQs do Chico Bento?
Quando a natureza é apresentada, surgem, nesse movimento, questões ambientais como
problema e, dentro desse cenário, a natureza aparece como objeto a ser salvo, sinalizando para a
necessidade de adotarmos um estilo de vida mais “natural”, capaz de freiar o modo de vida
frenético, muitas vezes caracterizado pelas peculiaridades da vida urbana. As cenas enunciativas
que se afiguram nas páginas dos gibis são constituídas por essas formas pré-estabelecidas de
reconhecimento, ou seja, somos ensinados a olhar para a natureza partindo desses problemas. Nas
HQs do Chico Bento, essa forma de conhecimento pré-estabelecida é claramente identificada. Ela
também pode ser vista em livros didáticos quando trazem assuntos sobre meio ambiente, em
jornais, revistas, programas de televisão, telejornais, enfim, em toda uma série de artefatos
culturais que direcionam nossa visão apresentando determinadas formas de compreender o que é
a Natureza e como devemos nos comportar diante dela (AMARAL, 2004; HENNING; GARRÉ;
VIEIRA, 2013). Nas histórias abaixo, podemos analisar enunciações e visibilidades que
demonstram esse discurso pré- estabecido.
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
Figura 1 - Chico Bento Na Cidade
Fonte: CHICO BENTO. São Paulo: Panini Comics, 2013. n. 75, p. 15.
Figura 2 - Chico Bento em professor por natureza
Fonte: CHICO BENTO. São Paulo: Panini Comics, 2013. n. 66, p. 28.
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PINHO JUNIOR, Sérgio Ronaldo; HENNING, Paula Corrêa; VIEIRA, Virgínia Tavares. A natureza entre o rural e o urbano:
educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
A imagem na HQ da figura 1 apresenta a cidade poluída com lixo jogado na calçada,
nuvens acinzentadas, escapamento de um ônibus emitindo fumaça poluente e as chaminés da
fábrica contaminando o ar com a liberação do vapor das máquinas. Chico Bento aparece logo em
seguida, com suas malas, retornando ao ambiente rural e decepcionado com o que viu na cidade.
Nessa enunciação, os aspectos de uma vida saudável - associada ao ar livre e puro, às árvores e
ao verde -, indicando um ideal de natureza, estão explícitos e expressam um olhar recorrente
orientado pela formação discursiva que dá sentido ao enunciado.
Com isso, compreende-se o enunciado da fabricação de um discurso de natureza a partir
das relações entre rural e urbano como parte constituinte de uma formação discursiva
determinada, contingente aos problemas que nos atravessam, apontando para peculiaridades que
são restritas, que denunciam e dão visibilidade aos fatos da realidade contemporânea. O material
empírico utilizado para sustentar esse enunciado expõe, de maneira concreta, a pertinência do
discurso de natureza como elemento potente na fabricação do olhar dos indíviduos para práticas
direcionadas
- no sentido de afirmar propostas que se vinculam diretamente à Educação
Ambiental. Portanto, tais práticas são atravessadas por um saber emergente no atual momento
histórico. Como Foucault (2013, p. 117) nos ensina:
A análise das formações dicursivas e de seus sistemas de positividade em relação ao
elemento do saber concerne somente a certas determinações dos acontecimentos
discursivos. Não se trata de constituir uma disciplina unitária que se substituiria a todas
essas outras descrições do discurso e os invalidaria em bloco. Trata-se, antes, de dar seu
lugar a diferentes tipos de análise já conhecidos, e frequentemente praticados há muito
tempo; de determinar seu nível de funcionamento e eficácia; de definir seus pontos de
aplicação; e de evitar finalmente as ilusões às quais eles podem dar lugar.
Dessa forma, procuramos analisar a enunciação extraída da figura nº 2, em que Chico
Bento e seu primo vão assistir a uma palestra - proferida por um professor ou cientista de jaleco
branco - sobre o meio ambiente e os cuidados para preservar a natureza. No dito do professor ou
cientista, a natureza é situada como um objeto dependente da ação humana e reduzida a interesses
humanos. A análise dessa situação permite identificar no discurso o momento de constituição e
reconhecimento do sujeito, visto que aqueles que leem são assujeitados, persuadidos a pensar e
olhar para o dito do cientista, a sentença capaz de enunciar a crítica e objetificar a ação diante do
natural. Esse movimento é demonstrado pelas seguintes enunciações retiradas dos ditos do
personagem: “Ao final, queremos algumas dicas de como conviver em paz com a natureza”
(CHICO BENTO, 2013, n. 66, p. 28); e, em seguida: “Todo esse equilíbrio depende do que a
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
gente faz... e blá, blá, blá” (CHICO BENTO, 2013, n. 66, p. 28). Aqui, transparece o discurso
fabricado, atualizando uma perspectiva cultural racionalista, transcedental, própria de uma
sensibilidade que procura definir de antemão o futuro e a preservação da espécie humana. De
acordo com Meyer (2008, p. 203),
[...] O ser vivo, por meio dos sentidos, interage com a natureza num fluxo contínuo de
vivências. No ser humano, a fala e a escrita são uma expressão viva e elaborada da
percepção e do pensamento, fracionando, dividindo, fragmentando o vivido. E ao
mencionar a natureza, comumente se afasta e se destingue, como se não fizesse parte
dela. O ser humano, posicionando-se no centro, refere-se à natureza como algo, coisa,
objeto ao seu redor .
Nas HQs sob análise, a natureza do caipira, do pequeno agricultor, do colono ou do
camponês, que podem ser também identificados como populações tradicionais, são reduzidas ao
estereótipo da figura de Chico Bento. Esse personagem é culturalmente idealizado pelo uso da
linguagem visual e escrita como um ingênuo que, ao expressar seus desconfortos, denuncia ações
humanas inconsequentes, inaceitáveis diante da bela natureza. Isso é traduzido em críticas ácidas
ao artificialismo que acompanha o avanço do desenvolvimento urbano, o uso das tecnologias e as
formas industrializadas que invadem o espaço rural, alterando os modos de vida “natural” dessas
localidades. O sítio é um dos espaços que dá visibilidade a essa crítica, visto que busca um
exemplo de natureza na rusticidade do mundo rural - em contraponto aos aspectos relacionados à
urbanidade.
Com isso, pretendemos dar a ver como há, nessas HQs, um discurso de natureza que se
articula a uma prática cultural moderna limitada a classificar, ordenar e restringir os fatos,
identificando-os a uma posição ou outra - nesse caso, atribuída ao espaço urbano ou rural.
Considerando esses discursos como estratégias de lutas e afirmação de verdades, os indivíduos
são tensionados a se fazerem sujeitos, a criar e agir no sentido de “salvar” a natureza. Enfatiza-se,
dessa forma, o entendimento de que a sociedade modernizada, urbanizada, parece não se
preocupar com a Educação Ambiental e com a preservação da natureza. Isso se evidencia na
seguinte enunciação, de Chico Bento (2009, n. 28, p. 36-37):
“É o tal do aquecimento global! O
clima da terra está mudando... onde fazia frio, está esquentando... E em alguns lugares, onde fazia
calor, está fazendo frio, tendo temporais... culpa do homem, que está acabando com as florestas,
com a água [...]”.
Assim, formas historicamente definidas de pensar são ensinadas por práticas culturais que
atravessam a sociedade e tem nos artefatos midiáticos um meio de criação e propagação: “[...]
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
essas operações se equacionam em torno de um possível sendo projetado e que, por conta dessa
função, pertencem a uma única dimensão. Trata-se, nessa projeção de possíveis, de um cálculo: o
cálculo de um outro olhar” (GOMES, 2003, p. 22).
Ao apresentarem determinadas ações idealizadas configurando maneiras de ser e estar no
mundo, essas enunciações expressam comportamentos díspares, muitas vezes desencontrados,
porém, definitivos na especificidade que caracteriza o problema como histórico e singular. Nesse
sentido, o enunciado de um discurso de natureza fabricado no limite das diferenças naturais e
culturais que separam o rural e o urbano apresenta características pedagógicas que provocam
efeitos, contribuem para a construção de sentidos e instituem verdades. Sendo assim, exercem
papel ativo na produção de significados sobre o que diz respeito à natureza. A enunciação a
seguir é um exemplo afirmativo do que está posto: “Num tem nada como o sussego da roça! Aqui
num tem as preocupação da cidade grande! Nada di correria, trânsito ingarrafado [...]” (CHICO
BENTO, 2011, n. 51, p. 14).
No contexto deste artigo, as enunciações potentes para analisar e sustentar o enunciado
proposto são parte do processo criativo e operam no ponto extremo da diferenciação que atualiza
a funcionalidade do enunciado no discurso de natureza. Para Foucault (2012, p. 116), “Descrever
uma formulação enquanto enunciado não consiste em analisar as relações entre o autor e o que
ele disse (ou quis dizer, ou disse sem querer), mas em determinar qual é a posição que pode e
deve ocupar todo indivíduo para ser seu sujeito”.
Nesse caso, é preciso estranhar as sensibilidades destacadas nas enunciações. Sobressaem-
se atitudes comprometidas com a valorização de uma natureza ruralizada como solução para
conflitos de todos os tipos, sinalizados no ambiente urbano - conforme lemos no presente dito:
“Como guarda florestal, estou longe de todos os problemas da cidade! Poluição, correria, falta de
tempo [...]” (ALMANAQUE DO CHICO BENTO, 2011, n. 30, p. 49). No contexto dessa
enunciação, o rural e o urbano são traduzidos, materializados na possibilidade de exercer a
profissão de guarda florestal como algo tranquilo, próximo da natureza e dos animais e na
adjetivação da cidade, definida pelos aspectos negativos a ela atribuídos. Esse olhar se
desenvolve, em parte, como uma nova funcionalidade do discurso de natureza constituído ao
longo da modernidade. A favor dessa perspectiva, nos apropriamos das contribuições de Isabel
Carvalho (2005), no que diz respeito a considerar o papel da natureza no contexto das novas
sensibilidades presentes nos discursos. Diante desse caminho, segundo a autora, é produzido um
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
imaginário ecológico, muitas vezes colocando a natureza como contraponto da vida urbana,
combinando uma visão arcádica com sentimentos românticos de contestação. Para Williams
(1989, p. 387), o campo e a cidade são realidades históricas,
No entanto, as ideias e imagens do campo e da cidade ainda conservam sua força
acentuada. Esta persistência é tão significativa quanto a grande variedade, social e
histórica, das idéias em si. O contraste entre campo e cidade é, de modo claro, umas das
principais maneiras de adquirirmos consciência de uma parte central de nossa
experiência e das crises de nossa sociedade.
Diante desses limites históricos e culturais que emergem na superfície dos problemas
apreendidos pela análise do discurso, os estudos culturais nos remetem à importância de
atentarmos para a dinâmica cultural não como uma identidade fixada, representativa, reprodutiva,
mas num viés pós-estruturalista, como formas que se tornam verdadeiras devido a serem
colocadas em funcionamento, produzindo acontecimentos. Como salienta Wortmann (2010),
partindo das proposições pós-estruturalistas, nos contituímos como sujeitos nas práticas, nas
produções e nas instituições culturais com as quais interagimos ao longo de nossas vidas. Assim,
a cultura não deve ser entendida apenas como extensão necessária da natureza e tampouco
implica reduzir o ambiente a um pano de fundo a serviço de um melhor entendimento do mundo
contemporâneo. Parece necessário compreendermos significados presentes nas práticas culturais
em confronto com narrativas que afirmam a coesão e a essência do que tem sido configurado
como natural. Segundo Wortmann (2010, p. 20),
[...] muitas dessas narrativas não apenas conferem um valor intrínseco ao chamado
mundo natural, mas, igualmente evocam a existência de uma força criadora que dele
emanaria. Já em outras narrativas voltadas a conferir importância à preservação, é
evocado, e até exacerbado, o medo das catástrofes, sendo possível dizer que essas atuam
na reorganização de certas visões utilitaristas acerca dos entes e seres do planeta, tão
presentes em formas modernas de pensar o mundo natural.
Dessa maneira, procuramos esclarecer como os termos urbano, rural e cultura se destacam
e sustentam uma análise mais criteriosa da fabricação do discurso de natureza empreendido neste
artigo. Ao urbano estão relacionadas as características implícitas ao processo de urbanização
desenvolvido na modernidade ocidental, bem como as formas de viver os problemas nele
contidos. Considerando essa definição do fenômeno urbano, algumas formas presentes no
discurso analisado corroboram e desdobram esse conhecimento, conforme a seguinte enunciação
retirada da história - Chico Bento em aquela saudade do sítio! (CHICO BENTO, 2009, n. 36, p.
50):
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
Que cara é essa, Chico?
Você não tá curtindo a cidade não?
Inté tô primo! Mais é qui quando eu oio tanta coisa colorida,
tanto movimento, tanta arrelia, eu só mi alembro do sítio!
Esse trecho do diálogo entre Chico Bento e seu primo acontece no meio de uma rua
movimentada da cidade e, em seguida, a diversidade de sons e confusões da cidade passam a
despertar em Chico Bento a saudade das coisas, animais e pessoas do sítio. Uma outra prática
cultural é afirmada a partir de elementos da natureza que persistem nas comparações - por
exemplo, uma “montoeira” de carros parados faz o personagem se lembrar das vacas no pasto
(CHICO BENTO, 2009, n. 36, p. 51). Tais diferenças culturais explícitas nos remetem a pensar o
que é o rural e, nesse sentido, o significado que atribuímos a esse termo no texto diz respeito às
práticas relativas ao cotidiano, ao modo de vida dos indivíduos que vivem no campo e tomam a
natureza como referência determinante para justificar suas ações e posições de sujeito. No caso
das HQs sob análise, a concepção de natureza vinculada ao rural está bastante identificada com
os aspectos assinalados por Meyer (2008, p. 101):
A integração do ser humano com a natureza fica bastante visível nas comunidades que,
afastadas e isoladas dos grandes centros urbanos, estabelecem uma relação de extrema
intimidade com o ambiente em que vivem. As tarefas e os rituais diários são regulados
pelo ritmo biológico e cultural do corpo e da vida em comunidade, em consonância com
o ritmo da Natureza.
Ainda acompanhando o pensamento da autora, Meyer (2008) sugere que a relação entre
natureza, cultura e corpos permite outras compreensões, envolvendo a perspectiva da constituição
de um ser humano integrado na natureza, colocando-a como sujeito, mãe, sobrenatural e
espiritual. Por isso, o conceito de cultura utilizado para este estudo é pensado como criação e
diferenciação de formas atravessadas pela contigência, pelo acontecimento, pela materialidade
das necessidades manifestadas no presente. Não há uma procupação em interpretar o significado
do discurso dentro de uma cultura homogênea, pré-existente, e sim pensar o que ele está
afirmando enquanto fabricado e atravessado por uma multiplicidade de práticas. Portanto, o
conceito de cultura passa por uma leitura não essencialista, relacionada à história do presente e
imersa em relações de poder dispersas que se encontram num contexto histórico dado, específico,
singular. Assim sendo, a relação entre as formas culturais vivenciadas no campo típicas da
realidade rural e as práticas urbanas características da vida na cidade são vistas enquanto
afirmadas por enunciações que demonstram uma idealização em torno de verdades sobre a
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
natureza. Potencializado pela emergência do campo do saber da Educação Ambiental, o sucesso
desse discurso de natureza nas HQs do Chico Bento permite afirmar a importância desse artefato
cultural, pois, de acordo com Wortmann (2010, p. 19),
Pode-se dizer que questões ambientais ganharam proeminência nos tempos atuais.
Então, pensá-las em uma perspectiva que atribui centralidade à cultura, se, por um lado,
não condiz com as proposições que veem a cultura como uma extensão necessária da
natureza, por outro não implica, apenas, considerar o ambiente como um pano de fundo
para proceder-se a um melhor entendimento do mundo contemporâneo.
Desse modo, o enunciado da fabricação de um discurso de natureza mostra o quanto a
linguagem dos quadrinhos procura trabalhar em sintonia com outras linguagens a partir de
estratégias pedagógicas. Uma característica importante nas condições de possibilidades que
produzem o olhar sobre a natureza é a relação estabelecida com os usos do tempo e do espaço
associados à noção de equilíbrio. Assim, algumas formas expressas nos ditos sobre a cidade,
retirados das HQs do Chico Bento, afirmam o desequilíbrio a partir da crítica aos ritmos e
espaços urbanos reservados à natureza, acenando para os benefícios da vida rural próxima às
árvores, ao verde, aos animais domesticados e num ritmo medido pelo tempo natural. “Ah!
Natureza!! Aqui, tenho ar puro, tranquilidade e paz!” (ALMANAQUE DO CHICO BENTO,
2011, n. 30, p. 49).
A posição demarcada por esse fragmento do discurso reverbera formas da compreensão
moderna de natureza, ou seja, imersa na polarização. Analisando o dito acima, a partir de
Carvalho (2012), consideramos que a sensibilidade expressa está baseada num ideal de natureza
entendida como reserva de bem, beleza e verdade. São decisivos os valores morais empreendidos
nesse posicionamento, pois os sujeitos desse discurso, ao enaltecerem o estilo de vida rural,
fazem-no demonstrando as distorções da vida na cidade e criticando as intervenções humanas na
natureza - o que também pode ser percebido na seguinte enunciação: “É que eu decidi dar um
tempo da loucura da cidade! Longe do ti titi! e junto da mãe Natureza!” (CHICO BENTO, 2011,
n. 57, p. 23).
Nesse sentido, há, no discurso de natureza das histórias em quadrinhos, verdades
afirmadas por outros discursos e pelo saber constitutivo da EA como um dispositivo no mundo
contemporâneo. Para Carvalho (2013, p.103),
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
[...] O ambiental passou a ser sinônimo de causas restritas, vinculadas às preocupações
com os desperdícios diversos, o esgotamento de matérias-primas, o aquecimento global e
as questões que envolvem os processos de degradação da natureza, em uma concepção
que parece interessar sobretudo aos interesses de manutenção dos atuais esquemas
produtivos, preocupados com o esgotamento futuro das diversas matérias primas que
utilizam para seus negócios de agora, e que desejam ver perpetuados para as próximas
gerações.
A partir do exercício desse olhar voltado para as HQs enquanto artefato cultural midiático
bastante produtivo, tomamos as enunciações que formam o enunciado apresentado nesse artigo
como efeitos de um discurso de Natureza recorrente na literatura moderna, atualizados por
saberes que fazem da Educação Ambiental um campo de saber cada vez mais presente na
sociedade e na cultura do mundo contemporâneo.
Considerações finais
O exercício analítico produzido neste texto voltou seu olhar para a análise do discurso de
natureza nas HQs do Chico Bento, entendendo-o como um artefato cultural midiático que educa e
produz formas de ser sujeito na atualidade. Colocamos sob suspeita as verdades que afirmam o
que é a natureza. Evidenciamos, dessa forma, as enunciações e visibilidades que dão
funcionalidade ao enunciado de uma natureza fabricada nos deslocamentos operados pelas
diferenças culturais entre as realidades rural e urbana. Assim, ao analisarmos as histórias em
quadrinhos, verificamos que elas passaram a ser entendidas como um artefato cultural que propõe
ações, identifica problemas e exerce um papel educativo. Por isso a importância de selecioná-las.
Conforme as temáticas apresentadas no conjunto de histórias selecionadas, vimos como são
críticos os sinais que definem os humanos na modernidade, urbanizada e civilizada, pois ele é
visto como um mau exemplo de conduta no trato com a natureza. Através da exaltação dos
modos de vida rural, aponta-se para uma ação correta frente a uma natureza machucada, ferida,
mal cuidada. Os cuidados com a natureza e a necessidade de uma EA se fazem indispensáveis
diante de um mundo urbanizado e desenvolvido cada vez mais visível. Percebemos que isso
transparece nas principais críticas do personagem Chico Bento aos percalços vividos na cidade.
Para finalizar esse artigo convém ressaltar que nosso propósito ao problematizar os ditos
e as visibilidades presentes no enunciado apresentado como parte do discurso de natureza
analisado nas HQs do Chico Bento é dar visibilidades a outros modos de pensar nosso trabalho
enquanto educadores ambientais. Talvez, provocar o pensamento pelo exercício da escrita seja
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educação ambiental e fabricação de um discurso nas HQs do Chico Bento.
uma das possíveis saídas que tenhamos para criar e despertar outros olhares e dizeres na seara da
Educação Ambiental.
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