A política de avaliação da produtividade acadêmica brasileira sob a ótica dos pesquisadores
uma meta-síntese
Palavras-chave:
Avaliação, Bakhtin, ProdutividadeResumo
A meta de publicar com frequência em revistas de excelência tem configurado a jornada exaustiva de muitos docentes. Esta meta-síntese tem como objetivo verificar como os pesquisadores brasileiros têm estudado o posicionamento de seus pares diante da política de avaliação da produtividade científica no país formulada pela CAPES e CNPQ. Esses órgãos adotam critérios de produtividade que balizam a avaliação dos programas de pós-graduação e de seus docentes. Foram localizados 46 artigos científicos, dos quais 4 foram utilizados para a meta-síntese. Os critérios de seleção e análise adotados partem da filosofia de linguagem de Bakhtin: criticidade, plurilinguismo, posicionamento ideológico, qualidade dos insights e contextualização sócio-histórica. Mesmo os poucos estudos que atenderam aos critérios citados priorizam metodologias que amparam-se na lógica de mensuração quantitativa, havendo insuficiente apropriação de aspectos históricos e das vozes, nas análises. Verificou-se que a política de avaliação não apenas avalia, mas fortalece e induz determinadas práticas de pesquisa. Ao não se problematizar o contexto e as vozes, corre-se o risco de se adotar posicionamentos funcionalistas, que legitimam enunciados já em evidência, naturalizando-se a realidade e comprometendo-se a concepção do sujeito como agente de transformação. Conclui-se que estudos que possuem como objeto as políticas de avaliação devem considerar a construção dos modos de subjetividade do pesquisador. Há aspectos pouco esclarecidos na literatura no que se refere à maneira como os critérios de avaliação interferem nas formas de subjetivação do pesquisador, e em como ele organiza e significa o seu fazer e a si mesmo.
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